Capítulo Três

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— Gente, mas ela vai levar esse tanto de leite condensado? — Tive que conter a risada que estava ameaçando vir desde o momento em que Vanessa esbarrou no homem ao andar para trás. De qualquer forma, a pergunta de Michel parecia genuína e eu apenas mexi os lábios, esboçando um “num sei”.

— Essa menina é muito especial... — Raquele falou com um sorriso de orelha a orelha enquanto balançava a cabeça negativamente, como se não acreditasse no quanto aquela garota poderia ser esquisita. Na minha percepção, obviamente.

— É muito estranha, isso sim. — Pensei em voz alta e recebi dois olhares desagradáveis. — Já pegaram tudo? — Apenas os ignorei.

— Já, sim. Vamo' pegar uns abacates, Giovanna? Quero comer tua guacamole. — Michel perguntou, olhando para o bloquinho de notas que segurava enquanto Raquele conduzia o carrinho de compras.

— Ih, lá ele. — Raquele falou baixinho, mas ainda em um volume bastante “escutável”.

— Sai pra lá. Eu hein, Raquele! Sou muito bem casado, graças a Deus. — Michel falou exaltado, mas não aparentava verdadeiramente ofendido. Eu só conseguia rir, porque não estava esperando esse comentário de Raquele. — Imagina, Giovanna meu tipo? Primeiro que é mulher, segundo que essa daí só sabe fazer cara feia.

Eu imediatamente fiz uma careta em sua direção, repreendendo sua fala. Ele esboçou um sorriso brincalhão e ao mesmo tempo convencido, seguido de um “Não falei?”. Logo depois, fomos à sessão de frutas e combinamos com Raquele que a encontraríamos no caixa, já que o mercado realmente estava bem cheio.

[...]

— Ai, gente. Vocês viram que hoje eu me comportei direitinho, né? O universo tá me testando, me colocando nos mesmos ambientes que essa menina e eu tô uma seda. Quero os meus parabéns. — Falei, enquanto guardava as últimas compras no porta-malas com a ajuda de meus amigos.

— Parabéns, Giovanna Lima, por agir feito uma adulta de 27 anos. — Raquele bate palmas assim que se desfaz de suas últimas sacolas. Michel faz o mesmo.

— Mas falando sério, gente, acordar cedinho amanhã, porque, no caminho, tem um posto que eu gosto de abastecer, aí a gente faz isso, entendeu? — Falei antes de fechar o porta-malas e finalmente entrar no carro. Estava meio cansada. Tínhamos ajudado Michel a organizar a casa durante a parte da manhã e da tarde, para só então irmos ao supermercado. Já estava escurecendo e minhas energias também.

— Deixa de ser sonsa, Giovanna. Tu vai lá naquele posto pra ver o teu boyzinho de balada. — Michel me dedurou, abrindo a porta do carro e sentando no banco do passageiro. Raquele iria no banco de trás.

— Culpa é minha se ele é muito bom no que ele faz? — Falei com um sorrisinho no rosto, mantendo o duplo sentido da frase no ar.

Coloquei a chave na ignição, dando partida no carro. Meus dois amigos apenas fizeram barulhinhos nojentos como se fossem crianças, uma vez que o cara não fazia o tipo deles. Entretanto, assim que o barulho do rádio se fez presente dentro do automóvel, nós três voltamos à nossa harmonia de sempre.

A distância entre o apartamento de Michel e o supermercado dava por volta de 20 minutos. Por estar em um horário de pico, beirando as seis e meia da tarde, demoramos um pouco mais que isso, mas chegamos a tempo de conseguir preparar algo para comer e tirar algumas compras que eram para a casa dos meninos.

No momento, estávamos todos reunidos. Depois de estarmos cheios de um bom prato de macarrão a carbonara, as taçinhas de vinho tomaram conta da conversa e eu já estava perto de estar alterada, decidindo parar por ali, uma vez que dirigiria de manhã cedinho. Sentada em uma das cadeiras da sala de jantar de Michel, meus pés descalços estavam dispostos alternadamente: um no almofadado em questão e o outro em uma cadeira vazia. Raquele me acompanhava, de frente para mim, mas com as pernas cruzadas en posição de borboleta. Michel e Renato estavam sentados no sofá da sala, mas isso não impedia que eles conseguissem ouvir a conversa por conta do ambiente integrado.

— O que vocês acham das pessoas que vão para a casa do Bin? — Raquele perguntou.

— A maioria a gente já conhece, né, amor? A Isabelle vai e é uma querida, a Pitel! — Michel falou primeiro.

— Nossa, sim! Eu adoro a Isa. — Concordei com meu amigo. — O Luigi também é muito louco nas festas, adoro aquele cara.

— Ele é muito doidão. — Raquele fala com um sorriso no rosto. — O Vinícius vai, Gi.

— Ah, não sei, não se eu vou ficar com ele durante esses dias. Quando a gente fica nas festas, eu tenho a oportunidade de ir pra minha casa depois. Dessa vez, vou ter que acordar e rezar para que eu não tenha que encarar ele na hora do café. Ele é muito chatinho...

— É que ele é meio apaixonadinho em você, né, Giovanna. — Raquele afirma e Michel murmura em concordância.

— Eu não sou de ninguém e eu sempre falo isso pra ele.

— Fala porque não quer nada com ele, porque tem homem que você só falta colocar o vestido. — Michel me encara e eu rio de sua cara.

— Homem tipo o Brad Pitt, só se for. Eu hein, Michel. Me erra! Até parece que eu sou fácil pra homem desse jeito.

De Repente, Era VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora