23 de Janeiro, 2015
Hinata Shoyo não se esforçava em esconder sua angústia ao encarar Miwa enquanto segurava todos aqueles papéis amarelados em suas mãos. Ele não queria aquilo, não mesmo. Ele não queria reviver momentos que nunca voltariam, não queria nenhuma lembrança. Era torturante.
Um ano se passara desde que Hinata saiu do clube da Karasuno. Um ano desde que Hinata parou de passar na loja Sakanoshita para comprar os nikumans que comia com seu companheiro. Um ano desde a última vez que Hinata tocou numa bola de vôlei. Um ano desde que Kageyama Tobio morreu.
Hinata estava no terceiro ano do ensino médio. Suga, Daichi e Asahi, seus antigos veteranos, já estavam em suas respectivas faculdades. Tanaka e Shimizu estavam noivos, e Nishinoya estava por aí procurando uma merreca de dinheiro para conseguir viajar para a Itália. Ah, a Itália. Kageyama disse que queria jogar vôlei lá um dia, recordou Hinata quando ficou sabendo da novidade. Seus parceiros terceiranistas, Yamaguchi, Tsukishima e Yachi, entrariam na mesma universidade em alguns meses.
No vôlei, tudo continuava normal também. Os torneios de primavera, as disputas épicas. Oikawa tinha ido para a Argentina pouco tempo depois de Kageyama partir. Iwaizumi foi para os Estados Unidos, fazer algo que não lhe interessava. Kindaichi e Kunimi continuavam jogando, também. Todos seguiram em frente, menos Hinata.
— O que quer que eu faça com essas... cartas?
— Não sei. Não sabia que Tobio era do tipo que escrevia cartas. Não sei o que está escrito. Você era a única pessoa próxima dele, então acho que saiba tomar uma decisão melhor que eu.
— Você é a irmã dele, Miwa.
— Não é meu nome que está escrito como destinatário atrás de todas elas, Hinata.
...
Viro os papéis um por um, achando que a irmã de Kageyama estava fazendo alguma brincadeira de péssimo gosto comigo. Mas infelizmente, não estava. Todas, todas aquelas benditas cartas, estavam com a porra do meu nome atrás. Todas.
— Vou queimá-las. Já disse que não quero nada dele.
— Faça o que bem entender. Só te entreguei isso porque imaginei que ele gostaria de ter feito isso algum dia.
A última frase dela arranha a ferida infeccionada em meu coração que só abre mais e mais. Sinto vontade de desaparecer ali mesmo, de correr para a minha casa e pegar a primeira lâmina que eu achar e rasgar todo o meu corpo. Talvez assim eu encontre Kageyama mais rápido. Não a respondo. Viro de costas e caminho normalmente, como se não desse a mínima para aquilo tudo. Ignoro as lágrimas pesadas que descem pelo meu rosto sem a minha permissão, porque só quero chegar em casa.
...
Natsu está na casa da minha avó e minha mãe deve estar dando para algum homem por aí, então ficarei sozinho por uns dias. É minha chance. Acho alguns comprimidos de remédios avulsos na cozinha e engulo-os de uma vez só. Pego a lâmina que está na minha cama desde ontem e me sinto pronto para começar os trabalhos. Para me machucar. Para fazer com que toda a dor que eu sinta agora faça eu esquecer pelo menos um pouco de que o amor da minha vida não está mais do meu lado. Para que eu esqueça, por pelo menos alguns segundos, de que Kageyama se foi antes de eu dizer para ele que eu o amava.
Estou prestes a começar, quando encaro as cartas de novo. Acabei não queimando nenhuma. Não quero lê-las, mas não posso dizer que não estou com curiosidade. Eu dormi na casa de Kageyama várias vezes, e sempre via ele escrevendo, mas ele nunca deixava eu ler o que escrevia. Desisto de tentar me livrar da dor e pego as cartas. Se já estou no inferno, por que não me afundar mais nele?
Vejo que elas tem datas, então resolvo seguir a ordem. A primeira é de abril de 2012, quando tinha acabado de entrar na Karasuno. Seu envelope foi feito com uma folha de caderno. Na verdade, essa é a única que não tem destinatário. Abro o papel com cuidado e começo a ler.
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Todas As Cartas Que Escondi De Você [KageHina]
Fanfiction- O que quer que eu faça com essas... cartas? - Não sei. Não sabia que Tobio era do tipo que escrevia cartas. Não sei o que está escrito. Você era a única pessoa próxima dele, então acho que saiba tomar uma decisão melhor que eu. - Você é a irmã del...