A Bahia estava colorida graças proximidade do feriado mais aguardado pelos brasileiros, o carnaval. As ruas como de costume, cheias de turistas e vendedores assediando cada um que passasse. No centro comercial de Salvador, um enorme edifício empresarial destacava-se dos outros, com uma faixada que esbanjava riqueza e poder. No alto dele residia o escritório do maior empresário no ramo de laticínios do Brasil, Salomão Cerqueira, meu pai.
De dentro da sala do meu pai era possível notar uma certa agitação nos corredores após a minha chegada, muitos funcionários tentavam ouvir um pouco da conversa entre nós.
- E pela milésima vez, você não tem que fazer algo que não quer. A empresa é grande, temos bons aliados, não precisamos de um casamento forçado para criar um laço empresarial.
Naquele escritório, eu, Caio Cerqueira, sentia um calor que sufocava.
Apesar das cores coloridas e vibrantes lá fora, os móveis do escritório eram escuros e a madeira lembrava Carvalho envernizado. Tudo muito bem pensado para passar um ar de poder e superioridade que intimidasse. Oque funcionava muito bem, qualquer um que entrasse ali se sentia pequeno diante dele.
Meu pai estava nervoso de raiva, suas orelhas carregavam um vermelho tão forte que eu podia sentir a temperatura mesmo a quase um metro de distância. Tudo isso por causa do meu anúncio de noivado.
- Eu sei, pai - me levantei da cadeira em que estava sentado do outro lado da mesa. - Sei que estamos bem, mas podemos crescer mais rápido se eu me casar, mesmo esse não sendo o único motivo pelo qual pedi Melissa em casamento. E eu não estou fazendo algo que não quero, faço justamente por querer.
- Desde quando Melissa te faz bem? Vai se casar com alguém que já te fez tanto mal? - Ele gesticulava freneticamente, sinal de que realmente estava bravo.
- Não é pra tanto, eu a perdoei, o nosso relacionamento é bem mais do que isso e ela será uma boa esposa.
- Você está disposto a jogar o seu felizes para sempre no lixo, meu filho?
- Ninguém é feliz pra sempre ao lado de alguém, a morte é um dos inúmeros motivos que corroboram. Mas sim, estou disposto, ela é bonita e rica, não muito inteligente, mas basta para mim.
- E essa é a primeira vez que você me decepciona em 25 anos. Faça o que quiser, só não se arrependa depois.
- Me perdoe se minha felicidade te fere tanto assim, mas nenhuma vez me arrependi de algo que você me alertou. Então, não, não vou me arrepender - sério, peguei as chaves do carro na mesa. - Tchau, te vejo no casamento.
Me virei e caminhei em direção a porta, podia sentir seus olhos queimarem em minhas costas.
Saí daquele escritório com um nó na garganta, me angustiava ver meu pai daquele jeito, mas eu não podia desistir das minhas vontades só por acharem que eu não iria ser feliz.
Não era do tipo de ficar pensativo sobre as coisas, então quando cheguei na casa dos meus pais procurei uma passagem de volta para São Paulo, organizei minhas coisas, e à noite naquele mesmo dia eu já estava em casa.
Faziam anos que algo não reverberava minha mente, mas quando se tratava da minha família as coisas me pegavam mais no emocional. Então, quando cheguei em casa me permiti pensar mais um pouco sobre o que havia acontecido, ainda estava bravo pelo fato do meu pai me considerar ingênuo, eu não era incapaz de tomar decisões importantes. Alguém que me confiou uma empresa não devia duvidar das minhas escolhas. Eu sei que a minha noiva não é a melhor pessoa do mundo, mas eu também não sou.
Enquanto me afundava em pensamentos, quase não pude notar o toque frenético do meu celular, era um toque diferente dos outros, na verdade, o único diferente, o único que eu me sentia na obrigação de atender.