Poison from the same vine

Capítulo 1

Potter estava voando em uma espécie de motocicleta trouxa encantada, um veículo que Voldemort lembrava de sua juventude ignóbil. Certa vez, o Orfanato de Wool recebeu suas rações de guerra semanais entregues por um homem sombrio e uniformizado, numa bicicleta dessas. 

Que típico Potter esfregar na cara de Voldemort todas as coisas trouxas em todas as oportunidades disponíveis. O próprio Voldemort não precisava de tal transporte, nem mesmo de uma vassoura; ele era o próprio vôo, um pedaço de flecha afiada no céu , perfurando as nuvens finas e insubstanciais e perseguindo infalivelmente seu alvo. Por mais gelada que estivesse sua carne ressuscitada, a frieza do ar que passava por ele naquela altitude não o deteve, nem o adiantado da hora. Voldemort podia ver bem através da escuridão parcial, visto que uma lua pesada, pesada e crescente iluminava a paisagem. Um lago cintilante passava abaixo deles, tão pequeno daquela altura quanto um espelho de mão oval, reflexivo e brilhante. Uma floresta escura eriçou-se abaixo deles como a espinha de um gato furioso, apenas para desaparecer atrás deles também.

Apesar da primitividade de sua máquina, Potter mergulhava e mergulhava com a agilidade de um apanhador, sua forma esbelta açoitada pelo vento da meia-noite. Um triângulo preto-azulado da noite apenas o escondeu parcialmente graças ao seu Feitiço de Desilusão danificado. 

Voldemort atirou feitiço após feitiço na motocicleta. Potter mudou de rumo repetidas vezes, tão habilmente quanto um falcão, mas um rastro de magia convenientemente iluminou seu caminho até a visão aumentada de Voldemort, um fio brilhante entrando e saindo das nuvens. Voldemort teria aplaudido a agilidade de Potter se a perseguição não o tivesse absorvido totalmente.

Por fim, um feitiço atingiu a bicicleta de Potter e a roda traseira explodiu. Voldemort, aproximando-se dele, ouviu o grito resultante de Potter. 

Atrás de Potter, Voldemort pôde discernir o formato volumoso do motor da moto. Talvez Potter não esperasse que Voldemort tivesse muito conhecimento da tecnologia trouxa, mas ele tinha. Sua Maldição Explosiva detonou o motor e, desta vez, o grito de Potter foi doloroso; talvez pedaços de metal da carcaça do motor tivessem penetrado em sua pele.

A bicicleta começou a cair. 

Em êxtase, Voldemort mergulhou atrás dele. Um sorriso faminto esticou seu rosto. Agora, agora, ele finalmente teria o garoto, se deliciaria com sua magia, tiraria sua vida – agora, agora, agora...

Um estrondo ecoou pelas pastagens abaixo. A grama branca iluminada pela lua, que parecia tão curta quanto o pelo de um leopardo da neve vista de cima, tornou-se áspera e na altura dos joelhos quando Voldemort desceu em direção a eles.

Ele pousou levemente sobre os pés descalços, sem medo da vegetação emaranhada abaixo dele. Sua imortalidade o tornou imune a ferimentos leves.

Curiosamente, havia ali os restos de um antigo mosteiro, misteriosamente abandonado, sem nenhuma habitação trouxa à vista por quilômetros. Detritos cercavam suas paredes em ruínas. Do lado de fora daqueles muros havia um jardim coberto de mato, de onde emanava a fumaça da bicicleta acidentada de Potter, flutuando amargamente na brisa. 

As narinas serpentinas de Voldemort se dilataram quando ele sentiu um cheiro de sangue. O sangue de Potter, que ele conseguia identificar apenas pelo cheiro, depois de todos esses anos caçando-o, deixando-o com cicatrizes e mutilando-o. A boca de Voldemort imediatamente se encheu de saliva. Ah, só o sangue de Potter poderia fazer isso com ele, deixá-lo com sede, deixá-lo tão ansioso – o sangue de Potter, que, devido ao ritual de ressurreição, era o próprio Voldemort. Cantava com um poder familiar, assim como as Horcruxes de Voldemort cantavam para ele quando ele estava perto. Uma ressonância. Uma música.