𝙰𝙼𝙾𝚄𝚁 𝚒𝚍𝚒𝚘𝚝 - Joseph Descamps

Chapitre quatre

Os primeiros raios de sol acariciavam meu rosto. É mais um dia de aula, e mal posso esperar para descobrir as respostas dos acontecimentos de ontem. Decidi me arrumar para a escola, já que sempre busco causar uma boa impressão.
No caminho para a escola, encontrei Simone, que estava animada e perguntou: 'Você acha que o Descam vai aparecer hoje na escola?

— Para ser sincera, acho que sim. No entanto, mudando de assunto, você sabe quem é o garoto que deu o soco? Ele parecia ser bem mais velho que nós.

— Não o conheço, mas já o vi olhando algumas vezes para Michelè. Ficou interessada nele? Também o achei muito bonito. São os rapazes mais velhos que devemos olhar. — Disse Simone, que logo acrescentou que não tinha interesse no tal garoto e riu do seu próprio comentário.

— Não tenho interesse, apenas curiosidade. Ele parecia ser bem próximo dela. Talvez irmãos, primos ou até namorados. Não sei.—Falei, deixando escapar um ar de dúvida e curiosidade

Chegando no instituto, não vemos nem sombra
de Descam. Parece que realmente foi sério o que aconteceu. Avisto Michelè e vamos até ela.

— Bom dia, Michelè. Posso te fazer uma pergunta? — Falei, tentando não ser invasiva ou inconveniente.

— Bom dia. Pode perguntar sim. — Disse Michelè a Catherine.

— Quem era o garoto de ontem? O que bateu em Decam. Ele parecia ser mais velho.

— Era meu irmão. Ele disse para não comentar com ninguém que éramos irmãos, mas acho que depois disso ele vai me odiar. — Disse com uma voz entristecida.

— Não tenho irmãos, porém acho impossível que ele te odeie por algo que não foi sua culpa. — Lhe disse, tentando a reconfortar.

Ao olhar para trás, vejo Descam chegando com seus fiéis escudeiros, ou melhor, seus capachos. Usava um tapa-olho como pirata, dos contos falados quando criança. Apesar de perder um olho, sua aparência ainda continuava boa. Mesmo achando ele um completo idiota, não posso negar que seja bonito. Mas seus atos são horríveis.

Já estávamos na sala de aula e hoje seria aula da Senhora Giraud.

— Ei, Michelè. — sussurrei para Michelè, que estava sentado à minha frente.

— Oi, o que foi, Catherine? — Michelè respondeu sem olhar para trás, pois assim o Barba Azul perceberia que estávamos conversando.

— Que dia seu irmão vai ser mandado ao conselho? - perguntei a ele.

— Acredito que seja hoje. Na verdade, não sei. Ele não está falando comigo. — disse Michelè.

— Não acha que o Descam vai aprontar alguma coisa? Isso seria bem a cara dele. — perguntei.

— Não, acho que ele não vai ter mais coragem de se meter com o Jean Pierre. — falou com tom risonho, e apenas concordei.

A aula já tinha acabado e seria o horário da educação física, a pior das piores aulas! Odeio isso. Vou arrumar uma forma de não ir a essa aula. Já sei o que vou fazer, é complicado e perigoso. Vou me esconder dentro do banheiro masculino que fica no andar de baixo. Então me despeço das garotas dizendo que irei ao banheiro. Simone se oferece para ir junto comigo, mas digo que não precisa. Ao chegar na porta, penso se isso seria uma boa ideia, pois não estava afim de causar problemas, entretanto, não quero participar dessa aula. Reparo que vem algum garoto para o banheiro. Então entro e vou para a última cabine e tranco a porta. Escuto a porta bater e alguém entra em uma das cabines. Logo depois, escuto a porta bater mais vezes.

— Parece que você vai ao conselho, né? Agora você vai me pagar, seu idiota. — disse um garoto de voz conhecida.

— Ei, Descam! Não faz isso, é minha última oportunidade aqui. Se eu não for ao conselho, vou ser expulso. — falou o garoto.

— Agora já é tarde. — e escuto uma voz que era com certeza de meu primo, Dupin.

Escuto eles rirem e saírem batendo a porta com força, e o garoto que estava preso era o irmão de Michelè. Abri um pouco da porta para ter certeza que já tinha ido. E percebi que sim.

— Oi, é o Jean Pierre? Eu vou te ajudar a sair daqui, sou colega da sua irmã — falei.

— Oi, oi, me ajuda a sair, eu já estou atrasado para ir à reunião do conselho. Se não chegar a tempo, vou ser expulso da escola. — disse Jean Pierre.

— Se acalma, já estou tentando tirar a corda que amarraram. Você vai sair a tempo. — falei, mas nem estava conseguindo tirar, apenas tentei tranquilizá-lo.

— Já sei, você vai empurrar a porta para frente e vou puxar a corda que está amarrada. — disse ao garoto. Enfim, deu certo.

A porta não abriu por completo, só até a metade, e quando Jean Pierre foi passar, seu terno rasgou do lado. Oh, meu Deus, esse garoto não tem nem um pouco de sorte ao menos.

— Que merda, mas obrigado pela ajuda. Agora tenho que arrumar outro terno. — falou olhando seu terno rasgado.

— Tenho uma ideia, minha aula agora é de educação física, os ternos dos garotos estão no vestiário. Posso tentar pegar um para você e depois devolvo. — falei.

— Não acho uma boa ideia, mas também não posso chegar lá assim. Então, aceito. — concordou com minha ideia. Corri com Jean Pierre para o vestiário masculino, peguei um dos ternos e entreguei a ele, que correu para tentar chegar ao conselho.

[...]

— O coordenador notou que seu sobrinho parece não se importar em ser expulso, não é mesmo? Ele nunca sequer chegou ao conselho. — disse Barba Azul com um tom irônico.

— Pode ter havido algum imprevisto. Lembrem-se de como Jean Pierre é um excelente aluno, o melhor, podemos dizer, de toda a escola. Nunca se envolveu em brigas ou discussões.

— Concordo que ele seja um bom aluno e um rapaz de respeito. No entanto, não podemos esquecer que ele fez um garoto perder um olho. Parece que não se importa nem ao menos em comparecer ao conselho para explicar. - disse o professor, Herman.

Até que alguém bateu a porta, e rezei para que fosse Jean Pierre. Até que o diretor Jacquet disse que podia entrar, e era ele. Meu coração nunca ficou tão aliviado como agora.