CAPÍTULO 02

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  Foram trinta e cinco minutos da nossa parada anterior até a casa dos meus sogros. A rua era bem calma, diferente de onde moramos. Enquanto Yeosang manobrava o carro, caminhei até a pequena casa com azulejos claros, notando um casal mais velho bem na frente, acenando para nós. Aguardei alguns minutos e sang voltou, me dando mais confiança para ir até eles e finalmente seguindo em frente.

Observei de longe e eles pareciam bem agradáveis com nossa presença.

— Sienna, Yeosang, que bom que vieram, estou tão contente — Uma senhora de cabelos pretos e longos foi a primeira a cumprimentar. Não deixei de prestar atenção em como era parecida com meu noivo, principalmente o sorriso.

— O trânsito foi tranquilo? Soube que estavam em obra por onde vocês passam — Disse o homem ao lado dela e ele também me recordava um, me dando um visão de como ele poderia ser quando estivessem mais velho.

— Foi tudo bem pai, só demoramos pra chegar porque a sienna fez questão de comprar essas rosas pra senhora, mãe. — A mesma mulher de antes fez uma expressão de surpresa enquanto estendia os braços, entregando as rosas. Suas bochechas ganharam uma cor rosada e a medida que encarava as rosas, sorria, alegre.

Acho que ela tinha gostado. Pensei.

— São tão lindas — Seus dedos tocaram delicadamente uma das pétalas. Rosas e qualquer coisa da natureza sempre me dava a sensação de leveza e tranquilidade. O que sinceramente eu precisava. —  Muito obrigada Sienna, são as minhas favoritas, como sabia?

— Eu…eu acho que foi intuição, olhei para elas e achei que iria gostar. —  Discretamente, sobre meus ombros, olhei para sang e o vi sorrindo com os olhos, dando uma piscada sutil para mim enquanto concordava com a mãe que as rosas eram lindas.

— Muito adorável da sua parte. — Sua mão descansou sobre a minha e em um movimento lento, fez carinho em minha mão.

Sentir quando as mãos de Sang sorrateiramente procuraram pelas minhas, segurando-a e acariciando. Agora as batidas do meu coração começaram a se acalmar.

— Olhe o que trouxe, pai — Mostrou o vinho para o mais velho que puxou o óculos, assim como sang fazia às vezes, olhando para a garrafa.

— Parece ser muito bom.

— Sienna tem um olhar perfeito para vinhos também. —  Assim que disse, sentir todos olhando para mim.

—  Não deveríamos desperdiçar os esforços das crianças, não é querido? — Ela perguntou e o marido oscilou, confirmando.

— Vamos entrar — A mais velha segurou as rosas bem firmes, segurando a minha mão e guiando para as escadas da casa. — Podemos provar o vinho enquanto eu mostro umas fotos do Yeosang quando era bebê, você vai adorar, ele não mudou nada, continua com o rostinho de bebê.

— Sério? Agora quero ver. — Olhei para ele e dei uma piscada, caminhando mais na frente, ouvindo a sua mãe contar das peripécias que ele fazia quando criança.  Yeosang trouxe mais algumas coisas que havíamos comprado, sendo guiado pelo pai até a cozinha guardar as coisas e pegar as taças para provarmos do vinho.

Nesse meio período, estiquei meus pés descalços no chão quentinho.

— Achei os álbuns — Quando voltou, puxou um pequeno assento e se sentou ao meu lado, bem próximo a mesa de centro da casa. — Eu guardo muito bem essas fotos, sabe? Porque eu tenho medo de perdê-las e quando ficar mais velhas, esquecer os momentos que tive com o sang  — Abriu o primeiro algo de fotos, indicando um bebezinho deitado entre algumas almofadas. — Essa foi a primeira foto que tirei dele.

À medida que mostrava as fotos, dava para perceber que de fato Yeosang continuava com o mesmo rostinho de antes, apenas mais maduro e marcado, mas até mesmo o biquinho que costumava fazer para mim, era o mesmo. Quando ele e o pai voltaram, fez questão de servir seus pais e a mim, se juntando para a participar do momento.

Bebemos até o apenas risadas saírem de nós. Os pais de yeosang aparentavam ser mais novos do que eram, como também permitiam um diálogo mais informal nas conversas.  Continuamos conversando e após alguns minutos.

— Eu já tinha até comentado com o sang que fiquei chateada por conta que sempre que marcavam momentos como esse, para conhecer pessoalmente a noiva dele, alguma coisa acontecia. — Meu corpo gelou e nos primeiros instantes não soube o que falar, dando espaço para ela continuar. — Até cogitei que você não tinha gostado de mim e que eu ficaria sem conhecer alguém que faz tão bem ao meu filho.

Aquelas palavras fizeram com que eu me sentisse mal. Tudo era culpa minha e meu medo de vê-los pessoalmente e ser tudo tão desconfortável e ruim, o que até o atual momento tinha se mostrado ser totalmente o contrário.

Ajudei a reunir as fotos de família espalhadas pela mesa, pensando no que poderia falar.

— Saiba que em nenhum momento passou isso pela minha cabeça, pra ser sincera, eu tive que pedir para cancelar os jantares anteriores por medo. — Confessei. — Medo de vocês não gostarem de mim e o sang ficar triste com tudo isso.

Juntei um punhado de fotos e entreguei a ela, foi quando uma das suas mãos repousaram sobre as minhas.

Sempre ouvir de algumas pessoas que trabalhavam comigo e até do ciclo de amigos que tinha em comum que a ideia da mulher ser mais velha não era bem vista e por ter um olhar crítico, entendia que o fato de também ser estrangeira atraia os olhares mais velhos e consequentemente, poderia me afetar. Não era regra, mas um detalhe que acabava por acontecer. Ainda que não nos importassem com os desconhecidos, era diferente quando se tratava da família, tudo soava mais denso e sufocante. Muitas coisas se passaram na minha cabeça, assim como criei outras, tudo que me impedia de tomar uma atitude e parar de continuar fugindo.

— Oh minha querida, nunca pensamos nada disso de você, muito pelo contrário, sempre que via as fotos que você e o sang tiravam eu percebia o quão apaixonado meu filho estava e como você era a pessoa certa para ele.

Não deixei de me sentir encantada com o que ela tinha percebido e como era tão nítido o quanto eu e sang gostávamos um do outro.

— Você agora faz parte da nossa família e será amada por nós.

Apertamos a mão uma da outra, nos aproximando para um forte abraço. Sentia que eu estava precisando disso.

— O jant… —  Seguir o olhar para a voz que se aproximou e vi yeosang com um sorrisinho de orgulho nos lábios. —  Eu e o papai arrumamos as coisas, se quiserem se juntar estamos esperando

—  Já estamos indo —  Respondeu e dei uma discreta piscada para Yeosang que retornou para onde estava.

—  Agora que estamos cientes que não precisamos ter medo ou qualquer outra coisa, quero que venha mais vezes aqui com o sang, conversarmos mais e sermos mais amigas.

—  Eu adoraria. —  Ficamos de pé e assim que as fotos já estavam guardadas, nos reunimos na mesa para o jantar.

Comi em silêncio, observando a interação e me sentindo bem em estar ali.

Na sala de estar, sentamos ao redor da mesa enquanto meu sogro nos serviam um bom Soju.

—  Vocês planejam ter filhos futuramente? —  A pergunta por pouco me fez engasgar. Disfarcei sorrindo e tentei prestar atenção, sentindo por debaixo da mesa a mãozinha do meu noivo pressionar minha coxa.

—  A gente… —  Umedeci a boca, sentindo a bebida em cada canto dos meus lábios, Yeosang e eu nos olhamos. Filhos e futuro sempre foram tópicos que discutimos desde do começo do namoro mas que queríamos tomar a decisão no tempo certo, principalmente se tratando de bebês. 

Ele me acalmou, entrelaçando seus dedos aos meus e dizendo:

—  Vamos primeiro aproveitar nosso casamento e nossa vida como um casal mãe e pensaremos nisso quando for o momento certo pra nós. — Suas palavras soaram tão boas e certeiras como sentíamos em relação a isso que bastou para que finalizasse mudando de assunto. —  Falando em casamento, nunca pensei que fosse tão complexo.

Seus pais sorriram.

—  Complexo é apelido sang, mas é importante que seja memorável e especial pra vocês.

E seria.

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