Cláusula terceira - mentir só quando necessário

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você sabe me puxar de volta quando estou fugindo, tentando escapar de amar você

Jimin está meticulosamente posicionado à mesa, seus cotovelos tranquilamente apoiados no móvel, pernas artisticamente cruzadas. Seu olhar penetrante parece transcender o espaço, focalizando em algum ponto distante enquanto segura com elegância uma xícara de café. Cada movimento é executado com uma precisão quase robótica, desde o levantar da xícara até o toque suave nos lábios, revelando uma coreografia de contemplação profunda.

É como vislumbrar um antigo filme francês e muito renomado, beira o caricato.

"Acordou dramático hoje, ele só está tomando café!", meu alfa rabugento surge em minha mente, me fazendo erguer os olhos para o teto e por pouco arquejar em desdém.

"Volta para o buraco de onde saiu", respondo com aspereza. Esse lobo vai me deixar louco a qualquer momento.

Voltando a minha contemplação, seu cabelo loiro está bagunçado, mas de um jeito atraente, infelizmente. O rosto está um pouco inchado, com marcas da coberta indicando que teve uma boa noite de sono, graças a mim, é claro.

Sua essência no momento está suave, e não há presença de feromônios no ambiente. Claramente, minha saúde mental agradece, o que essa combinação intensificada fez comigo madrugada adentro, não foi brincadeira. Nem sei como estou em pé, achei que depois do nó e da marca, íamos dormir tranquilamente, mas Jimin julgou que eu fosse uma torneira ambulante.

"E você adorou", meu alfa desdenha com seu sarcasmo pontual.

"Em que momento eu disse que não?", retruco entre os dentes.

Park Jimin é a porra do ômega mais gostoso que existe na face de todo o universo, esse filho da mãe sabe o que faz, até parecia que tinha o mapa de todos os meus pontos sensíveis; sabe como deixar um alfa fraco, esse crápula!

E a marca não sumiu. A marca que não deveria estar mais em seu lindo pescocinho, está reluzindo em direção aos meus olhos e meus instintos estão dizendo que devemos nos aproximar e depositar um beijo sobre os furos que meus dentes causaram.

"Isso o deixaria feliz e dengoso", meu lobo pontua e por breves segundos desejo ter nascido um beta para não lidar com essa maldita voz lupina em minha mente.

Ele realmente considera que eu vá beijar Park Jimin, o cão em pessoa, logo após acordar? Eu tenho que estar grato por ainda viver, e de momento, preciso entender o porquê da minha mordida ainda estar em seu pescoço.

Espere. Céus, não pode ser! Jimin está apegado a marca? Puta merda!

Estaria ele passando por uma crise de quase meia-idade? Onde acreditamos ferozmente que necessitamos, mais do que nunca, constituir família, a ponto de lágrimas caírem por nosso rosto? Mas que, graças ao universo, logo se dissipa e notamos que era apenas uma grande bagunça mental causada pela opressão da sociedade sobre nós, jovens adultos, metade lobos, que ainda não encontramos nosso par?

Também seria uma ótima resposta para o seu comportamento atípico com relação a mim noite passada. Se analisarmos bem, essa ideia parece até plausível.

Se for o caso, por favor, que seja — estar atrelado a alguém que me jogaria na frente de um caminhão de lixo sem pestanejar, não me parece uma experiência muito saudável —, logo irá desaparecer e podemos voltar a nossa rotina Tom e Jerry; é com essa que estou acostumado.

Eu o observo com maior atenção, refletindo sobre como uma única noite pode alterar completamente nossa dinâmica e meu coração acelera, hesitante diante da incerteza de como abordar nossa nova realidade.

Unidos pelo engano • pjm + jjk • aboOnde histórias criam vida. Descubra agora