Sensações

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Após me afastar de Amélia, verifiquei na grade de horários qual seria a próxima matéria e, reparei que muitos alunos já estava exaustos, mas não dei tanta importância. Porém quando eu reparei, que seria química e depois matemática, já me bateu um desânimo imenso. Fui para o laboratório e parece que eu ainda era o primeiro aluno a chegar, até estranhei pois já devia ter vários alunos por aqui.

"Será que estou na sala errada? Ou meu relógio está errado?"

Retirei meu celular do bolso, e vi que estava adiantado, comparando com o relógio da escola, era 10:15 e a aula era 10:30, mas de qualquer forma, fiquei em um banco qualquer só esperando tocar o sinal. Coloquei fones de ouvidos e, estava me preparando para tirar um cochilo, quando de repente, senti olhares de longe para mim. Levantei a cabeça e vi que era uma garota loira, com roupas que se estivessem sem, não seria tão diferente de como estava - óbvio que cada um veste o que quer e o problema é da pessoa, mas no frio que faz lá fora, é estranho.

A mesma estranha me encara de uma forma que eu não sabia descrever, se era ela tentando se sensualizar para mim ou se era tentando soltar os gases presos. 

- Olha, o banheiro fica na sala ao lado. - disse tentando me livrar da esquisitona.

- Você é bem diferente. Prazer, meu nome é Arabella, e você seria quem? - disse ela com um tom sarcástico e malicioso.

- Um zé que não está nem aí pra ninguém - disse bem rudemente.

"Qual o problema dessa garota?"

A tal Arabella, me encarava nesse instante e se aproximava cada vez mais, isso já estava me irritanto um pouco.

- Chérie (Garotinho), não sei qual é a sua, mas de uma coisa eu sei! -  disse ela chegando mais perto, se inclinando na mesa do laboratório e sussurrando em meu ouvido - Sei que você está doidinho para acabar com ela, você sabe quem!

Aquilo foi a gota d'água para mim, segurei em seu pulso, não tão fortemente, mas sim, pressionando-a contra o ar a fazendo a perder o equilibrio de suas pernas e tropecar e cair no banco. A mesma parecia assustada e indignada com minha reação.

- Apesar de ter minha íntima entre as pernas, fique sabendo que sou o homem que minha mãe viúva criou com muito amor para lhe dar orgulho e não desgosto. Faça me o favor de sair por aquela porta e nunca mais me incomodar, caso contrário - disse chegando um pouco perto dela - Eu a denúncio por assédio verbal, Fille (Garota).

Arabella me olhou incrédula, mas assentiu e saiu correndo, assim que a mesma saiu, vi Amélia olhando-me na porta, chocada. Por algum motivo, tive uma sensação de que aquele momento devia ser o nosso momento sozinho juntos, mas me contive e acalmei minha ansiedade, trazendo de volta a concentração e o estado racional e frio.

- Você tá me ouvindo? - disse Amélia irritada.

- Oi desculpe, falava comigo? - disse confuso, como se tivesse acabado de sair de um transe.

- Com as paredes que não foi. - Disse a mesma com ignorância. - O que Arabella fazia aqui?

"É com isso que ela se preocupava? Ela achava mesmo que eu ia machucar uma garota?"

- Não sei quem é ela, mas pouco importa quem seja - disse com indiferença. - Por que me pergunta sobre ela? Ela é alguma parente sua? 

A mesma abaixou a cabeça e nada disse. Fiquei observando seu rosto cabisbaixo, até que levamos um susto com o sinal para as aulas de química. Amélia se sentou ao meu lado e não se abriu sua boca para mais nada ou sequer olhava para mim, o que estranhei um pouco, pois ela estava sorrindo até agora e do nada essa mudança de humor.

- Les filles sont bizarres (Garotas são estranhas) - disse num sussurro e começou a aula.

As aulas estavam se passando rápido e eu na maioria das vezes prestava atenção, mas por questão de curiosidade, verificava Amélia e, a mesma se permanecia quieta e reparando nela, vi que a mesma era boa de matemática mas pessíma em química. Cálculos de fórmulas erradas e respostas para móleculas erradas. 

Após a escola, juntei minhas coisas e estava indo para a saída, quando vi Amélia em seu armário, quando uma garota familiar estava praticando bullying com ela. Assim que me aproximei, vi que era Arabella e seus zangões. 

- Idiote (Tola), você acha mesmo, que é inteligente? Querer vir para cima de mim por conta de um cara? - disse Arabella com deboche para Amélia. - Pour Dieu (Por Deus), é mais burra do que imaginei.

- Ele é meu amigo Arabella, apenas estou protegendo ele de seu veneno sem controle - disse Amélia com raiva antes de receber um tapa em seu rosto e ser empurrada para os armários. 

Algo em mim deu um estalo e fui até a mesma como um touro e impedir que desse outro tapa em Amélia. Segurei em seu pulso e vi que Arabella não esperava que eu estivesse na escola então quando tentou tirar seu braço de minha mão, segurei com um pouco mais de força e vi seus olhos lacrimejarem.

- Me solta agora! - disse Arabella com medo e choro.

- Se não sair daqui e parar de irritar a Amélia, eu mesmo transformo sua vida em um inferno e, olha que eu já estive lá. - disse com sangue nos olhos de raiva e assim soltando o braço da bully e no fim elas saíram correndo. Comecei a respirar e me acalmar, até que me ajoelhei e retirei uma mecha de cabelo de Amélia - Está tudo bem com você?

A mesma começou a chorar baixo, então eu a ajudei a se levantar e fui com ela para o banheiro. Esperei por ela na porta enquanto a mesma lavava seu rosto por conta do choro e tapa desferido em seu rosto. Assim que não ouvi mais barulho de torneira, a mesma se aproximou da porta com receio.

- Elas já foram embora, ninguém vai te machucar - disse estendendo minha mão para a garotinha assustada. - Vai ficar tudo bem, confie em mim.

A mesma pegou minha mão estendida e saímos pela entrada da escola e fui com a mesma até o ponto de ônibus. Durante o caminho, muitos olhares a nossa volta, me davam uma sensação de desconforto e medo, o que era óbvio que não deixava isso transparecer em mim, mas em Amélia, o efeito era o contrário. 

Ao chegarmos ao ponto de ônibus, ela soltou minha mão soltando um longo suspiro profundo e por fim dizendo:

- Obrigada pela ajuda.

- Não precisa agradecer - disse colocando minha mão em sua cabeça. - Se precisar de algo é só me ligar. 

- Eu não tenho seu telefone. - Disse a mesma confusa.

Tinha me esquecido desse detalhe, com as bochechas um pouco rosadas, mas que facilmente cobrir com o meu cachecol, tirei meu caderno de anotações, escrevi meu número, por fim arrancando a folha e dando o papel com minha escrita para ela.

- Pronto, problema resolvido - disse com vergonha. - Enfim, te vejo amanhã na biblioteca pública às 14:30?  

- Acho que sim - disse a mesma com um sorriso que por algum motivo me deixou feliz. A mesma se aproximou e me deu um beijo na minha bochecha e sorriu antes de entrar no ônibus - Tchau Kevin.

Assim que ela sumiu da minha visão me dei conta que ela me deu um beijo na minha bochecha, colocando a mão sobre o local selado, dei um sorriso de canto e senti meu coração errando batidas.

"O que está acontecendo comigo?"

Após 5 minutos, meu ônibus havia chegado e, havendo entrado no mesmo, passando na catraca, fiquei sentado ao lado da janela, ouvindo música, por fim terminando minha manhã com um longo suspiro, acalmando meus sentidos e sentimentos.

Depois de alguns minutos, estava na porta da minha casa e, quando abri, desejei não ter entrado dentro de casa, ou sequer ter pensado em abrir a porta.

- O que você faz aqui? - disse com raiva.

- Oi pra você também - disse ele se levantando da cadeira de minha mãe - irmãozinho.


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