Capítulo Um

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— Aquela menina rodada vai?! — Minha voz saiu em um tom mais alto que o esperado. Pela reação dele, eu já tinha minha resposta.

— Amiga, calma! Ela vai porque é amiga dos meus amigos que têm a casa de praia. — Michel explicou e teve uma necessidade de tentar me passar tranquilidade com as palmas das mãos viradas para cima enquanto gesticulava. Eu suspirei irritada, logo cruzando os braços e começando a andar pela cozinha do apartamento do meu amigo. Bati o pé algumas vezes no chão, fazendo o tamanco fazer um barulho pra lá de notável.

— Giovanna, você não me faz ter briga com vizinho de novo, não. Pode ir parando com esse pé! — Michel repreendeu assim que terminou de secar o último prato e colocá-lo no escorredor.

— Num dá, véi! — Meu sotaque veio à tona. — Essa mulher é uma piranha, desgranhenta, filha de uma...

— Giovanna... — Michel me repreendeu novamente.

— Mãe! Filha de uma mãe! Ela deu em cima do Felipe, dá pra todo homem que vê na rua, até de um olho só se duvidar! — Listava as situações completamente indignada, mantendo o tom de voz alto.

Felipe era meu ex-namorado de 2 anos atrás. Fiquei sabendo, por ele mesmo, que Vanessa, a mulher que eu xingava em questão, tinha dado em cima dele em uma despedida de solteiro de um dos amigos dele. Desde então, não suportava ver aquela menina, nem que fosse pintada de ouro. O pior de tudo é isso: ela sempre está presente no meu círculo social. Michel estava combinando com alguns amigos dele de passar 15 dias na casa de praia de um deles para aproveitar as férias. Ele dizia que eu precisava me divertir mais, que estava muito no trabalho. A questão é que eu sempre gostei de me divertir, mas final de ano sempre é esse estresse no consultório. Não tinha muito o que fazer... Mas como eu também era filha de Deus, é claro que eu topei ficar uns dias na praia, renovar as energias. Além de que a casa desse amigo do Michel fica muito perto da mata e lá tem uma cachoeira linda para tomar banho. Eu sempre adorei estar em contato com a natureza e essa era uma oportunidade boa para que essas férias fossem umas das minhas melhores, mas é lógico que essa megera tinha que estragar tudo.

— Tu não já terminou com ele, Giovanna? — Raquele falou pela primeira vez em tempos, pois estava separando os feijões na mesa da cozinha de Michel. Apenas concordei com a cabeça, sem entender seu ponto. — Então por que ainda mantém esse ódio tão desnecessário pela menina?

— Raquele, não acredito que você tá falando isso logo pra mim. — Falei sem paciência e comecei a enxugar as canecas que Michel havia acabado de lavar com a maior raiva do mundo.

— Mas é verdade, Gio! Nunca houve evidência nenhuma que ela beijou ou se atirou literalmente pra cima dele. Às vezes ele que chamou isso pra si e você comprou essa briga à toa.

Eu fiquei quieta por alguns instantes, pensativa mesmo. Beijar, beijar, não beijou. Felipe não era nem doido de me trair assim. Agora, Raquele pode ter razão nesse sentido. Para nós, mulheres, não é novidade que o volume na calça dos homens não é proporcional aos de seus cérebros. Felipe e eu sempre fomos bons amigos e por isso acabamos namorando. Em contrapartida, isso não muda o fato de que ele sempre foi meio imaturo. Desde quando éramos apenas amigos, suas histórias com outras mulheres acabavam com ele sendo a vítima. É... Talvez Raquele esteja certa. Talvez eu não devesse remoer tanto o passado. Talvez eu devesse redirecionar minha raiva. Suspirei, depois de me sentir cansada de tanto pensar e os outros dois que me observavam quietos não responderam nada.

— Tá bom, só hoje não vou praticar misoginia. — Decretei, dando-me por vencida.

— Mas você já foi misógina hoje, amiga. Tava sendo agorinha, inclusive. — Michel constatou querendo rir, o que também fraquejou meu humor, mas me mantive firme apesar de sentir os cantos dos meus lábios um pouco acima do que deveriam estar.

A partir de agora, não vou ser mais misógina. — Me esclareci, andando para a sala e me deparando que estava rindo sozinha. Não demorou muito para que eu ouvisse Michel e Raquele gargalhando da cozinha também. Era isso o que eu amava na nossa amizade. Eu poderia estar puta da vida, xingando Deus e o mundo para eles, mas tudo sempre acabava em boas risadas.

De Repente, Era VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora