Capítulo - 6

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Parker

  Eu me apresento fazem sete anos, em frente a milhares de pessoas gritando a plenos pulmões. Eu tiro milhões de fotos todo tempo. Participo de premiações, e entrevistas o tempo todo... Mas nunca me senti tão observado assim.
Enquanto ensaiava nossa nova coreografia eu sentia, quase que fisicamente alguém me observando, me olhando profundamente, me enxergando além do que eu jamais senti. Na troca de posições, olhei de relance e vi de quem se tratava. A prima do Jan estava sentada no chão em frente a linha de dança.
Não era possível.
Continuei fazendo minha parte e meus olhos não podiam evitar ir na direção daquele olhar queimando minha pele. Ela não estava prestando atenção nos outros... Ela estava focada em mim! Um pouco desconcertado continuei a coreografia e no fim percebi que ela tinha sumido. Procurei pela sala e a encontrei tomando água. Sem pensar no que estava fazendo, fui até ela, e antes que eu a chamasse, ela se virou bruscamente batendo contra meu peito derramando um pouco de água na minha roupa já suada.
- Você chegou? ... hey.. oi.- Perguntei segurando em seus ombros pra ajudar ela a recuperar o equilíbrio. - Eu não sabia.
Ela era bem mais baixa que eu e com a nossa proximidade precisou olhar pra cima. Quando nossos olhares se encontraram, uma eletricidade estranha pairou entre nós. Alguns segundos se passaram e eu ainda estava com as mãos nela.
- Oi.. oi, Parker. - Ela se afastou um pouco de mim. - Estou aqui desde ontem.
- O tonto do seu primo não nos avisou.
- Cheguei no fim da tarde. Vocês todos estavam bem ocupados. -Ela me olhou nos olhos novamente. -Como você está?
- Estou bem... ocupado, mas estou bem.
Nossa interação nunca passou muito de cumprimentos e poucas palavras. E ainda era estranho pra mim ver como a priminha do meu melhor amigo, cresceu e virou uma mulher... uma mulher muito, muito linda. Ela tinha os cabelos grandes e lisos, o corpo escultural... a roupa que ela estava usando deixava muito pouco a imaginação. Um rosto lindo, com olhos grandes e expressivos, nariz fino e uma boca que... me era tão familiar. Será que me lembra a boca do Jan? Que estranho...
- Está gostando daqui? Está bem acomodada?
   Antes ela sempre desviava o olhar, ou abaixava a cabeça quando eu falava com ela, mas desde a última vez eu percebi que ela mantinha o olhar no meu quando me respondia.
- Estou sim, o lugar é incrível e já conheci algumas pessoas, inclusive alguns bailarinos. - Um cara alto, e bonito, se aproximou de onde estávamos e acenou pra ela.
- Sério? - Senti um incômodo... eu era melhor amigo do "irmão" mais velho dela. Natural ter um certo cuidado... certo?- Eu não sou seu primo, nem nada disso, mas cuidado tá? Esses caras estão malucos.
Ela me deu um sorriso, diferente de todos que já vi naquele rosto. Aquela era uma mulher ciente do efeito que causava.
- Eu escuto muito isso. Você também?
- Claro... eu me sinto responsável por você também.
Ela rolou os olhos e falou confiante..
- Não precisa se sentir responsável por mim Parker... eu já sou bem grandinha pra cuidar de mim mesma.
Eu tinha que falar alguma coisa... mas algo na atitude dela me fez ficar mudo. Eu não sabia lidar com a nova Yoonah. Ficamos nos encarando enquanto eu tomava um copo com água. Senti uma gota de suor escorrendo pelo meu queixo em direção ao meu pescoço, e os olhos dela acompanhando o trajeto com muito interesse.
- Você quer? - ofereci água pra ela, que retornou como de um transe.
Antes que ela respondesse Holder a chamou do outro lado da sala. Ela me olhou nos olhos mais uma vez, e saiu indo na direção dele.
Fiquei ali parado tentando entender o que tinha acabado de acontecer. Ela passou de " Olha que fofa a priminha do meu amigo." pra " Essa mulher está visivelmente interessada em mim."  Eu convivo com olhares de desejo, de mulheres, e até de alguns homens, pra saber quando alguém me olha assim. Mas por algum motivo ESSE olhar me deixou intrigado.
- E aí cara? - Taylor se serviu de água.
- Você viu que a Yoonah chegou?
- Sim ela esteve aqui na prática ontem. Porquê?
- Não sei... ela está tão diferente.
Nós dois olhamos na direção onde ela e Holder conversavam.
- Ela cresceu com certeza.
- Não é só isso... ela mudou.
- A gente cresce, a gente muda né imbecil?!- Ele me viu olhando mais do que devia, e deu um tapa na minha nuca. - HEY... tá maluco? Ali está fora dos limites meu colega. O Jan te mata.
- O quê? Nada haver... não é isso. Eu só fiquei... impressionado com a mudança dela só isso.
- Então moças, qual a conversa? - Jay se juntou a nós.
- Seu irmão aqui que tá afim de morrer? - Taylor falou, mas eu ainda estava olhando pra ela. Eles agora estavam treinando um passo de dança.
- Como é que é? - Jay buscou o foco do meu olhar, e eu senti outra tapa na minha nuca. - Você tá maluco??? Não cara... fora dos limites... quer morrer é?
- Foi o que eu falei.
- Calma vocês dois, mas que coisa. - falei exasperado.- Não é nada disso. É só... e não é com a gente que ele tem que se preocupar não viu. A priminha linda dele já conheceu os dançarinos. - os dois fizeram a mesma careta. - Pois é... esses poços infindáveis de tesão já colocaram os olhos nela. Acho que nós precisamos é ajudar ele a cuidar dela.
- Qual é?... que esse seja o papel dele eu tô até calado... ela é família e tal. - Jay falou.- Mas sendo o mais novo, e prova viva do que a pressão e a proibição causam... é melhor a gente deixar a menina em paz. Século vinte e um cara, as mulheres já sabem muito bem o que querem, e se ela quiser, não tem nenhum de nós sete que fique no caminho.
Nós olhamos novamente e ela estava gargalhando com algo que o Holder falou.
- É... eu vou cuidar de...do que eu tenho que cuidar.- Saí de perto deles e fui até o nosso diretor pra saber qual minha próxima parte. Me ocupei do meu trabalho, saí da sala de prática... lembrei que deixei meu telefone lá e voltei.
A sala já estava quase desocupada, somente eles dois e alguns assistentes permaneciam por lá. Peguei meu telefone em cima da mesa e não resisti a ficar observando o treino deles.
Holder dava instruções sobre postura, marcação, e ela automaticamente reproduzia. Seu corpo se movimentava certeira e com leveza, e eu não conseguia parar de olhar. Eles já tinha uma pequena coreografia pronta e os dois se moviam juntos como um só. Ela nasceu pra dançar.
- Você é ótima em sincronia Yoonah. - Holder falou. - Num corpo de baile isso é precioso. Pega rápido a coreografia, muito bom. Me mostra um pouco do seu free style agora.
Ela concordou e escolheu uma música no celular pra colocar no sistema de som.
Holder não me notou no fundo da sala e eu recuei ainda mais pra onde não tinha iluminação. Agora éramos só nós três na sala e as luzes estavam propositalmente nela.
Uma batida forte e sensual começou.
*(Unholy - Sam Smith)
  Ela começou a dançar como se estivesse sozinha... olhava pra o espelho como se o seu objeto de desejo estivesse dentro dele. Se ela tinha sincronia e disciplina antes... agora cada movimento acompanhava a batida. Era puro instinto, sensual e...familiar. Minha visão virou uma espécie de lupa, observando cada mínimo detalhe, claro que é porque eu também sou dançarino e é normal alguém dançando muito bem nos deixar fascinados... só por isso.
Percebi do meu esconderijo escuro que o telefone de Holder tocou e ele fez sinal pra ela de que iria atender lá fora. A música não tinha terminado, ela olhou para o espelho bem na minha direção, e voltou a dançar. Meu coração disparou com a possibilidade de ser pego, e em vez de dar uma desculpa qualquer e sair também. Continuei como um vouyer pervertido observando nas sombras. Aquela ânsia no estômago veio com força, a vontade de me juntar a ela e me mover junto, estava forte, igual a quando eu via a "Yo" dançar. Ela girou e deitou no chão, moveu o quadril como se eu... como se alguém, estivesse por baixo dela. Ela virou o corpo e sorriu levantando graciosa como se alguém a tivesse puxado pra cima, olhando para o espelho novamente, ela tocou os lábios e levou a mão pelo pescoço, descendo devagar... as duas mãos foram juntas para a lateral dos seios e se encontraram na barriga lisa e definida. Os olhos fechados e a boca em um 'O' sensual. Estava começando a ficar muito, muito quente naquela sala e eu precisava sair dali, dar um jeito naquele início de ereção e parar de babar na prima do meu amigo. Eu definitivamente precisava dar um jeito na minha vida. Eu nunca fiquei excitado de ver alguém dançando no meu ambiente profissional. Já fiquei com bailarinas antes, mas ali era trabalho. Eu nunca tinha feito isso. Comecei a me sentir desrespeitando o espaço pessoal dela. Antes que eu conseguisse pensar num plano de fuga, a porta se abriu e três pessoas entraram.
- Já acabou amiga? - Era uma das maquiadoras, na frente de dois rapazes.
- Acho que sim. Consegui ensaiar bem com Holder hoje.
Ele entrou nesse momento.
- Linda você é incrível. Amei nossa coreografia e seu solo...UAU... você leva jeito e tem muito futuro. Vou começar a pensar em como te usar nesses dias que você está aqui. - Ele colocou as mãos na cintura e a avaliou de cima a baixo, como fazia conosco quando queria nos desafiar.
- Nossa que bom... é um alívio.
Ela estava animada e com os olhos brilhando de excitação.
- Então podemos ir? - Um dos caras perguntou. - Os outros estão esperando no lago.
- Vamos sim. - respondeu animada.
Holder foi embora e os quatro foram juntos em direção a saída. Era minha chance. Ninguém saberia desse meu lapso... que não voltaria a acontecer. Quase saindo, Yoonah voltou pra pegar o celular que estava no chão, quando chegou na porta novamente parou de costas, olhou por cima do ombro e falou em voz baixa:
- O que você achou?
Meu coração deu um salto e não senti mais o chão. Ela sabia que eu estava ali, não tinha mais ninguém na sala além de nós dois. E agora? Eu nunca me senti tão nervoso e desconcertado. Não tinha o que fazer.
Que se dane! Eu a vi dançar e adorei cada minuto da minha pequena infração. Só tinha uma coisa a ser feita ...
- Foi perfeito!

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