08 de dezembro de 2013 - João Vitor
O dia amanheceu ensolarado.
Entendi isso como um bom sinal.
Hoje, graças a Deus, eu, Ana e Vitória vamos sair de férias em busca de um pouco de sossego. Quando Vitória disse que queria viajar, nunca disse que queria ir 'pra ficar longe da família, mas entendi que ela queria sair de perto dos pais 'pra poder ser livre junto com a Ana (namoradinha secreta dela desde o ensino fundamental) e, é claro, comigo (o amigo encalhado que nunca arranja ninguém).
Levantei e como de costume, fui em direção ao banheiro dando uma batida bem forte na porta do quarto da minha irmã - para fazer ela me levar até a casa da Ana, de onde pegaríamos o ônibus e partiríamos 'pra Santos.
- Acorda, preguiçosa! - gritei, correndo em direção ao banheiro para evitar apanhar. Os socos da Bela doíam mais do que muita coisa.
Tomei um banho decente e vesti uma roupa confortável: um moletom da Nike azul escuro e uma calça preta com listras. Coloquei um tênis da Adidas. Borrifei o primeiro perfume que encontrei (percebi mais tarde que era um dos que exalava cheiro de hétero - esse perfume é bom, mas não em mim).
Quando finalmente me sentei na mesa para tomar meu café de todo dia, senti um tapa na lateral da cabeça.
- Isso foi por gritar e sair correndo. - Bela disse, sentando-se ao meu lado.
Mamãe suspirou.
- Podem passar anos, mas vocês dois continuam agindo como duas crianças e não como estudantes regulares da faculdades.
Sua falsa expressão sofrida me fez olhar de canto para Bela. Ela também me olhou e explodimos em uma gargalhada que até papai rir.
- João, suas coisas já estão arrumadas? - Papai perguntou, erguendo a sobrancelha direita.
- Já, pai. Tudo empacotado e dentro do carro! - Respondi animado. E estava mesmo animado.
Em termos de viagem, essa seria minha primeira sozinha. Mamãe estava preocupada, mas eu disse que teríamos cuidado. Sei que ela não acreditou muito em mim porque eu vivo no mundo da lua, com meu mini caderno e um lápis, pensando em palavras que virariam frases que poderiam virar música algum dia (é sempre bom sonhar, né?). Por isso, Mamãe mandou uma mensagem para Ana e disse para ela cuidar de mim.
Ana passou mais de horas rindo de mim pelos textos do SMS (amiga ou inimiga?)
- Bem, se Jão terminou, podemos ir, hum? - Bela perguntou, largando sua xícara na pia e pegando as chaves do carro do papai.
- Podemos, Belinha. - Eu disse, levantando da cadeira. - Vou sentir saudades de vocês. - abracei mamãe e depois papais. Ambos me deram tchau e desejaram uma ótima viagem a mim e as meninas.
Bela e eu embarcamos no carro e fizemos um trajeto tranquilo até a casa da Ana.
Quando estacionou, Bela se virou 'pra mim com um olhar sério.
- Eu vou ser médica, João, mas não cuido de corações partidos. - ela disse. - Então - ela respirou fundo e pegou minha mão. -, não quero que se machuque, entendeu? Cuide bem desse coração porque ele guia você de todas as maneiras possíveis. - ela me abraçou e pressionei minha cabeça em seu ombro, fingindo que não soltei algumas lágrimas no processo. - E se alguém ousar machucar você, me avise, sim? Vou acabar com essa pessoa!
É, Bela era e sempre seria minha melhor amiga.
-
- Que bom que chegou intacto, Joãozinho! - Ana me recepcionou, abraçando-me forte. - Ficou tanto tempo dentro daquele carro que achei que a sua irmã não iria deixar você ir com a gente.
- Estávamos tendo uma conversa muito séria sobre corações partidos. - expliquei, retribuído o abraço e tirando os pés dela do chão.
Ana sempre foi minha confidente.
Nunca acreditei que encontraria alguém em quem confiar tanto, mas Ana me mostrou que alguns monstros podem ser superados (ou abraçados). E isso me deu uma inspiração tremenda 'pra alguns versos.
Ana, por ser minha confidente, é a única que conhece (junto com a Vitória, é claro, mas de uma forma mais profunda) a existência do meu caderno de anotações (cheio de gatinhos - presente da minha mãe, óbvio). Em vista disso, eu sou o único que além de saber sobre o relacionamento delas, sabe da voz absurda e das letras incríveis que ambas têm.
- Senti sua falta. - eu disse, soltando-a no chão e dando um leve sorriso.
Ana riu.
- E quem não sentiria? - debochou. - Senti sua falta também, pateta.
Parece que não nos vemos faz dias, mas nos vimos ontem.
Jantamos juntos, na verdade. Mas isso não vem ao caso.
A janta foi mais as duas de casal e eu sendo a vela de sempre (na faculdade também é assim).
Não reclamei. Sempre torci e vou torcer por elas, mesmo que o mundo não esteja do nosso lado.
- Vocês literalmente jantaram juntos ontem. - Vitória diz, me abraçando de lado. - Eu 'tava junto.
Rimos.
Revirei os olhos e o pai da Ana mandou que arrumássemos nossas coisas para ir até a rodoviária.
Quando embarcamos no carro, chegamos na rodoviária e entramos naquele ônibus, senti que algo ia mudar.
Só não imaginava que a culpa seria do meu primeiro (e único) amor.
A paixão mais alucinante e rápida que já vivi, que me ensinou que não vale a pena dar tudo de si para alguém se essa pessoa não estiver disposta a retribuir.
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Cruel Summer - Pejão
FanfictionNo verão de 2013, Pedro e João Vitor vivem um amor relâmpago.