𝟎𝟏

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Narcissa vagava pelas florestas da Virgínia com suas botas desgastadas pela longa viagem que percorrera até ali. O tempo estava nublado, e o céu cinzento parecia pesar sobre a densa folhagem. Cada passo que dava fazia com que galhos quebrassem sob seus pés, o som ecoando pelo ambiente silencioso. A brisa fria fazia com que arrepios percorressem sua pele, mas ela continuava em frente, determinada. Enquanto caminhava, seus pensamentos se voltavam ao passado. Ela se perguntava se deveria ter mandado uma carta perguntando ao amigo se podia lhe fazer uma visita. Seria melhor do que aparecer de repente, após tantos anos. Será que ele ainda se lembrava dela? As memórias dos momentos compartilhados voltavam à sua mente, mas agora pareciam distantes e quase irreais. O tempo havia passado tão depressa desde a última vez que se viram.

O bom de ser vampira não era ser imortal, pensou Cissy enquanto avançava pela floresta em direção a Forks. Ela adorava o fato de não cansar; podia correr e caminhar por horas a fio, sem sentir a exaustão que marcava a vida dos humanos. Seus sentidos aguçados permitiam que ela ouvisse o farfalhar distante de um coelho ou sentisse o cheiro fresco da chuva que se aproximava. No entanto, essa existência quase perfeita era manchada por uma sede intensa por sangue, uma necessidade insaciável que a perseguia constantemente. Se não fosse por essa sede, a vida imortal seria perfeita. Mas, do que adiantava viver eternamente se seria sempre fugindo? A vida que uma vez imaginara como liberdade absoluta tornara-se uma prisão de constantes movimentos e disfarces.

Cissy estava cansada. Não fisicamente, pois seu corpo vampírico nunca conhecia a fadiga, mas emocionalmente. Séculos de fuga e solidão haviam deixado marcas profundas. Ela precisava mudar, encontrar um novo propósito ou um refúgio onde pudesse finalmente descansar sua mente inquieta. O céu continuava nublado, as nuvens densas e pesadas refletindo seu estado de espírito. O caminho à sua frente era certo, Cissy sabia que precisava seguir em frente.

Forks era exatamente como Narcissa imaginava: uma cidadezinha úmida, silenciosa e misteriosa, o tipo de lugar em que ninguém coloca muita expectativa, mas que seria ideal para se ocultar por um bom tempo. Avançava pela floresta, seus passos silenciosos ecoando entre as árvores da floresta desconhecida, seguindo apenas seu sentido único para guiar o caminho.
Mesmo com a fome apertando seu estômago vazio, ela mantinha sua decisão de não caçar humanos naquela região. Era fundamental se quisesse agradá-lo. O sacrifício era grande, mas necessário. Não demorou para encontrar a casa. Era atemporal e graciosa, com aproximadamente cem anos. Pintada de um tom escuro desbotado, tinha três andares, era retangular e proporcional. As janelas e portas, se não faziam parte da estrutura original, eram uma restauração perfeita. A casa exalava uma aura de elegância desgastada pelo tempo.

Parada entre as árvores, Narcissa ficou à espreita, respirando fundo antes de avançar e bater na porta. Sentia-se estranhamente ansiosa, um sentimento que nem a imortalidade conseguira apagar completamente. Não demorou muito e Narcissa ouviu passos suaves se aproximando. Logo, a porta foi aberta, revelando uma mulher de altura mediana, de traços angelicais. Seu rosto era delicado em formato de coração, emoldurado por cabelos suavemente ondulados caramelos que caíam suavemente sobre os ombros. Seus olhos, de um mel profundo, refletiam tanto curiosidade quanto surpresa.

— Olá, posso ajudá-la? — O tom de voz, embora suave, deixava evidente sua surpresa ao ver a desconhecida. Seus olhos analisaram a figura de Narcissa de cima a baixo, com curiosidade.

Os trajes de Narcissa eram visivelmente desgastados pela longa jornada: uma calça jeans desbotada, uma blusa regata, botas surradas e sua inseparável jaqueta preta de couro. Cada peça de roupa contava uma história de viagens e aventuras, contrastando com a serenidade imaculada da mulher à sua frente.

Por um momento, houve um silêncio enquanto as duas se estudavam mutuamente. Narcissa, apesar da aparência desgrenhada, mantinha uma postura firme, seus olhos carmesins fixos nos da mulher. Sentiu um misto de alívio e apreensão ao perceber a receptividade no olhar da anfitriã.

𝐈𝐍𝐄𝐕𝐈𝐓𝐀́𝐕𝐄𝐋 | ʳᵒˢᵃˡᶦᵉ ʰᵃˡᵉOnde histórias criam vida. Descubra agora