UM

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Obito bufou ao abrir a porta de seu apartamento pela primeira vez depois de uma longa semana fora. Ele sabia que precisava urgentemente de um longo banho quente, uma refeição com gosto de comida de verdade e pelo menos 12 horas de sono em sua cama antes que pudesse pensar em assumir outra missão com sua equipe de demônios genin.

Ele sorriu para si mesmo, jogando a bolsa no chão e murmurando “Lar doce lar” para si mesmo, pensando em todas as formas e posições em que ficaria esparramado naquele sofá pelos próximos três ou quatro dias, saindo de casa apenas para o necessário (provavelmente teria que ir ao mercado e reportar a missão ao Hokage, mas poderia sonhar).

Foi quase fofo que ele pensasse que isso iria acontecer.

Mesmo sem seu time nas costas, ele sabia perfeitamente que uma bola de sol ambulante de seis anos chamada Naruto, que por sinal era muito barulhento (Ele se lembrou das semelhanças com Kushina) estaria atrás dele no momento em que ouvisse que Obito havia retornado de uma missão. O menino certamente estaria do lado de fora do apartamento, montando acampamento lá e implorando para que ele lhe ensinasse “alguns jutsu legais” até que Obito concordasse.

O filho de seu sensei podia ser um diabinho quando queria aprender algo novo e Obito dificilmente poderia dizer não para ele. Além disso, ele estava pensando que ensinar um jinchuuriki a fazer um jutsu de bola de fogo seria uma ideia (perigosa? divertida? inconsequente? maluca?) engraçada.

Aquela voz no fundo de sua mente, muito parecida com a voz de Kakashi, disse a ele que Kushina ainda iria chutar sua bunda daqui até a lua se o garoto colocasse fogo em qualquer coisa quando o pensamento de ensinar Naruto a colocar fogo em coisas passou por sua cabeça, mas Obito rapidamente ignorou, sempre valia a pena passar um tempo com o filho de Minato e Kushina.

Naruto sempre lembrava Obito de uma época muito simples, quando ele tinha pouco mais de quatro anos e tia Mikoto lhe ensinava sobre jutsus e sobre o Sharingan, sempre escondido dos olhos do chefe do clã, e quando ela colocava bandagens nas bochechas queimadas antes de voltar para a casa da avó. Sua tia Mikoto sempre esteve lá para ajudá-lo, mesmo depois de se casar com o tio Fugaku (e ele franzia a testa sempre que via Obito rondando a casa deles, sempre lembrando-lhe que ele era apenas uma ovelha negra do clã, um meio-Uchiha, um fracasso).

Tia Mikoto era o único elo que ele tinha com seu pai, foi ela quem lhe contou histórias sobre o homem da foto ao lado dele e como ele ficou feliz quando Obito nasceu e como ele fez planos sobre o quão grande seu filho seria para o clã, mesmo sendo meio-uchiha.

Mas a guerra foi cruel e tudo o que restou para Obito foi uma tia que logo construiu sua própria família, sua doce avó que não sabia todos os segredos do clã e fotos de pessoas que ele não lembrava de ter conhecido.

Naruto sempre lembraria Obito desses momentos e do quanto ele sentia falta de ser essa criança pequena com perninhas pequenas e que mal sabia fazer um selo com as mãos sendo ensinada por uma tia longe dos olhos dos outros. O menino foi incrivelmente bom em convencer Obito a lhe ensinar alguns jutsus (ele não ficou nem um pouco envergonhado por ser facilmente manipulado por uma criança de seis anos) e dava uma risada fofa quando conseguia fazer alguma coisa.

Além disso, o garoto logo entraria na Academia Ninja e aprenderia todas essas coisas em algum momento, Obito estava apenas se certificando de que ele não ficasse para trás. Sasuke já fazia esse jutsu quase melhor que Itachi, não deveria ser tão criminoso ensinar a mesma coisa a Naruto. Mas enquanto Naruto lembrava Obito de seus próprios bons momentos, Sasuke era um pequeno gremlin que sempre lembrava Obito de Kakashi quando eles eram crianças, sempre criticando Obito de alguma forma, especialmente se ele estava atrasado para alguma coisa e sempre, sempre mostrando a Obito o quão "talento natural", seu irmão era do clã...

Um pirralho.

(Obito o amava de qualquer maneira, afinal ele era filho da tia Mikoto).

Uma pequena vingança pelos velhos tempos não era tão ruim, Obito no fundo esperava que Naruto colocasse fogo em alguns dos dinossauros de borracha de Sasuke.

Naruto chegaria à sua porta com um enorme sorriso no rosto logo pela manhã se soubesse que Obito estava de volta à vila, mas isso não significava que ele não poderia aproveitar o silêncio e descansar pelo resto daquele dia.

Obito fechou a porta com o pé, murmurando um “olá” para as fotos antigas espalhadas pela sala como fantasmas olhando para ele enquanto ele arrancava o colete verde de seu corpo e o jogava descuidadamente no chão junto com suas sandálias e o resto de suas roupas. Ele se preocuparia com a bagunça da roupa suja e de sua bolsa mais tarde, neste momento ele precisava urgentemente de água quente nas costas e roupões confortáveis.

Ele quase podia rir tristemente ao olhar para as coisas espalhadas pelo chão do apartamento. Se sua avó ainda estivesse viva, ele teria tido as orelhas arrancadas pela bagunça. Se ele ainda estivesse morando com seu atualex-namoradomasaindaapaixonado , ele ouviria a voz de Kakashi olhando para ele com aqueles olhos levemente irritados por cima do livro, reclamando sobre o quão bagunceiro ele era ou como ele não poderia simplesmente deixar as coisas no caminho, sempre obrigando-o a pegar tudo.

Não se engane, Obito era bastante organizado. Uma das coisas incutidas em seu DNA, além da tendência à loucura do Sharingan (haha brincadeira), era a frieza do Uchiha (Obito tinha isso em momentos de necessidade!!) e a organização, mas Kakashi era extremamente mais metódico e organizado que ele (e isso era possível!). Obito às vezes tinha seu próprio caos para se lembrar de que era um ser humano e não uma máquina com olhos vermelhos estranhos e poderosos e gostava de dizer que se encontrava em sua própria bagunça organizada. Agora tudo o que ele tinha era o completo silêncio daquelas paredes brancas e os olhares críticos da mãe e da avó para as fotos espalhadas pelas paredes.

Quando Obito era criança, de todos os seus companheiros de brincadeira, sua avó sempre gostou mais de Kakashi, ele se perguntava se ela também gostaria dele como namorado de Obito (ela sempre falava sobre bisnetos com Obito quando Rin estava por perto, quase o matando de vergonha no processo).

Se ela gostaria dele quando ele preferia a ANBU do que ficar com Obito.

- "Não me olhe assim, vovó... Ele quem estragou tudo dessa vez, não eu." - Ele murmurou, como se esperasse que a velha sorridente com ele ainda um bebê nos braços lhe respondesse.

Obito balançou a cabeça e caminhou rapidamente até o banheiro, empurrando tudo o que ele quis dizer quando se tratava de seu relacionamento fracassado com Kakashi para o fundo de sua mente novamente. Ele levou meses para simplesmente não ficar com raiva, deprimido e com saudades de pensar no nome “Hatake” e em todas as lembranças que tinha deles naquele apartamento, ele não iria cair naquele ciclo novamente.

Obito estava bem sozinho (ele repetia isso para si mesmo todos os dias quando acordava com a cama vazia) , ele não precisava de alguém lhe dizendo o que fazer (ele sentia falta de Kakashi) e ele podia cuidar de si mesmo sem olhos incompatíveis dizendo ele o que fazer o tempo todo (ele odiava o silêncio da casa) .

Parecendo ouvir seus pensamentos, o som de um miado curioso encheu as paredes do banheiro antes de Obito entrar na banheira e um gato listrado laranja avançar elegantemente em direção a ele, enrolando-se preguiçosamente na perna de Obito enquanto o sino em sua coleira tilintava, como se quisesse dar as boas-vindas ao seu dono e lembrá-lo de que ele não estava tão sozinho.

- "Oi Tobi..." - Obito murmurou, pegando o gato e acariciando-o atrás da orelha - "Eu também senti sua falta, garotão... Como você está? Kushina e Naruto cuidaram de você?" - O gato ronronou no colo de Obito, aceitando preguiçosamente o carinho em sua cabeça enquanto se esticava em direção à mão de Obito antes de perceber a água na banheira e pular rapidamente, deitado enrolado na roupa usada que Obito havia deixado no chão.

Que gato covarde e preguiçoso ele é.

Ele sabe que seu uniforme jounin será preenchido com pêlo laranja e cheiro de gatos, mas ele não consegue se importar. Tobi é sua única companhia agora.

Bad ideia, right? [obikaka]Onde histórias criam vida. Descubra agora