Estou deitado na cama do nosso quarto de hotel há pelo menos meia hora, pensando nos lábios de Pedro nos meus. As imagens de nossa madrugada juntas são estranhamente vividas: desde parte em que fui no quarto procurar a Ana até momento em que me sentou no colo dele e me mostrou os anjos como achei que ninguém poderia fazer.
Desde que levantamos juntos na casa da Ana, estou com algumas letras entaladas na minha garganta para serem jogadas no papel desde que acordei (melhor dizendo, desde que nos beijamos ontem), mas não consegui esboçar nenhuma continuação 'pra esses versos. Senti muitas coisas nessa madrugada e não quero as esquecer 'tão cedo.
Colocar essas ideias no papel me faz lembrar das coisas de forma mais rápida e parece transmitir todos os meus sentimentos pela minha simples caneta bic preta.
Suspirei pela milésima vez, deitado de bruços tentando dar uma continuação nesses versos inacabados enquanto Ana termina de tomar café e Vitória toma um banho - mesmo que tenhamos combinado de ir até a praia, tomar banho é de extrema importância 'pra três jovens que cheiram a maconha, cigarro e álcool. Sinto que estou de ressaca até agora e que é provavelmente por isso que não consigo finalizar esses versos soltos.
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Parei nesse verso antes de pegar o último - que eu havia amassado e jogado do outro lado da cama- e tentar analisar alguma coisa. Mas não consegui. Além de ter mais perguntas e incertezas do que as outras, essa daqui tem um ponto de interrogação no próprio título. Suspirei infeliz, pegando o papel e abrindo-o.
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Escutei Vitória abrir a porta do banheiro e finalmente me dei por vencido, recolhendo os papéis e os colocando dentro do meu caderno de composições. Vi sorriu para mim, parecendo entender meus sentimentos conflitantes em relação ao compor quando guardei o caderno dentro da minha bolsa.
Ela me abraçou e ambos caímos deitados na cama em um silêncio confortável. Eu sei que ela entende o que estou sentindo com esses versos inacabados porque ela também tem milhões de composições que não consegue finalizar e isso me conforta.
Ana voltou ao quarto, parecendo satisfeita consigo mesma por dar prejuízo ao hotel logo cedo. Nos viu deitados em silêncio e franziu o cenho, parecendo preocupada. Aproximou-se, analisando alguns papeis do meu caderno no chão e pareceu entender. Baixou a cabeça e beijou minha testa (como uma mãe faria com um filho - confesso que as vezes ela uma mãe mesmo) e um selinho na namorado.
- Combinamos de ir almoçar juntos em um restaurante na beira da praia e depois ir jogar boliche no shopping. - Ana disse, deitando-se ao lado de Vitória e participando no nosso abraço. Sua passa pela cintura da namorada e acaricia meu braço levemente. - E depois ir na praia. Tudo bem por vocês? Se não estiverem bem podemos ficar aqui e-
- Ana, a gente vai, não se preocupa. - interrompi seu monologo, rindo baixinho e fechando os olhos, enfim relaxando meu corpo tenso. - Só preciso de uns dez minutinho 'pra tentar me recompor.
A morena riu também e escutei um beijo estalado sendo depositado em uma bochecha. Pelos movimentos, Vitória que deixou o beijo.
- O tempo que você precisar, Joãozinho. - a de cabelos volumosos disse, passando a mão pelos meus cabelos cheios de cachos em definição por pura preguiça de passar um creme depois do banho.
Concordei com a cabeça, aproveitando a sensação boa que é o toque físico. Sempre amei esses nossos momentos porque minha linguagem de amor está muito vinculado ao toque físico (e palavras de afirmação, mas esse é muito menos presente) e quando minhas duas amigas perceberam, fizeram questão de sempre me abraçar e estar por perto. Não precisa ser necessariamente um abraço, as vezes pode ser só os braços colados, os joelhos se tocando ou até mesmo os pés se chutando por baixo da mesa de jantar.
Acho que foi por isso que me senti 'tão a vontade com Pedro durante a madrugada. Ele também gostava de toque físico e isso me acolheu, pois é difícil achar alguém que sinta a mesma necessidade de estar sempre em contato como eu. Pedro me abraçou, me beijou, dormiu agarrado comigo e sempre manteve nossas mãos em contato durante conversas. Mais cedo, no café da manhã, ele parecia muito a vontade com minha aproximação e isso me deixou feliz (vai saber que a pessoa não ficou melosa por conta da bebida - doce ou qualquer outra coisa que a gente bebeu, né? Muitas pessoas viram bêbados carentes e constar que Pedro não era um deles me fez querer ficar ainda mais perto dele.
Na verdade, não só acho que me senti a vontade com ele como tenho certeza. Nenhum desses versos (que escrevi desde a hora em que saímos da casa da Ana e fiquei até agora - com uma única pausa rápida para um banho - pensando e organizando) teria saído da minha cabeça se eu não tivesse ficado com ele e conhecido a necessidade de toque parecida com a minha. A minha única inspiração é a vida - e eu não estou vivo a muito tempo 'pra saber essas coisas. E isso, de certa forma, me assusta um pouco, pois eu nunca tive uma inspiração amorosa na vida. Não como a inspiração de Vitória é Ana e a de Ana é Vitória.
Será que se Pedro fosse minha inspiração, eu seria a sua?