Capítulo 1: O Reencontro

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João estava exausto. A viagem para o campus havia sido longa, e tudo o que ele queria era jogar a mala no chão e se jogar na cama de seu novo quarto. A faculdade representava uma nova fase, uma fuga da monotonia que o havia perseguido nos últimos anos. Mas, acima de tudo, ele estava ansioso para conhecer seu novo colega de quarto e se adaptar à vida universitária.

Enquanto subia os degraus do dormitório, seu coração batia mais rápido, mas ele não sabia ao certo o motivo. Talvez fosse a excitação do novo começo, ou talvez uma sensação de que algo estava para mudar.

Ao abrir a porta do quarto, encontrou alguém de costas, organizando algumas coisas na cama oposta. O som familiar da voz fez João parar na entrada, congelado. Ele conhecia aquela voz. Podia reconhecê-la em qualquer lugar, mesmo que já fizesse anos desde a última vez que a ouvira.

"Pedro?" ele sussurrou, sem acreditar nos próprios olhos.

A figura se virou lentamente, e o choque nos olhos de Pedro era evidente. Ele piscou várias vezes, como se não acreditasse no que estava vendo.

"João?" Pedro deixou cair um dos livros que segurava.

Por um momento, o quarto ficou silencioso, exceto pelo som abafado da queda do livro. Os dois se encararam, cada um perdido em seus próprios pensamentos, memórias e saudades que a distância havia silenciado, mas nunca apagado.

A mente de João voltou àquela última tarde juntos, há mais de três anos. A despedida no portão da casa de Pedro, com promessas de mensagens diárias e visitas mensais. Nada daquilo havia acontecido. As conversas se tornaram esporádicas até se transformarem em silêncio.

Ele achou que nunca mais o veria. Achou que aquele capítulo da sua vida estava encerrado.

"Você... está morando aqui?" perguntou Pedro, quebrando o silêncio, ainda tentando processar a situação.

"Eu... sim. Parece que somos colegas de quarto," respondeu João, ainda incrédulo, mas com um leve sorriso no canto dos lábios.

O destino, em uma jogada inesperada, os havia reunido.

Pedro soltou uma risada nervosa e balançou a cabeça, incrédulo. "O destino tem um senso de humor estranho, não é?"

João riu, mas por dentro, seu coração batia com força. Seria coincidência ou o destino estava lhes dando uma segunda chance? Por muito tempo, ele havia enterrado seus sentimentos, convencido de que jamais teria a oportunidade de explorá-los. Mas agora, Pedro estava ali, a poucos metros dele, tão real quanto antes.

Os dois passaram o resto do dia tentando disfarçar o desconforto inicial. Conversaram sobre a faculdade, as expectativas, mas nunca sobre o que realmente importava: o que eles eram antes, o que foram depois e, principalmente, o que sentiam um pelo outro.

À noite, deitado na cama, João olhou para o teto. Pedro já dormia, ou ao menos fingia estar dormindo. "Isso é mesmo um acaso?" ele se perguntou. Talvez o destino apenas estivesse esperando o momento certo para que eles finalmente enfrentassem o que sempre esteve ali, entre eles.

E talvez esse momento tivesse chegado.

Um Acaso?... ~ pejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora