Creio que ele se aproveitou de uma
migração de pássaros selvagens
para fugir.
-O Pequeno Príncipe
Medo era a palavra que definia Isis.
Sentia medo o suficiente para ter pesadelos, dos normais.
Sonhou com o dia em que a avó morreu, ou melhor, foi morta. Por caçadores.
Também sonhou com Dean e Sam. Uma lembrança antiga, que ela já havia sonhado antes. Nela ouvia Dean dizer "matamos tudo o que não é humano. É o nosso trabalho". E quando Sam matou a mulher por quem estivera atraído, simplesmente porque era inumana, perigosa e precisava ser extinta.
Quando Isis acordou, sem sobressalto, suor ou tremores, só sentia tristeza. Toda vez era a mesma coisa. Ela se mudava, começava a fazer amigos e a se sentir feliz, então algo acontecia e ela precisava ir embora, de novo.
Desde que se entende por gente, a vida de Isis se baseia em fugir de caçadores. Na única vez que vacilaram, a avó foi morta friamente.
Suspirou cansada, colocando as pernas para fora da cama e olhou a mala de viagem que estava aberta no canto do quarto.
O relógio marcava exatamente 3:00am. Se as lendas humanas estivessem certas, esse seria o melhor horário para contatar a avó. Mas ela nunca antes havia respondido os chamados de Isis.
Isis pegou o celular, incapaz de voltar a dormir. Conferiu a passagem de trem que havia comprador para as 10:00.
Tudo já estava planejando.
Decidiu levantar-se para ir preparar um leite quente com açúcar e canela, como a sua avó fazia nos dias que Isis sentia medo. Nos dias em que as visões eram insuportáveis.
Caminhou descalça até a cozinha e pegou sua caneca favorita dos Beatles, colocou um pouco de leite e estava caminhando para pegar o açúcar quando sentiu uma pontada absurda de dor na cabeça.
Se curvou, a caneca caindo no chão com um som estridente, mas nem conseguiu chegar a sentir o liquidificado espirrar em suas pernas, porque a dor era tanta que fez Isis cambalear pela cozinha até cair de joelhos em cima da porcelana quebrada.
Sua mente era inundada por imagens aleatórias. Viu Dean e Sam, viu Margareth, sua própria avó, a fantasma ruiva. Tudo muito rápido e sem fazer sentido algum para Isis. Mas pior do que isso, Isis estava ouvindo, como se várias pessoas estivessem gritando ao seu redor, vozes que vinha de fora, não de dentro da sua mente.
A experiência deve ter durado apenas alguns segundos, mas para Isis pareceram horas. Quando tudo voltou a ficar em silêncio, Isis se viu caída no chão sujo, a visão ainda embaçada, pelo que agora ela reconheceu serem lágrimas, enquanto tentava se levantar.
Tentou ignorar os cacos de porcelana fincados em sua carne. Apenas se sentou de costas para a pia e chorou.
Essa, de longe, havia sido uma das suas piores experiências na vida. Ainda conseguia ouvir as vozes soando e uma dor latejando no fundo da sua cabeça.
Quando pensava estar tomando o controle...
Vovó sempre insistiu em dizer que ter essas habilidades era uma benção. Para Isis parecia mais uma maldição.
Por isso, ela chorou ainda mais, não pela dor, mas por raiva. Por raiva de sua família e de quem era. Sentia raiva por ter que carregar esse fardo, por viver sempre com medo, se escondendo e fugindo.
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Biblioteca Assombrada
ParanormalEm um mundo onde o sobrenatural é real e o perigo espreita em cada esquina, a jovem bruxa Isis se encontra em uma encruzilhada. Ao cruzar caminhos com Sam e Dean Winchester, caçadores de monstros, ela se vê envolvida em um caso misterioso que a colo...