Capítulo Dois

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— Beleza, então vai eu, você, Vanessinha, Nanda, Pitel, Isabelle, Vinícius, Buda... Ah, e eu conversei com o Michel e ele vai levar o namorado dele, a Raquele e a Giovanna. — Bin Listava as pessoas que iriam com a gente para a sua casa de praia enquanto gravava um áudio para Luigi no grupo da viagem. Eu não pude deixar de sentir um leve incômodo quando ouvi que Giovanna iria. Não que eu não gostasse dela. Na verdade, não tinha nada contra. Era só que ela olhava muito torto pra mim. Isso quando ela me olhava...

— Já deixei avisado que como eu sou o dono da casa, minha contribuição já foi feita. Se virem aí pra dividir quem vai levar carne e bebida. — Bin completou meio brincalhão no momento em que minha atenção voltou-se para ele. No instante em que ele guardou o celular, me ajeitei no sofá e decidi perguntar-lhe algo:

— A gente vai no mercado ainda hoje?

— Vamo' agora? Já pego a chave do carro e a gente faz uma compra do mês. Certeza que vai dar pra todo mundo. — Eu apenas concordei com a cabeça e ele entendeu, visto que foi pegar as chaves do carro no seu quarto.

Ainda estava meio receosa. Eu gostava de todas as pessoas ali. Talvez eu não fosse a melhor amiga de Michel ou de Raquele, mas nós sempre nos tratávamos muito bem. Uma vez ou outra, nos encontrávamos em rolês em comum e sempre conseguíamos nos divertir. Na maioria das vezes, os dois saíam junto com Giovanna, por serem melhores amigos. Aí que morava o problema: eu me dava muito bem com os dois, mas com ela... Eu já tentei me aproximar, mas nunca tive abertura. Não que ela me tratasse mal, mas os olhares de morte que ela me dava já diziam por si sós que ela não gostava de mim.

Sempre tive uma facilidade maior para fazer amizade com os meninos e isso não é novidade pra ninguém. Quando comecei a fazer alguns vídeos para a Internet, as meninas com quem eu conversava, no Ensino Médio, começaram a se afastar de mim e falar pelas costas. Desde então, fui criando uma espécie de “aversão”, com medo que toda garota tivesse inveja de mim. Hoje, com 22 anos, eu estou aprendendo a combater isso dentro de mim, pois percebi que isso me afastava de pessoas que realmente queriam meu bem. Confesso que não é fácil, porque os olhares de julgamento ainda me assobram até hoje, como é o caso de Giovanna. Eu nunca fiz nada pra essa mulher e sinto que ela me odeia de um jeito ou de outro. Meio que não tem como ganhar com ela.

Vanessa... Vanessa! Vanessa!

— Vanessa! — Ouvi a voz de Bin invadir meus pensamentos. — Levanta daí. Vamo' logo.

[...]

Bin tinha ido à parte do açougue do supermercado, enquanto eu estava na de doces. Não posso negar que eu sou viciada em qualquer coisinha que contenha açúcar, mas a verdade é que eu estava mais empenhada em fazer sobremesas para passar o tempo na casa e fazer uma média com o pessoal. Meu objetivo é não usar o celular quando viajar, ter uma experiência 100% offline e o máximo de contato humano possível.

Eu sou uma pessoa bem presente nas redes sociais e já faz um tempo que estou crescendo minhas contas. Já tive a oportunidade de promover alguns eventos por causa disso e a maioria dos ingressos que ganho é fruto desses esforços contínuos. Algumas pessoas me julgam, afinal, estamos na internet para isso: sermos julgados, mas é apenas o meu trabalho. Apesar de não ter vergonha de viver isso, não posso afirmar que minha cabeça não é muito sujeita a rejeição. Eu já percebi que tenho um problema quando percebo que alguém não gosta de mim. Eu simplesmente preciso fazer com que aquela pessoa me suporte de algum jeito e às vezes perco o controle tentando me encaixar nos diferentes moldes que me aparecem.

— Vanessa! Olha você por aqui. — Ouço uma voz familiar, mas tive que desligar meus pensamentos por alguns segundos para só então me deparar com Raquele, Michel e... Giovanna.

— Que coincidência, né, gente? — Comecei a rir nervoso. Para alguém que estava sempre em eventos sociais, eu era bem estranha socialmente.

— Se a gente tivesse marcado, não ia dar certo, né? — Michel disse com um sorriso no rosto. Cumprimentei ele depois de Raquele com um abraço. Giovanna não moveu nem um pé em minha direção e eu também não me atrevi a me aproximar. Ela estava com os braços cruzados e, se não estivesse prestando muita atenção, não notaria seu balanço de cabeça me cumprimentando silenciosamente.

— Que bom que te achei, menina! Eu tô doida pra fazer uns docinhos lá na casa, tentar ficar um pouco longe disso aqui, sabe? — Falei empolgada, me referindo à Raquele, bem como mostrando-a o celular que carregava na mão.

— Se quiser ajuda, pode falar comigo. Eu tô comprando alguns leites condensados pra isso também. Melhorar a técnica é sempre bom.

— E você pode contar que ela é a melhor confeiteira que tem, viu? Só não é boa com salgados, aí se você quiser mentoria, é com a Giovanna. — Michel segurou nos braços de Raquele amigavelmente, mas quando se referiu à Giovanna, era possível notar um olhar estranho, como se a estivesse repreendendo. Provavelmente era coisa da minha cabeça.

— Pode deixar! — Respondi sem graça. — Vamos ter bastante tempo para isso.

— Gente, vamos indo? Hoje é sábado, o caixa fica lotado e é capaz da gente pegar fila. — Giovanna se pronunciou pela primeira vez.

— Nossa, sim! Eu também preciso me apressar aqui e encontrar o Bin. — Mexi nos meus cabelos nervosa. — Muito bom ver vocês aqui, sendo que vou ver vocês na casa do Bin de novo, né? Já sabem em que carro vão ir? Vão precisar de carona? — Mordi a língua no instante em que fechei a boca. Principalmente pelo olhar que Giovanna me deu por eu ter puxado assunto. Foi mais forte que eu, Miss Cara Fechada, porque se for para depender de você...

— Vamos no meu, não precisa. — Giovanna respondeu curta e grossa. Notei os olhares de vergonha alheia que Raquele e Michel deram para a amiga.

— Ah, sim... Bom, vejo vocês amanhã! — Falei, dando alguns passos para trás. No meio da conversa, peguei, pelo menos, umas oito latinhas de leite condensado. Meus braços estavam cheios e não podia abraçar ninguém naquele momento. Acho que era melhor desse jeito. Cheguei a trombar em um moço, pedindo mil desculpas logo em seguida, super envergonhada.

— Gente, eu tô bem! Essas coisas acontecem sempre. — Falei rindo, mas querendo me enterrar no chão de concreto se fosse possível. Os três amigos ainda estavam me olhando e, no momento em que me virei para ir embora, pude jurar que ouvi Michel falando alguma coisa.

De Repente, Era VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora