07 - Travesseiro

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10 de dezembro de 2013 - João Vitor

A primeira coisa que notei quando acordei foi um travesseiro muito cheiroso ao meu lado. Apertei-o na intenção de dormir mais um pouco.

- 'Cê 'tá me apertando, João. - O travesseiro diz. Mas desde quando que travesseiro fala, João Vitor?

Abri os olhos, ainda agarrado ao meu travesseiro humano. Pedro me encara com os olhos ainda pequenos por conta do sono e um sorriso pequeno brilha em seu rosto.

Senti minhas bochechas queimarem pelo comentário e escondi meu rosto em seu pescoço.

- Não fica com vergonha, gatinho! Eu aceito ser eu travesseiro. - ele disse, colocando seu braço em minha cintura e dando um beliscão leve. Respirei fundo, inalando mais daquele perfume que dominava todos os meus sentidos.

Devo ter parecido um drogado cheirando cocaína por conta da forma como ele riu. E, sem brincadeira, o perfume dele é uma ótima droga.

- Você parece um gatinho amarelo, sabia? - ele disse, passando as mãos pelas minhas costas quando me aninhei mais nele. - Tem cara de atentado, gosta de carinho e se aninha desse jeitinho.

Revirei os olhos e levei outro beliscão na cintura. Desse vez revidei, acertando um tapa leve em seu peito. Para fazer mais um drama, ameacei me afastar do calor de Pedro, mas ele prontamente me prende entre seus braços e eu desisto.

- Pode ficar aí! - ele diz. - Daqui a pouco alguém bate na porta e a gente vai ter que sair daqui, então vamos aproveitar. - continua, me empurrando até eu me deitar de frente 'pra ele de novo.

- Eu nem me lembro como acabamos aqui. - lamentei, colocando minhas mãos em roda de seu pescoço e nuca, puxando os cabelinhos que estavam ali. Ele riu, baixando a cabeça para beijar meu pescoço.

- Estamos na casa da Ana ainda, naquele quarta que a gente 'tava antes de descer. - sua voz abafada chegou aos meus ouvidos e minha pele se arrepiou pelo contato. - Como nenhum de nós estava em condições de ir embora, Ana ofereceu estádia 'pra gente.

- Ah, entendi. - respondi.

Ele suspirou e largou o peso que até então era suportado pelos seus braços sobre mim. Soltei um gemido pelo baque, mas me acostumei. Coloquei meus braços em suas costas e deixei meus pensamentos rolarem soltos.

Nunca achei que uma festa - e uma viajem - poderia mudar - logo no final do ano -, tanto assim o "humor" do meu ano. A frase de Bela ainda passa pela minha cabeça sempre que olho para Pedro.

Não sei dizer se isso é bom ou ruim. Mas acho que não quero pensar nisso agora. Quero viver o momento com tudo que eu puder, então prefiro olhar para Pedro e lembrar do nossos infinitos beijos.

Senti Pedro se remexer em em cima de mim, ajustando a cabeça na curva do meu pescoço de maneira a ficar mais confortável. Apertei meus braços em volta dele, um pedido silenciosa para que o moreno ficasse mais um pouco, me transformando em um travesseiro.

Não consegui criar absolutamente nenhuma coragem 'pra sair daqui, de tão quentinho que está aqui. Sua pele quente está em contanto direto com a minha, que, nesse momento, parece mais um iceberg de 'tão fria. Sorri, achando esse contraste muito bem vindo.

Sempre que minha cabeça me faz lembrar da minha pele fria, penso no que minha mãe vivia dizendo: não há nada que esquente melhor do que alguém 'pra te abraçar. E isso é a mais pura verdade.

Claro, o frio que senti e sinto na minha pele se dá por conta da minha camisa e jaqueta jogadas no canto do quarto. Pedro também estava desnudo do quadril para cima, só com a calça que vestira ontem, mas mesmo desse modo, sua pele consegue ficar extremamente quente. Nunca entendi e nunca entenderei como pessoas como Pedro, que tem pele quente, conseguem continuar iguais uma fornalha mesmo sem sem muitas roupas no corpo.

- Seu coração bate rápido demais as vezes, sabia? - Pedro disse, interrompendo meu monólogo sobra a diferença da temperatura das nossas pele. - Acho que você é meio ansioso. - riu.

Dou um leve tapa em sua cabeça em forma de protesto.

- Deixa meu coração bater em paz, sim? - respondi, fingindo estar indignado.

Ele sorriu e levou a mãos esquerda aos meus cachos, fazendo um leve carinho ali.

- Pedro.

- Sim?

- Como você consegue ter a pele tão quente sem ao menos vestir a porcaria de uma casaco? - perguntei.

O mineiro gargalhou.

- Era nisso que você 'tava pensando, João? Sério? - debochou. - Respondendo dia pergunta: não tenho idéia! Sempre fui bem calorento, até mesmo nos dias de inverno e de chuva. Minha mãe sempre me perguntou isso e eu nunca sabia o que responder.

Bufei, revirando os olhos.

- Eu tenho a pele tão fria! - suspirei. - Minha irmã sempre recusa meus abraços no inverno porque nunca consigo me esquentar direito.

Pedro riu, desdenhando mais um pouco dos meus pensamentos.

- Bobinho. - respondeu. - Você nem 'tá tão gelado agora. - passou as mãos pelo meu corpo, como se quisesse confirmar a sua fala. - E, se precisar, posso esquentar você.

Corei.

Minha pele pálida provavelmente facilitou a visão de Pedro em observar o impacto da sua fala. Minhas bochechas, meu pescoço e meu peito ficaram vermelhos.

O moreno, ainda risonho da conversa e de me ver virar um tomate, captura meus lábios em um simples selar cheio de significados.

- Gosto quando você fica vermelhinho. - diz, deixando selinhos em pescoço e peito e não pude deixar de notar que os selares eram onde o vermelho se fazia presente.

Me senti emocionado por me sentir admirado. Pedro, com esses selares, parecia venerar minha pele e, mais ainda, meu corpo, que nunca gostei muito.

- Idiota. - eu disse, agarrando sua nuca e o puxando para um beijo decente. - Devia me beijar com raiva. - completei, sorrindo quando ele cerrou os olhos e me puxou para um beijo decente.

- Mais raiva do que isso? - reclamou e observei seus lábios ficarem inchados. - Você é muito exigente e exagerado.

Mostrei a língua 'pra ele, meus olhos quase fechando com o tamanho da minha felicidade.

Pedro riu, saindo de cima de mim e me puxando pela cintura, me fazendo sentar em seu colo.

Me perdi em quantas vezes beijei aquela boca depois.

Cruel Summer - PejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora