Contrastes

Prólogo

Suguru revirou os olhos pela décima vez naquela noite. Já estava mais do que exausto quando decidiu olhar seu relógio. Já haviam se passado três horas desde o final de seu expediente, como tinha se permitido passar do horário tanto assim? Arfou e balançou a cabeça levemente, tentando afastar a irritação que veio com aquele pensamento. Ainda mais porque, se fosse para ser sincero, fazia um bom tempo que não saía do trabalho no horário certo. Entendendo os pensamentos que inundaram sua cabeça de repente como uma deixa, o moreno decidiu que iria interromper seus afazeres diários e deixar o resto para depois. Arrumando seu material, guardou tudo em uma mochila e deu uma geral em seu escritório antes de finalmente dirigir-se à porta e sair rumo a seu apartamento, que ficava a poucas quadras dali.

O homem de cabelos tão escuros quanto a noite cursava design, estava em seu 5o período e tinha conseguido aquele estágio depois de muito, mas muito esforço aplicado em um processo seletivo que havia durado meses. Por isso, sabia que não podia se dar ao luxo de exigir demais. O cargo, apesar de ser um estágio, oferecia um bom salário e era uma ótima oportunidade de se introduzir no mercado e, quem sabe, ser efetivado. Geto sabia que, se dependesse apenas de sua dedicação e disciplina, ele definitivamente seria. Porém, em um suspiro cansado, resolveu afastar seus devaneios, pois também sabia muito bem que não era assim que as coisas funcionavam, por mais que ele desejasse imensamente que fosse.

Quando a porta de seu apartamento abriu, revelando-o finalmente o aconchego de seu lar, Suguru arfou de maneira aliviada e andou de maneira quase que arrastada até seu sofá, onde se jogou sem cerimônia. Céus, ele estava um caco. Pouco antes de desmaiar de exaustão ali mesmo, pensou que talvez ele devesse começar a traçar estratégias mais eficazes para lidar com aquele esgotamento tão profundo que vinha sentido nos últimos meses.

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Satoru estava sentado em frente ao espelho de seu camarim, removendo sua maquiagem de forma um tanto quanto calma para o estado de cansaço em que se encontrava. Havia acabado sua última performance há poucos minutos, portanto ainda estava com o figurino quase todo montado. Suspirou pesadamente com o pensamento de que livrar-se de toda aquela maquiagem que cobria seu rosto e das peças de roupa um tanto quanto complexas levaria mais tempo do que o albino gostaria. Pelo menos naquela noite ele havia sido o último a entrar no palco, o que significava que os outros dançarinos já tinham ido embora, deixando-o com o camarim todo para si. Satoru sorriu, em parte aliviado e em parte com uma certa melancolia.

Satoru Gojo trabalhava como dançarino e professor em uma boate de luxo/academia de dança e levava uma vida que, apesar de ser considerada um sonho para muitos, era extremamente solitária. Tinha pouquíssimos amigos, quase nenhum se fosse pra ser sincero. Por ter sido sempre muito só, o albino aprendeu a se virar muito cedo e, do alto de seus 28 anos, já morava e se sustentava completamente sozinho. Satoru havia rompido com sua família muito jovem, pois eram, em suas palavras, "aristocratas burgueses e conservadores". Ele nunca havia ornado ou concordado com aquele mundo em que seus pais viviam, por isso, decidiu partir e viver de sua própria maneira.

E lá estava ele: Cansado e solitário, mas extremamente satisfeito por poder ser quem ele realmente era. Se olhou no espelho antes de tirar os últimos resquícios de base de sua pele e, quando acabou, sorriu gentilmente para seu reflexo. Com todos os poréns, ele era feliz com a vida que levava.