Eien no eien (FANTASIA/DRAMA) PARTE 2

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Eterna para sempre

- Filha, acorda! Viemos te ver e trouxemos suas coisas. O médico deu alta e você vai voltar pra casa já já. - Disse mamãe, ela estava feliz.

-Sério? Eu não estava mais aguentando ficar aqui.- Respondi feliz, dava até pra ver o brilho nos meus olhos.

Por incrível que pareça, eu tinha esquecido do que aconteceu comigo, mas quando cheguei em casa e deitei na cama para descansar um pouco, horas depois de ter tomado banho e jantado em família, veio tudo a minha cabeça. Como se cada lembrança fossem balas. E essas balas, eu querendo ou não, estavam dispostas a entrar na minha cabeça. Lembrei de tudo, e, querendo ou não, estava naquele local novamente.
As asas apareceram antes mesmo dos meus pés tocarem a grama, num piscar de olhos, eu estava indo em direção à um dos portais, era, talvez, o maior deles. Na aterrisagem, caí de mal jeito e fui me embolando, fazendo meu pijama branco não ser mais branco. - Ai!!! - Levantei, limpei os ombros e depois os joelhos. Olhei pra cima e o portal tinha uma cor lilás, ou roxa, ou talvez a mistura dos dois, ou só roxa, ou lilás, sei lá. Só sei que era brilhante e parecia pulsar, ele também fazia um som estranho, mas era agradável de se escutar. Como sou curiosa, resolvi entrar para ver o que tinha do outro lado. Entrei.

Tudo estava branco, parecia uma enorme lanterna que brilhava em direção a mim, e no centro, tinha um velho senhor vindo em direção à mim, ele usava um sobretudo branco. Parecia ser Deus.

- Quem é você? - Perguntei.

Ele não respondeu. O silêncio me incomodava.

- Quem é você? O que eu estou fazendo aqui? - Perguntei, só que desta vez quase gritando.

Enquanto eu perguntava, tentava olhar para o rosto dele, minhas mãos estavam acima das minhas sobrancelhas, porque o clarão estava forte. Maldita lanterna gigante.

A voz que tinha sussurrado meu nome no hospital, lembram? Ela surgiu.

- O sofrimento vai acabar. - Soa a voz.

- Que sofrimento? Quem é você? Me responda! - Perguntei novamente, assustada.

- Que surpresa te encontrar, Alice. Não esperava te ver aqui tão cedo. - E me questionou: - ''O tempero da vida são as surpresas, não é?!''

- NÃO. - Gritei. - Eu andei pensando nisso. O tempero da vida é a imaginação.

- Por quê, Alice? - Indagou a voz.

Neste momento eu gelei e fiquei com medo de responder. E quando meus olhos encheram de lágrimas, mesmo antes das lágrimas começarem a escorregar pelo meu rosto, da mesma forma que uma gota d'água escorrega pela janela, eu sorri. Sorri e respondi:

- Porque a imaginação te faz superar tudo, por mais ruim que seja o momento, por maior que seja seus problemas, é só você imaginar. Imaginar um mundo perfeito, sair da realidade e viver em sua imaginação. Da mesma forma que fiz antes de chegar ao hospital. - Minhas lágrimas começaram a cair. Não uma ou duas, várias. Várias como se não fossem parar mais. - Eu não tenho mãe, não tenho pai, não tenho amigos... Eu não tenho nada, nem sequer tenho uma flor ao lado da minha cama. Eu não tenho casa, nem estudo. Fui atropelada enquanto tentava correr do dono de um mercado, eu estava com fome e roubei algo para comer. ... nem sequer tem uma droga de janela ao lado da minha cama. Sou dona apenas desta imaginação que criei na minha cabeça. E quer saber onde estou neste exato momento? Em uma maca suja de sangue, em algum quarto escuro, nesta droga de hospital. Mas não devo me dar ao luxo de ficar triste, como se eu tivesse uma vida boa antes disto, eu mereci, a culpa sempre foi minha. E, com certeza, amanhã isto acaba, ninguém vai precisar esquentar a cabeça quando eu estiver com fome e precisar roubar. Ninguém!

- Por que amanhã, Alice? Pergunta o homem de branco, com cara desanimada e tris... POR DEUS! Por que eu ainda estou insistindo que tudo isso é real? É só uma imaginação que criei para me sentir melhor. Acabou! Afinal, eu não tenho mais braços, nem pernas e nem cabelo, como se fosse uma boneca quebrada que ninguém mais se importa. E amanhã... Amanhã um médico vai desligar a porcaria do aparelho que me mantém viva, por pena de mim, por ter certeza que mesmo se eu suportar à próxima cirurgia, vou sofrer mais do que já sofria.

Não gosto de despedidas, não gosto do cheiro podre deste quarto, não gosto do jeito que minha vida acabou. Fui aberta diversas vezes, perdendo parte por parte, como se eu fosse um lixo em que cães de rua abrem em algum lugar sujo da cidade em busca de comida, para se alimentar. Mas sou digna de ainda dizer ''Obrigada'' para duas coisas. Ao médico, que amanhã ia fazer o favor de desligar meu aparelho que me mantém viva, por ter desligado neste instante. E a minha imag... imagin [...]

[FIM]

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