O Tordo [MALEC]

A pessoa certa

O mundo não é algo simples, como preto no branco, ele é cheio de mudanças complexas e problemas complicados. Ele é cinza. E a vida em Panem não era nem um pouco simples, todos os problemas eram amplificados com a chance de morte eminente e a terrível consequência de deixar toda a sua família para trás, sozinhos, ainda tendo a sombra da morte os seguindo. Era um ciclo interminável de dor e sofrimento, e que tudo parecia ainda mais dolorido por vir de um distrito tão miserável quanto o 12. A vida de Alec não era fácil e muito menos era bonita.

Naquele momento os gritos de Alec preencheram o quarto na qual estava 'hospedado', os dedos dos jovens procurando desesperadamente algo para se agarrar no meio do ar. Sua mente pensava que suas mãos iriam agarrar Jace ou Isabelle os tirando daquele tormento interminável, porém quando seus olhos se abriram, conseguiu ver apenas uma verdade dolorida: aquele quarto não era o seu típico quarto na Costura, com as paredes de madeira e o som do fogo ao longe. As paredes daquele quarto eram de metal, o aquecimento era a gás, e a única coisa que ouvia era o som abafado das rodas do trem batendo nos trilhos. A verdade era que já estava a centenas de quilômetros de distância de sua casa e que provavelmente nunca veria a face dos seus irmãos novamente. Aquele trem era como um trem de vacas, levando os bois para o abate eminente.

Sinceramente odiava quando tinha pesadelos, os sonhos já eram em si uma parte desconfortável. Sonhar com os irmãos em uma situação assim não era nada reconfortante. Porém a sensação que ficava depois conseguia ser ainda pior, o amargor e secura que deixava na sua boca era um tanto quanto nojento. Tudo o irritava e incomodava. Infelizmente não havia o que fazer em relação aquilo, teria que engolir o que sentia e se levantar da cama.

Mesmo com o ar condicionado estando na temperatura mínima que era permitida, toda roupa de capa e até mesmo a roupa que Alec usava no corpo estavam encharcadas de suor. Nem mesmo na costura ele já havia acordado desse jeito. O calor no distrito no verão era quase agradável, o suor era pouco. Agora parecia que Alec havia caçado e corrido atrás de animais por mais de 3 horas sem um descanso. Havia conseguido até mesmo tirar o lençol da cama, e umedecendo até mesmo o colchão com o seu suor. Sabia que tinha que se levantar, mas não conseguia fazer isso.

Se as suas contas estivessem certas, e a sua intuição também, aquele era o último dia que teria ali no trem, e em menos de um mês estaria lutando na arena contra mais 23 tributos. E para piorar tudo aquilo, era um massacre quaternário, que o presidente sequer quis falar o que teria de diferencial. Então havia um novo método de tortura esperando na escondida, para fazer todos ali sofrerem mais. Não havia nada que o desse vontade de levantar, queria que a cama o sugasse e ele desaparecesse. Achava que estaria mais focado, com o ódio de vencer e voltar para a sua família, porém tudo o que sentia era o vazio. A inércia na qual fazia Alec não se mexer dominava qualquer outro sentimento rebelde que queria surgir dentro de si. E o jovem não tinha muita vontade de lutar contra isso.

Provavelmente já deveria ter amanhecido, já que uma luz fraca invadia o quarto em uma fresta da cortina. Era provável também que logo o chamariam para tomar café. Se fossem o forçar a sair daquele quarto, pelo menos deveria não parecer que não comeu nada nos últimos 4 dias. Se forçou a levantar da cama, o corpo deslizando para fora e sentando no chão, o chão gelado lhe deu um alívio contra o corpo quente. Aquilo lhe trouxe uma força maior para conseguir pelo menos fazer algo do que ficar ali vegetando na cama.