capítulo 7

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Parker

Dizer que os próximos dias foram estranhos é um eufemismo. Eu me senti mal o tempo todo por estar fazendo isso. Mas era involuntário... onde ela estivesse, era lá que meu olhar estava. Seguindo, acompanhando cada movimento dela. Tentei não dar tanta bandeira, principalmente perto do Jan, ele já me conhecia a tanto tempo, que ia perceber o tanto que eu estava observando a prima dele. Mas eu não conseguia parar. Era mais forte que eu.
Ela também me observava. Nossos olhares se cruzavam diversas vezes e minha infração de dois dias atrás permanecia como um segredo só nosso. Era estranho, errado, mas estava se tornando muito excitante.
Eu pensei na dança dela naquele dia e mais uma vez a famíliaridade era imensa. Era como se eu já tivesse visto ela dançar sozinha daquele jeito, a reação do meu corpo a ela foi famíliar. Era isso, eu estava fora da minha maldita mente esses dias.
...
Nós tínhamos nosso primeiro grande concerto online em algumas semanas, e Holder viu a oportunidade de convidar ela pro corpo de baile. Isso nos fazia estar quase o tempo todo dentro da mesma sala. Então mesmo que eu não quisesse, ela estava sempre no meu campo de visão. Yoonah era incrível. Alegre, magnética, fazia com que todos ao redor prestassem atenção quando queria. E eu estava me tornando seu mais assíduo espectador.

Estava tomando café da manhã na cozinha, curtindo o silêncio das primeiras horas do dia antes que eles chegassem trazendo junto nosso caos habitual. A noite foi uma droga mais uma vez. Revirei na cama pensando em como dar um jeito nesse problema... eu não queria ser o cara esquisito que fica o tempo todo observando uma garota. E ainda mais em se tratando DESSA garota específica. Mas essa noite eu fechava meus olhos e ela estava lá, passando as mãos pelo corpo me fazendo babar como um adolescente tarado.
- Eu não sei, mas vamos dando um jeito. - Jon e Yan entraram na cozinha conversando e me cumprimentaram. - O que aconteceu amigo? Caiu da cama foi... você está um lixo.
Me limitei a continuar meu cereal e dar de ombros.
Os outros foram chegando e logo a cozinha estava repleta de conversas paralelas.
-... já falei com a Yoonah... - a menção do nome dela me fez voltar minha atenção pra uma conversa específica. - Ela concordou e está bem animada.
- Certo, ela me falou também.
- Essa menina tem futuro Jan, é um dom natural. Ela pode ficar com a gente até às oportunidades irem se apresentando.
- Eu conversei com ela, é uma boa oportunidade sim. Vai com tudo, o que você decidir eu assino embaixo. - Jan me pediu o leite.
- Ótimo... hoje ela já vai integrar algumas coreografias e eu vou ver onde posso usá-la melhor.
- Por falar nela Jan, porque você nunca a chamou pra comer com a gente... ela é família.
Engasguei um pouco com a observação de Jon. Meu crescente interesse nela era tudo menos fraternal. E eu estava muito, muito confuso.
- Ela prefere ficar com os amigos no refeitório principal. Até chamei mas ela não quer nos "atrapalhar"... vocês sabem como as pessoas evitam entrar nessa nossa bolha. - Ele tinha razão. Vivendo juntos por tantos anos era fácil excluir qualquer pessoa das nossas conversas.
- Parker está tão calado. - Jay nunca me deixava quieto quando eu precisava. - Caiu da cama filhinho?
Só concordei em silêncio, muito concentrado na minha tigela de cereal.
- Fala alguma coisa se não eu vou atirar esse pão em você... para com isso, tá me assustando.
- Me deixa cara...- levantei os olhos e todos olhavam pra mim. - O quê?
- Está tudo bem amigo? - Jan colocou a mão no meu ombro como fez tantas vezes.
Não... não está... eu estou me sentindo um merda de um amigo por estar secando sua priminha....
- Tudo irmão, só não dormi bem e tenho muita coisa pra fazer hoje. Estou economizando energia. - levantei e coloquei meu prato na pia. Virei e ainda era o alvo de todos os olhares. - Estou bem pessoal é sério. Vocês não tem o que fazer não é? Eu vou trabalhar.
Saí apressado louco pra me livrar daquela especulação toda. Eu amo aqueles seis, mas as vezes... é sufocante ser amado por eles.
Meu dia passou como um borrão. Vários compromissos levaram a tensão embora e logo chegou a hora da prática.
Jay estava ensaiando a música solo dele quando eu cheguei. Fiquei admirando sua performance perfeita, ele é incrível. É absurdo a voz, dança e a sensualidade desse garoto. Todos pareciam pensar o mesmo que eu. Ninguém respirava quando ele chegou no ápice da apresentação, e aplaudir o final foi inevitável. Ele sorriu tímido, e cumprimentou todos antes de vir falar comigo.
- E aí cara?
- Oi e aí? Você tá cada dia melhor. - Entreguei uma garrafa e uma toalha pra ele.
- Quero que fique perfeito.
- Você é muito perfeccionista. Já está incrível.
- Sem a platéia gritando vai ser mais difícil ter um retorno de se está tudo perfeito mesmo. - Ele engoliu a garrafa de água inteira. -Isso tá me enlouquecendo.
- Calma irmão vai dar tudo certo.
- Seu solo é agora?
- Não, vamos ensaiar uma em grupo e depois sou eu. Holder me passou uma mensagem avisando que fez uns ajustes na coreografia.
Nesse momento fomos chamados pra formação inicial da música. Nossa sincronia estava perfeita como sempre. Fora um ou dois toques com o coreógrafo, correu tudo bem.
Minha visão percorreu a sala a procura de uma pessoa específica e lá estava ela... num canto conversando com Holder e mais dois bailarinos. Hoje ela estava com uma calça cinza e um top cor da pele. Era uma roupa normal pra uma dançarina, mas nunca pareceu tão sensual como nela. O cabelo estava preso em um rabo de cavalo que deixava todo aquele pescoço lindo a mostra. A idéia de correr meus lábios por toda extensão dele me veio forte na mente. Tão vívido que eu estremeçi.
Meu Deus do céu... o que está acontecendo comigo? Se controla Parker.
- Parker... Parker, Hey cara... vem aqui.
Acordei do meu devaneio com Holder me chamando.
Me aproximei deles tentando ignorar a corda invisível que me puxava.
- Oi gente. - Cumprimentei todos de forma profissional e genérica. Eu não podia dar tanta bandeira do meu desconforto de estar tão perto dela.
- Ajustei os pontos finais da sua música e adicionei alguns passos. A Yoonah vai fazer o dueto com você na segunda ponte...
Merda.
- Porque?
Os três me olharam e eu SENTI os olhos dela perfurando meu rosto.
- Como assim porque? Você nunca questionou minhas decisões antes. Você tá muito estranho eu heim?!
- Não... é que já tinha pegado a coreografia que você me passou, e... é, eu acho...
- Você não acha. Você observa e aprende rapidamente do jeito que sempre faz. Confia em mim. Sem público gritando um retorno pra gente, nós precisamos usar o máximo de tudo que pudermos pra encher os olhos nas apresentações. - Ele tinha razão, nunca questionei as escolhas de Holder, porque o cara é simplesmente incrível. - É só um adendo pra dar uma incrementada. Presta atenção.
Ele demonstrou os passos com ela. Tinha muita sensualidade e muito toque nos movimentos. Eu teria que girar, segurar, passar a mão por braço, cintura e terminar perigosamente olhando pra boca dela.
Ver ela dançando com Holder já mexeu comigo, eu não estava seguro de manter o controle pra assumir o lugar dele.
- Entendeu?
Saí do meu devaneio mas não consegui responder. Minha mente treinada assimilou cada passo. Mas a parte que estava fora do rumo, só pensava que aquilo ia ser demais pro meu corpo cheio de tesão acumulado.
- Sim eu... eu entendi.
- Ótimo, vamos treinar do começo da música e essa parte fica na segunda ponte.
Yoonah me olhou antes de se posicionar a minha direita. Começamos a música e tudo estava em perfeita ordem até que ela girou e parou em frente a mim... nossos corpos colados, e ela colocou a mão no meu pescoço. Tentei lembrar o que vinha depois, mas só consegui sentir o calor da mão dela na minha pele, o corpo encostado no meu e meu coração acelerando feito uma bomba prestes a explodir.
- Para, para, para... - Holder interrompeu na hora. - O que aconteceu Parker?
- Desculpa... - me afastei dela rapidamente. - Eu ainda estou lembrando dos passos... eu.
Ela me olhou nos olhos apreensiva. - Volta um pouco porfavor.
A música voltou ao mesmo ponto onde ela novamente se grudou em mim, colocou a mão no meu pescoço, e eu que precisava descer a mão pelo corpo dela dessa vez. Quando iniciei o contato, ela fechou os olhos e estremeceu um pouco. Foi demais. Mais uma vez eu não consigui ir adiante.
- Droga. - Holder me olhou bravo. Ele odiava quando nós errávamos o básico. - Isso não está funcionando. Me dá um minuto.
Fui tomar água pra acalmar um pouco minha agitação e antes de voltar senti uma mão pequena segurando meu braço.
- Qual é o problema Parker?
Uma Yoonah brava olhava diretamente nos meus olhos. Ela aprendeu direitinho com o mestre, senti a necessidade de proteger minhas partes sensíveis.
- Não tem problema, eu só não estou conseguindo encaixar a parte nova com o que eu já tinha ensaiado, só isso. - Tentei parecer relaxado e não um amador distraído por uma mulher bonita.
- Se for por minha causa eu troco com alguém, sem problema. Se você não quer dançar comigo é só falar. - Senti mágoa na voz dela. - Eu não quero te atrapalhar de jeito nenhum. Deixa eu falar com o Holder e ele coloca outra no meu lugar.
Meu Deus que idiota que eu sou. Na minha reação acabei passando a impressão que eu não queria dançar. Isso não podia estar mais longe da verdade.
Para com isso. Tá na hora de ser profissional seu idiota.
Antes que ela chegasse nele, segurei firme sua mão e nos posicionei no centro da formação. Ela me encarou confusa.
- Desculpa, agora vai dar certo. Confia em mim.- Ela sorriu e se colou em mim na posição exata.
A música recomeçou e eu tomei a frente em nos conduzir.
Nos encarando o tempo todo intensamente, cada movimento foi reproduzido de forma perfeita. Giros, mãos, olhares, tudo como tinha que ser. Quando acabou nós dois estávamos ofegantes, suados e não conseguiamos tirar os olhos um do outro. Ela estava linda, arfando, com as bochechas levemente coradas, e eu não conseguia parar de olhar pra ela.
- Ótimo... ótimo. Agora sim começamos a nos entender. -Holder falou nos tirando do nosso transe.
Ela sorriu pra mim, e eu perdi a completa noção de onde estava. Me vi fascinado naquela mulher e sem armas pra lutar contra isso.
- Eu quero que vocês achem um tempo pra treinar essa parte específica um pouco mais. Já está bom, mas vamos fazer essa música pegar fogo Parker.
Eu já estava nesse fogo e ele nem sequer imaginava.
- Ok ... quando?
- Não sei, vê a sua agenda e combina aí. Mas façam essa performance arrasar. - Ele deu a ordem e saiu já chamando todos que iam continuar o ensaio.
- Desculpa o início... eu não sei o que me deu.
- Eu sei. - Ela colocou as mãos na cintura e me olhou desafiante. - É porque sou eu não é?
- Como assim... não eu...
- Olha só Parker vou te dizer só uma vez e você me escuta bem. Eu não sou mais a priminha do Jan... aquela menininha inocente de trancinhas que você conheceu. Eu sou uma mulher crescida, dona do meu nariz e com um objetivo bem claro aqui. Vê se passa a me enxergar desse jeito pra gente poder trabalhar juntos.
- Eu...
Ela se aproximou de mim e colocou o dedo no meu peito
- Para com esse medo e esse respeito besta e seja profissional. Eu QUERO isso... então é bom você não ficar no meu caminho. - Estendeu a mão. - me dá seu telefone.
Eu não consegui não obedecer. Desbloqueei e entreguei pra ela.
- Faz o seu trabalho e eu vou fazer o meu. Meu número é esse. Me manda o horário do nosso ensaio que eu vou estar aqui.
Me deu as costas e saiu.
Fiquei lá, parado como um completo otário sem saber como reagir aquele furacão que me tirou do chão e me deixou cair sem nenhum tipo de aviso.

Mais tarde eu ainda estava inquieto, uma energia invisível correndo nas minhas veias. Joguei, comi, conversei, brinquei, bebi um pouco com Taylor e Jay... e nada me tirava o que Yoonah me falou, da cabeça.
Ela tinha razão. Eu precisava parar de vê-la como uma menina; meu corpo fervendo por ela já entendeu isso muito bem, faltava convencer meu cérebro a funcionar de acordo. Aproveitei ter ficado meio zonzo com as cervejas e criei coragem.
Peguei o telefone e abri a conversa no número dela.
Eu tinha que resolver isso e precisava ser agora.



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