--Demian--Cap3

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Purgatório, Castelo Nightshade

O eco do chute que dei na escultura preencheu o salão vazio. Cada pedaço quebrado parecia ser um reflexo da minha paciência se esgotando.

— Droga! — gritei, encostando na mesa de mármore e tentando controlar a raiva.

A caça estava se tornando insuportável. Cada vez que me aproximava dela, algo me impedia. Era como se o universo inteiro estivesse conspirando para que eu falhasse. Peguei o cigarro no bolso, mas antes que o isqueiro acendesse a chama, um raio passou raspando por mim.

— Já falei pra você parar com isso, Astra! — rosnei, girando para encarar minha irmã mais nova, que agora segurava o cigarro com um sorriso malicioso.

— Sabe que está de castigo, não sabe? Isso inclui os cigarros, irmãozinho — provocou ela, dando um trago antes de apagar o cigarro com um estalar de dedos.

Suspirei, apoiando as mãos na mesa.

— O que foi agora? — perguntou ela, cruzando os braços. — Você só fuma quando está prestes a fazer merda.

Ela tinha razão. Sempre tinha.

— Aceitei uma caça.

O sorriso dela desapareceu, substituído por um olhar sério que eu raramente via.

— Você enlouqueceu?

— Talvez.

— Demian, isso não é um jogo. Você sabe o que significa aceitar uma caça.

— Sei, Astra. Ou eu mato, ou morro.

Ela balançou a cabeça, incrédula.

— Quem é o alvo?

— Você sabe que não posso dizer.

— Então pelo menos me diz por que está sendo tão difícil assim.

Parei por um momento, ponderando.

— Acho que ela tem alguma proteção. Talvez um anjo.

Astra revirou os olhos e deu uma risada amarga.

— Claro que tem. E você está indo direto para uma armadilha.

— Não se preocupe, eu tenho um plano.

Ela arqueou uma sobrancelha, desconfiada.

— Ah, é? E qual seria?

— Vou entrar no mundo dela como um humano qualquer. Ninguém vai perceber minha presença.

Ela suspirou, jogando as mãos para o alto.

— Demian, às vezes eu me pergunto se você quer morrer.

— E às vezes me pergunto por que ainda deixo você falar tanto — rebati, esboçando um sorriso enquanto ela desaparecia num raio.

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No dia seguinte, Escola de Morgan

A sala de aula era barulhenta, cheia de vozes adolescentes falando de tudo, menos da matéria. Entrei e percebi que minha chegada silenciou brevemente o ambiente.

O professor levantou os olhos de sua mesa.

— Ah, aluno novo. Sente-se ao lado da senhorita Davis, por favor.

Procurei pelo lugar indicado. Lá estava ela: Morgan Davis. Cabelos castanhos, olhos que pareciam enxergar além, fones de ouvido ignorando o mundo. Minha presa.

Caminhei até o fundo da sala, sentando-me ao lado dela.

— Oi, sou Demian — disse, casualmente.

Ela sequer olhou para mim, apenas aumentou o volume da música nos fones.

Pensei em insistir, mas decidi observar. Não era o momento de chamar muita atenção.

A aula começou, e o professor iniciou uma explicação sobre entidades e ceifadores. Meus olhos fixaram-se na garota ao meu lado quando ela levantou a mão para responder a uma pergunta.

— Ceifadores são intermediários entre a vida e a morte. Eles guiam almas perdidas ao destino final.

Sua voz era firme, sem hesitação. Eu quase admirei a confiança nela. Quase.

"Concentre-se, Demian. Ela é apenas um alvo", lembrei a mim mesmo.

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Intervalo, Refeitório

No intervalo, vi Morgan sentada em uma mesa com um garoto ruivo. Ele ria de algo que ela dizia, enquanto ela parecia ignorar tudo ao redor. Resolvi me aproximar.

— Posso me sentar aqui? — perguntei, puxando uma cadeira sem esperar resposta.

Morgan levantou os olhos e me encarou como se eu fosse o maior incômodo da Terra.

— Dá pra não? — disse ela, seca.

Antes que eu pudesse responder, o ruivo estendeu a mão.

— Anthony. E você deve ser o aluno novo.

— Demian.

Morgan revirou os olhos, largando o garfo com força.

— Sério? Vocês dois acham que isso aqui é um episódio de boas-vindas?

Anthony apenas riu.

— Relaxa, Morgan. Ele só está tentando ser educado.

— Claro, porque é exatamente isso que falta nesse mundo. Educação. — Ela se levantou, pegando sua bandeja. — Boa sorte com o novato, Anthony.

Ela saiu antes que eu pudesse dizer algo.

Anthony deu de ombros, terminando seu lanche.

— Não leva para o lado pessoal. Morgan é... complicada.

Eu apenas assenti, mas não pude evitar sentir um incômodo crescente. Morgan era mais difícil de alcançar do que eu imaginava.

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Campo Wedsay, 17:00

Depois da escola, caminhei pelo campo tentando organizar meus pensamentos. A presença dela era quase sufocante, mesmo à distância.

Meu telefone vibrou, quebrando o silêncio.

— O que foi agora?

— O Conselho marcou uma reunião hoje à noite — disse Astra do outro lado da linha. — É sobre seu lugar no trono da Morte.

— Não posso ir.

— Demian...

— Hoje à noite é minha chance.

— Tudo bem. Mas cuidado. Não quero ter que explicar para o pai como você morreu.

— Relaxa. Não vou morrer tão cedo.

Desliguei, guardando o telefone. Olhei para o céu, que começava a se tingir de laranja.

A noite prometia ser longa.

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Continua...



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