Um Acaso?... ~ pejão

Capítulo 4: Entre Verdades e Coragem

Os dias que se seguiram à conversa no quintal foram uma montanha-russa de emoções para João. A proximidade com Pedro agora parecia diferente, como se uma porta tivesse sido aberta entre eles, mas ambos ainda estivessem tateando no escuro, tentando descobrir o que fazer com tudo aquilo que havia sido dito. As palavras trocadas naquela noite não resolveram as questões antigas, mas também não deixaram que elas voltassem a ser enterradas.

João se pegava observando Pedro mais do que antes. As pequenas coisas que ele fazia — o jeito que ele mexia nos cabelos ao estudar, o riso solto quando via algo engraçado, a forma como seus olhos brilhavam quando falava de algo que gostava — pareciam ainda mais evidentes agora. Era como se, ao reconhecer seus próprios sentimentos, João começasse a enxergar Pedro sob uma nova luz.

Por outro lado, Pedro continuava sendo Pedro. Havia momentos de leveza entre eles, mas também momentos de silêncio carregado, como se ambos soubessem que algo mais estava prestes a acontecer, mas ainda não sabiam como dar o próximo passo.

Numa tarde de sábado, Pedro sugeriu que saíssem para dar uma volta pela cidade. João concordou, querendo deixar de lado o peso que sentia no quarto, onde cada conversa parecia carregada de segundas intenções. Eles pegaram o ônibus para o centro, onde havia um parque enorme que ambos já haviam comentado visitar.

Ao chegarem lá, as árvores altas e os longos caminhos de terra criavam um ambiente tranquilo, quase como se estivessem fora do caos da cidade e do peso da faculdade. Caminharam lado a lado em silêncio por um tempo, até que Pedro sugeriu sentarem num banco, perto de um lago.

— Sabe, eu estava pensando — Pedro começou, a voz mais baixa, como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado. — Desde aquela conversa na festa… as coisas ficaram diferentes entre nós.

João assentiu, o coração batendo um pouco mais rápido ao ouvir aquilo. Sabia que Pedro estava tentando trazer de volta o que haviam deixado pendente.

— É, ficaram — ele admitiu. — Mas acho que era inevitável. Não dava mais pra gente fingir que nada estava acontecendo.

Pedro concordou com um leve aceno de cabeça, mas parecia hesitante, como se ainda houvesse algo que ele não conseguia dizer. João esperou, sabendo que Pedro precisava do tempo dele para encontrar as palavras certas.

— Eu fiquei pensando muito no que você disse, sobre ser mais do que a distância. — Pedro finalmente disse, olhando para o lago à frente. — E… a verdade é que, durante muito tempo, eu tentei ignorar isso. Ignorar o que eu sentia por você.

João prendeu a respiração. Ouvir aquilo, dito com tanta clareza, era algo que ele nunca imaginou que realmente aconteceria.

— Eu também — confessou João, sentindo um peso sair de seus ombros. — Tentei me convencer de que era só amizade, mas sempre teve algo a mais, né?

Pedro virou-se para ele, o olhar firme, mas vulnerável. Havia um silêncio entre eles, mas não era o mesmo silêncio incômodo que os perseguia antes. Agora, era um silêncio de entendimento, de aceitação.

— Eu não sei o que isso significa — Pedro disse, a voz mais suave. — Não sei o que a gente deve fazer com isso. Mas eu sei que não quero perder você de novo.

João sorriu, sentindo um calor espalhar-se em seu peito. Ele sabia que não havia respostas fáceis para o que eles estavam vivendo. Ainda tinham que descobrir o que esses sentimentos significavam, como navegariam isso juntos. Mas o mais importante era que, desta vez, estavam dispostos a tentar.

— A gente vai descobrir isso juntos — João respondeu, o olhar firme em Pedro. — Não precisa ser perfeito, só precisa ser real.

Pedro sorriu de volta, e naquele momento, sem precisar de mais palavras, João soube que estavam no mesmo caminho, pela primeira vez em muito tempo. Havia muito a ser explorado, conversado, vivido, mas o primeiro passo estava dado.

E isso, para João, já era o suficiente.

Quando começaram a caminhar de volta, lado a lado, uma brisa suave passava por eles, carregando a sensação de um novo começo. O que viria depois? Nenhum dos dois sabia ao certo, mas, pela primeira vez, estavam prontos para enfrentar o desconhecido — juntos.