Quando a gente anda sempre em frente,
não pode mesmo ir longe...
-O Pequeno Príncipe
Sam achava a cidade acolhedora.
Nem grande demais. Nem pequena demais. Perfeita.
-Acho que estamos perdendo tempo. – Dean comentou, de mau humor, enquanto batia a porta do carro.
-Vale a pena conferir. – Sam fez o mesmo e caminhou até a escadaria que imitava mármore.
As escadas levavam até uma biblioteca antiga. Não do tipo caindo aos pedaços, ela era claramente nova. Mas fora construída para parecer antiga.
Era aconchegante.
Essa cidade estava começando a fazer Sam se sentir em casa. Ou faria, caso sua cidade tivesse sido acolhedora.
Dean suspirou cansado, antes de arrumar a postura e entrarem na biblioteca. Imediatamente Sam sentiu o cheiro dos livros e não pode evitar de reparar nos quadros nas paredes. A maioria de paisagens aleatoriamente bonitas. Parou para analisar a pintura de um vaso de flores murchas ao lado da porta, enquanto Dean foi mostrar o distintivo ao recepcionista.
Hoje eram agentes do FBI.
Sam finalmente caminhou até o balcão, no exato momento em que Dean pedia informações sobre as vítimas.
-Tudo o que nós temos são as fichas de cadastro e a lista dos livros que eles pegaram. Não sei como isso seria útil ao FBI.
Dean me olhou, uma sobrancelha arqueada como se dissesse "eu também não sei como isso nos ajudaria".
-Se puder nos passar esses relatórios então, por favor. – Sam sorriu encantador, do jeito que ele mal percebia fazer.
O rapaz atrás do balcão suspirou cansado e confirmou com a cabeça.
-Vai levar uns minutos.
-Ótimo... – Dean revirou os olhos.
Sam ia agradecer, quando um barulho estrondoso soou perto deles.
Sam, Dean e o recepcionista se viraram em um pulo. Dean, por costume, levou a mão a pistola que mantinha na cintura.
Mas os três apenas se depararam com uma moça, de estatura baixa, cabelo cacheado e com uma expressão de quem havia visto um fantasma.
Acredite, Sam sabia como era essa expressão.
-Isis! – O recepcionista foi o primeiro a falar. – Que diabos...?
A garota estava com vários livros caídos ao seu redor, provavelmente livros que ela mesmo derrubou.
-Me de-desculpa...
Qualquer um perceberia a voz trêmula. Isis se abaixou para pegar os livros e Sam se apressou em sua direção, a ajudando.
Quando se aproximou, pode notar que as mãos da garota também tremiam.
-Você está bem?
A garota olhou Sam de relance uma vez, antes de voltar a olhar para baixo, se limitando apenas a acenar com a cabeça como resposta.
Sam ajudou Isis a empilhar os livros e, antes que a moça pudesse pegar a grande e pesada pilha novamente, Sam tomou a frente.
-Deixa que eu carrego para você. Onde vai levar?
-Não precisa, eu...
-Eu já te falei Isis. Use o carrinho! Vai acabar se matando. – A voz de Peter soou levemente irritada.
Isis revirou os olhos e Sam sorriu, uma covinha se destacando na bochecha esquerda.
-Eu sei, Peter. Sinto muito. Deixa que... deixa que eu carrego. – Isis estendeu as mãos em direção a Sam, ainda sem olhá-lo novamente.
-Me mostra onde deixo. – Sam insistiu.
A garota suspirou cansada e deixou os ombros caírem. Sam observou suas mãos descerem até o bolso do casaco, enquanto começava a caminhar para o meio da biblioteca.
Sam a seguiu, em silêncio. Isis se vestia discretamente, com roupas que Dean descreveria como sendo de uma senhora e andava encolhida, como se estivesse tentando desaparecer. Apesar do estilo, Sam duvidava que a garota teria mais do que 25 anos.
-Nos conhecemos de algum lugar? – Sam quebrou o silêncio.
Os passos de Isis vacilaram por alguns segundos. Sam percebeu.
-Por que pergunta isso?
-O jeito que nos olhou... parecia que viu um fantasma... ou então um conhecido indesejado.
Isis soltou uma risadinha forçada e negou com a cabeça.
-Pode deixar os livros aí.
Chegaram no primeiro andar da biblioteca, praticamente o porão, e entraram em uma sala que cheirava a cola e tabaco. Em uma breve olhada, Sam viu vários livros, a maioria manchados (de café, ele imaginou), outros rasgados, sem capa, embolorados...
Não muito diferentes da pilha que Sam deixou em cima do balcão.
-É aqui que vocês remendam os livros? – Sam se apoiou desleixadamente no balcão, fingindo observar ao redor, enquanto na verdade a sua atenção estava na moça curiosamente estranha.
Isis confirmou com a cabeça. Parecia desconfortável, as mãos ainda escondidas dentro do casaco. Ela parecia propositalmente ficar no canto mais distante de Sam.
-O que estão fazendo aqui na cidade? – Isis perguntou, novamente olhando Sam de relance, enquanto fingia olhar alguns livros.
-Soube das mortes que estão ocorrendo na cidade?
Mais uma vez, Isis se limitou a confirmar com a cabeça.
-Por que estariam investigando em uma biblioteca?
-Todos tinham um cartão de cadastro daqui.
Isis sorriu de canto.
-Acha que alguém está matando leitores? Isso é horrível, nossa espécie já está entrando em extinção.
Sam não conseguiu conter o sorriso.
-Você viu alguma coisa estranha por aqui?
Isis negou com a cabeça, finalmente olhando Sam nos olhos enquanto respondia.
-Esse é o lugar mais tranquilo da cidade. Acredite, ninguém aqui é assassino.
-Tudo bem. – Sam acenou com a cabeça. – Mas tem notado coisas estranhas por aqui?
-Tipo...?
-Hm... luzes piscando, barulhos como de roedores...
Dessa vez Isis quase soltou uma risada, mas teve medo disso escancarar todo seu nervosismo.
-Nós não temos problemas elétricos e nem com pragas, senhor.
Isis se desencostou da parede que estava apoiada, indicando que ia sair.
-Eu preciso voltar ao trabalho agora. Se me dá licença.
-Escuta. – Sam entrou na frente, bloqueando a passagem de Isis. Ela arregalou os olhos e tropeçou para trás, batendo as costas no balcão. – Calma, eu não vou te machucar. – Sam sabia que era alto e que as vezes podia amedrontar as pessoas, mas seu sorriso galanteador não equilibrava as coisas? – Se souber de alguma coisa, me liga.
Sam tirou um cartão do bolso e estendeu para Isis, obrigando-a a tirar a mão trêmula do bolso e pegar o pedaço de papel.
Observou atentamente o nome John McClane em letras cursivas.
-Ok...
-Bom, obrigado de qualquer forma. – Sam sorriu mais uma vez, antes de virar as costas e sair.
Quando Sam sumiu de vista, Isis sentiu que finalmente pôde respirar, se apoiando no balcão ao sentir as pernas trêmulas.
-Puta merda. – Ela murmurou e olhou o cartão de visitas mais uma vez. – Preciso ir embora daqui.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Biblioteca Assombrada
ParanormalEm um mundo onde o sobrenatural é real e o perigo espreita em cada esquina, a jovem bruxa Isis se encontra em uma encruzilhada. Ao cruzar caminhos com Sam e Dean Winchester, caçadores de monstros, ela se vê envolvida em um caso misterioso que a colo...