9:00.A sala de espera do consultório médico parecia menor e mais abafada do que nunca. Eu estava sentada em uma cadeira de plástico azul, com as mãos geladas e suadas entrelaçadas no colo. Minha mãe estava ao meu lado, apertando minha mão com força, mas sua tentativa de me acalmar não funcionava. Meu coração batia descompassado, como se quisesse escapar do meu peito.
Quando finalmente somos chamadas, sigo o médico com passos hesitantes até seu consultório. O cheiro estéril de álcool misturado com o barulho distante de papéis sendo manuseados não fazia nada para me tranquilizar. Relato os eventos estranhos que haviam acontecido comigo nos últimos dias — as visões, as sensações inexplicáveis. O médico, com sua expressão neutra, faz alguns exames e, para meu alívio, não encontra nenhum ferimento grave. Porém, isso não apazigua minha mente. Algo estava errado, e eu precisava descobrir o que era.
De volta à rua, a brisa fria me faz puxar o casaco mais perto do corpo. Decido que preciso investigar por conta própria. Vou até a biblioteca da escola, onde o cheiro de livros antigos e a luz amarelada das lâmpadas me recebem. Enquanto caminho entre as prateleiras empoeiradas, sinto a urgência em encontrar respostas crescer dentro de mim. Folheio livros sobre mitos e lendas, mas nada parece relevante.
Quase desistindo, um livro cai da prateleira ao meu lado. A capa é grossa e desgastada, coberta por uma fina camada de poeira. Eu o pego rapidamente, sentindo um calafrio subir pela minha espinha. O título é simples, mas intrigante: "Mitos e Lendas". Abro o livro e começo a folhear suas páginas amareladas.
E então eu vejo — um capítulo dedicado aos ceifadores da morte. Meu coração acelera. Leio com atenção, absorvendo cada palavra. Esses seres sobrenaturais eram responsáveis por levar as almas dos destinados à morte. A descrição deles era aterrorizante, mas o que mais me incomodava era a sensação de que havia uma conexão entre esses ceifadores e... Anthony.
Perdida em meus pensamentos, não percebo que estou andando distraída pelos corredores da biblioteca até que esbarro em alguém, fazendo o livro cair das minhas mãos.
— Desculpa! — exclamo, abaixando-me para pegar o livro.
— Não tem problema — responde uma voz familiar.
Levanto o olhar e vejo Anthony, com um sorriso enigmático no rosto, enquanto
ele também se abaixa para me ajudar.— O que você está lendo? — pergunta ele, o tom casual, mas seus olhos curiosos.
— Acho que não é do seu interesse,
ruivo — respondo, um pouco defensiva, pegando o livro.— Ou talvez seja — retruca, seu olhar se tornando mais sério. — Do que se trata?
Hesito por um instante, mas então suspiro.
— É um livro sobre lendas e mitos — explico. — Coisas estranhas têm acontecido comigo, então achei que poderia... — Não consigo terminar a frase antes de ele completar:
— Algo sobrenatural? — diz ele, com uma confiança que me desarma.
— É... isso mesmo — admito, coçando a cabeça, um sorriso de canto se formando nos meus lábios.
Anthony se endireita, o interesse evidente em seus olhos.
— Se você quiser, posso ajudar — oferece ele.
Eu o encaro, surpresa com a oferta. Talvez seja útil tê-lo por perto, mas ao mesmo tempo, uma parte de mim ainda estava desconfiada.
— Tá... se isso não for te incomodar — respondo, relutante.
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Entre a Vida e a Morte
Romance"seus olhos são tão vermelhos quanto-o sangue que escorre de minha mãos". . .