Chapter IV - Escapatória

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"As pessoas costumam criticar aquilo que não conseguem compreender." - Platão.

POV: Narrador(a)

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O lugar era amplo e bem barulhento para o tamanho que tinha, a ponto de impedir qualquer indivíduo de ouvir seus próprios pensamentos, incluindo Ingrid, que desde que havia entrado naquele lugar se encontrava estacionada no extremo canto da mesa, observando a tudo e todos com uma garrafa de água com gás em mãos, já que estava evitando ingerir qualquer substância que possuísse teor alcoólico.

Luzes para lá e para cá, pessoas conversando agitadas e cantando músicas variadas. Estima-se que ali estavam por volta de 60-70 pessoas divididas em 8 mesas de 5 lugares cada, que se revezavam no aparelho de videokê, sendo 1 música por mesa.

Na maior parte do tempo, Ingrid se encontrava num estado no qual praticamente se fundia com a decoração ambiente. Sem saber como interagir e sem querer interromper o momento do resto do grupo, concentrava 98% de sua atenção em seu celular, especificamente em seu Reddit, onde respondia alguns comentários a respeito de um perfil que havia criado para seu Miata. Os 2% restantes de sua atenção eram concentrados nas músicas que lhe eram conhecidas e na garrafa em sua mão, que de tanto ser mexida em movimentos circulares ia lentamente perdendo o gás.

"Cacete, que tédio... Seria muito inconveniente eu só sair daqui? Eu tô parecendo uma planta..." — Pensou enquanto percorria o olhar pelo ambiente, tentando calcular uma "rota de fuga" ao ver que a bateria de seu telefone havia atingido a marca de 5%, e seu carregador portátil estava no carro.

A única coisa que se passava pela cabeça da jovem mulher no momento era sair dali o mais rápido possível, sair do meio de toda aquela poluição sonora e visual da qual não estava acostumada e conseguir organizar seus pensamentos. Apesar da raiva de si mesma, por não conseguir se sentir confortável num ambiente daquele, ambiente do qual tinha o único intuito de proporcionar diversão e bons momentos.

"Que se foda. Se alguém quiser algo comigo - o que eu duvido muito - vai até o carro atrás de mim." — Sem se importar muito, a moça levantou-se e se dirigiu ao estacionamento, entrando em seu pequeno conversível vermelho e colocando o aparelho quase sem bateria para carregar.

No painel do Miata havia um toca fitas adaptado por Ingrid, para que rodasse as fitas de um antigo Walkman que fora utilizado pela alemã durante sua adolescência. O porta-luvas do carro era preenchido com mais de 20 fitas cassette de músicas variadas, explanando com força o fato de a moça muitas vezes ter o espírito de um senhor de no mínimo 50 anos para muita coisa.

O estacionamento estava vazio, não havia uma sequer alma penada naquele lugar, chegava a ser talvez um pouco assustador, e a razão disso talvez fosse por conta de uma lâmpada piscando freneticamente em um dos cantos onde não havia nenhum carro estacionado embaixo. Havia começado a chover, e a chuva ajudava a abafar ainda mais o som que vinha de cima, som esse do videokê, das pessoas e de tudo aquilo que afligia a audição de Ingrid.

A fita selecionada da vez tocava Dust In The Wind, do Kansas, de longe uma das músicas mais bonitas da banda, que de certa forma mesclava perfeitamente com o ambiente ali.
Assim que aparentemente havia terminado tudo o que tinha a fazer em seu celular, a jovem de cabelos negros desligou o aparelho e deu uma leve escorregada no banco do carro, olhando fixamente para uma cicatriz de queimadura causada por um cigarro apagado em sua mão esquerda, que segurava o volante.

 𝗛𝗼𝘄 𝗜 𝗪𝗮𝗻𝘁 𝗧𝗼 𝗕𝗲 𝗙𝗿𝗲𝗲 - Taz SkylarOnde histórias criam vida. Descubra agora