Peter estava esfomeado.
Faminto com o tipo de fome que destrói reinados, queima plantações, quebra pontes com o mero punho.
Suas costas doíam. Inquieto, ele remexeu em alguns papéis, passou o olho em mapas e orçamentos, mas nada daquela preparação aquietava aquela besta agitada, o sacudir violento de seus pés, o tremor persistente em suas mãos (o que a acalmaria seria uma espada em suas mãos e o olhar longo, quase desesperançoso, que ele trocaria com ele, seus exércitos em lados diferentes de um campo verde que logo ficaria vermelho).
O que aconteceria seria inevitável; ondas contra pedras, as flechas de Susan indo ao encontro da carne, a fúria imortal de Edmund solta, o conteúdo rosado do cordial de Lucy pingando em bocas demais.
Ele não queria, não queria e não queria, mas agora era tarde demais.
Peter sentia que passara a maior parte de sua vida com fome; antes, no Quarto Vazio, ele se lembrava vagamente de uma fome quase vergonhosa (como ele se atrevia a sentir fome se toda sua família e suas fomes existiam); ele tinha fome de espaço e de ar limpo e do sorriso satisfeito de seus irmãos.
Quando ele correu pelos campos de Nárnia e sentiu o vento ao seu redor e quando uma batalha terminava e seus irmãos estavam sorrindo, seguros e felizes, Peter sentia que a fome amansava, mas que ainda estava ali, à espreita, esperando novo destino.
Peter, Grande Rei, ficou faminto pela paz de seu povo e pela felicidade de seus súditos e por boas colheitas e por batalhas justas, se fossem necessárias.
Mas agora...
Peter observava sua fome com o que era quase pavor.
O mar estava agitado, ele via pela janela de sua sala, na torre norte. Ele se perguntou onde Lucy estava naquela hora, se as náiades já sabiam da notícia que eles nunca queriam dar.
O sol estava quente demais, quase violento, seu calor anunciando uma tempestade cruel e Susan devia estar preparando seus arqueiros, uma trança apertada contendo seu cabelo, sua calma precisa que antecedia guerras anunciando aquela com firmeza.
E Edmund... Peter sabia, em cada um de seus ossos, que aquele tipo de vento feroz vindo do oeste só podia significar que seu irmão estava organizando seu exército, que estava afiando espadas que iriam reluzir quase dolorosamente.
E Peter sentia que aquilo era errado, que aquilo doía demais, que aquilo era ele sendo partido em dois de novo porque seus irmãos deviam estar aproveitando a paz em Nárnia, uma paz arduamente conquistada que ele tinha ajudado destruir de uma vez só.
Porque, havia algum tempo, Peter tinha sentido um outro tipo de fome.
Ela era uma ninfa. Uma dama da floresta, eles chamavam, e ela tinha nascido nos Bosques Ocidentais, o território de Nárnia que Aslam tinha confiado a Edmund. Sua pele podia parecer com troncos de árvores e podia se parecer com uma simples pele humana. Seu cabelo era o trançar delicado de cipós e balançava de um jeito quase suave em suas costas mesmo sem qualquer vento.
Ela era vaidosa e ela era gentil e Peter a conhecera na última noite da comissão de Telmar em Nárnia, quando eles organizaram um baile nos Bosques Ocidentais.
- Meu rei - ela tinha dito, uma suave reverência, e Peter tinha sentido que tinha bebido muito vinho, que tinha girado muito ao redor da fogueira, que tinha alguma coisa diferente no ar daquela noite.
Seus irmãos comentavam sobre eles sem qualquer disfarce, indiscretos daquele jeito que Susan repreenderia se não estivesse tão entretida, um sorriso que tinha alguma coisa parecida com orgulho em seus lábios enquanto os assistia.
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folklore. (narnia's version)
Fanfictionos quatro irmãos Pevensie em (taylor's version). ou os quatro irmãos Pevensie em quatro episódios em suas vidas.