seven. (lucy's version)

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Ela estava de pé antes mesmo do sol nascer.

Lucy não era dada às noites insones que tanto agradavam Susan e Edmund. Se ela estava tendo questões, ela poderia perfeitamente lidar com elas pela manhã.

Então, naquela manhã de um domingo sem importância, Lucy Pevensie abandonou o quarto que dividia com Susan, sua irmã de sono pesado, e caminhou para o fundo de sua casa modesta (muito pequena para reis e rainhas, mas que dava para o gasto para as quatro crianças de Helen Pevensie).

Porque era isso era o que ela era, agora; uma das crianças de Helen Pevensie. Ela era Lucy, que usava duas tranças nos cabelos e que era convidada o tempo inteiro para brincar de pique esconde.

Pelo menos pique esconde era divertido, Lucy pensava, sempre inclinada a tentar, mesmo quando seus ossos doíam e seu peito ardia, mesmo quando ela tinha tido vinte e três e agora, de repente, uma porta no meio do nada e seu reino abandonado, doze.

E Lucy, com uma vergonha desajeitada que tinha se desacostumado a ter, reparava que conseguia perfeitamente se sentir com doze anos, com todas suas glórias e misérias.

Lucy se sentou nos degraus de fora e observou o nascer do sol pálido da Inglaterra. Ela sorriu. Não era nada como Nárnia, mas não era ruim de tudo. Em um silêncio pouco característico, Lucy assistiu.

E, naqueles dias, Lucy sentia que o que mais fazia de sua vida era exatamente aquilo, assistir.

Não era a primeira vez, é claro, ela era uma filha mais nova. Ela tinha assistido Peter ser eleito monitor e Susan vencer competições de soletramento, ela tinha assistindo Edmund ser o primeiro de sua turma a aprender a ler. Então, ela tinha assistido Peter vencer sua primeira batalha contra os gigantes e Susan receber sua primeira proposta de casamento, ela tinha assistido Edmund partir em sua primeira visita diplomática.

Ela já tinha visto de tudo e nada era exatamente novidade (o que poderia ser, quando acontecia pela quarta vez?).

Negociações que deram errado e sequestros e paixões de baile que só duravam uma noite, o que quer que fosse, Lucy tinha visto.

Lucy adorava a animação. Ela adorava as histórias e as fofocas e as risadas, mas.

No fundo, Lucy sabia que assistia a seus irmãos como se estudasse para uma prova, aprendendo a ser.

Em um processo moroso, custoso, doloroso, Lucy entendeu que não precisava ser novidade. Ela não era a entrada triunfal de Peter nem sua glória no campo de batalha. Ela não era a beleza estonteante de Susan nem sua diplomacia graciosa. E com certeza ela não era a mente de Edmund nem sua sabedoria poderosa.

Lucy amava seus irmãos mais do que poderia dizer, mais do que o suficiente para passar todos os dias correndo atrás deles, seguindo Susan, abraçando Peter e, honestamente, aborrecendo Edmund com dez mil perguntas pessoais demais.

Eles ajudaram. Foi através de seus olhos atentos que Lucy percebeu, por fim, que ela era outras coisas. Ela era as visitas ao Sr. Tumnus e as corridas nos campos com as dríades. Ela era a confiança arduamente ganhada de um Anão Negro. Ela era as danças com os faunos e o interesse nos pequenos melindres dos narnianos.

A Rainha Lucy era um coração que sempre batia acelerado, selvagem, feliz.

Ela havia confiado em Aslam e esperado até se achar, sabendo o tempo inteiro que aquela espera demandava um outro tipo de força, um outro tipo de fé. Ela tinha aquela força, ela tinha aquela fé. Lucy esperou.

Ela correu com o povo da floresta e fez visitas ao Sr. Tumnus e conheceu sereias.

Seu cabelo cresceu e seu sorriso aumentou e as coisas aconteceram.

folklore. (narnia's version)Onde histórias criam vida. Descubra agora