09 - sinal &... amigos?

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Pairando sobre o Refúgio dos Ancestrais, Neteyam observava a luminosidade intensa abaixo da superfície do recife, intrigado ao ver que aquela luz vinha mesmo da Árvore dos Espíritos, e não só isso, como ela também oscilava, em um padrão único. Também podia ver uma grande concentração de animais marinhos ao redor. Pouco após, Aonung emergiu com seu tsurak. A cara séria e preocupada dele não passou despercebida, o que aumentou a apreensão do Sully.

Decidindo agir, ele orientou seu ikran a voar mais baixo, se aproximando do amigo até uma distância onde a comunicação se tornava possível.

"O que tá acontecendo? Tem algo errado?" Teve de elevar um pouco a voz por conta da altura e o som das asas do ikran.

Aonung ficou em silêncio por um momento, seus olhos fixos na Árvore abaixo dele. A expressão pensativa dava indícios de que algo mais profundo passava por sua mente.

"Eu já vi isso antes," Ele finalmente respondeu, sua voz carregada. "Quando Kiri fez a ligação com a Árvore, e quando você foi devolvido pela Passagem das Almas." Seu olhar subiu ao Omatikaya, fazendo um gesto com a mão. "Precisamos informar a minha mãe, isso pode ser algum sinal de Eiwa."

Foi o suficiente para que Neteyam ficasse igualmente aflito, começando a ter diversos pensamentos. Mas antes que pudesse assimilar completamente aquilo, uma sensação de inquietação quase física o invadiu. Atordoado, ele escutou um grunhido incômodo de seu ikran e o deu atenção. Ele parecia bem, até começar a balançar a cabeça e em momentos perder estabilidade no vôo. Tinha algo errado, então Neteyam se segurou com mais firmeza.

"Kantu!" Chamou, tentando manter a calma enquanto o animal agia de forma estranha, ignorando completamente os comandos de seu cavaleiro. Ele chegou até mesmo a conferir duas vezes se estavam ligados pelo tsaheylu quando o receio aumentou.

"Neteyam, tá tudo bem aí!?"

Escutou Aonung, porém não conseguiu responder.

Subitamente foi levado para cima num ato ágil do ikran. Kantu mostrava sinais de agitação extrema, o mais assustador foi quando em certo ponto, bem lá no alto, ele começou a virar a cabeça e tentar morder Neteyam, como se não o reconhecesse, voltando ao estado selvagem.

Era uma verdadeira luta para ver quem estava no controle, a lealdade do animal não parecia existir naquele instante. A situação tornou-se ainda mais intensa quando o ikran, em um ataque de frenesi, deixou-se despencar alguns metros e então girou o corpo rapidamente para planar em seguida. A força do movimento surpresa foi o que causou o deslize das mãos de Neteyam, e sua queda.

Ainda pôde escutar o grito esganiçado do ikran quando seu corpo atingiu a água. Ele levou um segundo para que pudesse ver alguma coisa além das bolhas que o cercaram no mergulho, e seu olhar foi diretamente atraído para o fundo, onde Aonung também parecia lutar para manter o controle de seu tsurak. O animal se debatia e nadava velozmente pelos arredores, em círculos.

Quando Aonung percebeu que Neteyam estava na água, arregalou os olhos, e antes que pudesse avisá-lo, o tsurak seguiu agressivamente na direção dele, revelando os dentes afiados ao abrir a boca para atacá-lo, sentindo-se ameaçado.

Neteyam se assustou e tentou nadar para cima, sem ter tempo para qualquer outra reação, mas quando o animal estava bem em sua frente, sua visão foi borrada pela silhueta esverdeada em meio a outras diversas bolhas que apareceram. Preocupado com Aonung, ficou alí até ver que ele, corajosamente, havia pulado no focinho do tsurak, prendendo-o com os braços e com muito esforço, impedindo que ele abrisse a boca.

Pode ter evitado o ataque, no entanto isso fez com que o animal se irritasse e começasse a se debater freneticamente.

Em meio ao tumulto, Neteyam decidiu subir primeiro para recuperar o fôlego e assim pudesse se juntar à luta de Aonung, mas não conseguiu evitar que um rápido pensamento passasse por sua cabeça. Questionava sobre o que teria acontecido com Kantu e os animais marinhos da região, e a dúvida se estendia até a própria Grande Mãe, levantando a preocupação de que algo estivesse profundamente errado com a conexão vital que mantinham com a natureza.

𝗞𝗔'𝗟𝗢𝗡 | aonung × neteyamOnde histórias criam vida. Descubra agora