Caligo: O canto do oceano.

𝐈 - Por baixo da pele.

Era uma noite sombria, na cidade de Busan, onde um grupo de pescadores se aventurava no mar em busca de uma boa pesca. O barco balançava suavemente sobre as águas escuras, mergulhando em um silêncio quase macabro. Com paciência, os pescadores lançavam suas redes, esperando ansiosamente por uma boa captura. Mas o destino tinha preparado algo muito além de suas expectativas. Enquanto os homens conversavam em sussurros, sentiram uma força misteriosa puxando a rede com uma intensidade assustadora.

Em um frenesi de gritos e correria, os pescadores se reuniram, lutando para trazer a rede a bordo. Quando finalmente conseguiram, um silêncio sinistro dominou o barco. Eles estavam perplexos ao ver o que tinham capturado.

- Olhem só o que temos aqui! - exclamou o pescador mais velho, com os olhos arregalados.

Uma criatura mítica das profundezas marinhas, com uma aparência delicada e ao mesmo tempo assustadora. Seus olhos eram penetrantes, o corpo coberto de escamas brilhantes, as mãos terminavam em afiadas garras. Mas havia um detalhe impressionante: o ser era incapaz de falar, também estava assustado pela captura acidental e emitia sons estridentes, roncos e rosnados perturbadores.

- Chefe, o que faremos? - perguntou um dos homens a bordo com os olhos arregalados em espanto, fazendo assim todos os demais pescadores direcionarem seus olhos ao último citado.

- Devemos trazê-lo para terra firme, hoje tiramos a sorte grande rapazes! - respondeu o capitão, empolgado com a descoberta.

Fascinados e assustados, decidiram juntamente ao capitão, levá-lo para a praia. Ignoraram os pressentimentos de que algo sinistro pudesse estar envolvido.

Ao chegar à praia, eles arrastaram o tritão ferido para fora do barco. Despreparados para lidar com tal criatura, eles se armaram com cordas e correntes para mantê-lo imóvel. As vozes deles ecoavam pela costa deserta, enquanto planejavam se deveriam chamar as autoridades. O controle de animais, talvez? Ou se deveriam levar a criatura consigo, exibi-la para os demais habitantes da cidade.

- Eu acho melhor chamarmos as autoridades. - sugeriu Minho, um dos pescadores mais jovens.

- Não, eu quero levar essa criatura para todos verem! Seremos famosos! - argumentou o capitão, determinado.

A criatura, incapaz de se comunicar ou se defender, tremia de medo. Seus olhos suplicavam para ser liberta, mas os pescadores, cegados pela empolgação e ganância, ignoravam seu sofrimento. Em um momento de descuido, a criatura inspirou todas as forças que lhe restavam e se libertou de suas amarras.

- Cuidado! Ele está fugindo! - alertou Jihoo, outro pescador, enquanto observava o tritão se debater.

Enfurecido, o tritão começou a atacar os pescadores desavisados, que não imaginavam que uma criatura tão delicada pudesse ser também tão mortal. Com suas garras afiadas, ele desferiu golpes fatais, cortando suas gargantas, arrancando seus membros, mergulhando o barco em um mar de sangue. Os gritos dos pescadores e o som dos ossos se quebrando inundavam a noite selvagem.

- Socorro! Não sabemos o que estamos enfrentando! - gritou desesperado, Kang, antes de ser atacado pelo tritão.

Em meio a um mar de corpos ensanguentados, o tritão se contorcia de dor, conforme sua forma começava a se metamorfosear. A pele pálida e escamosa foi sendo substituída por uma derme suave e humana, enquanto suas mãos antes ameaçadoras se transformavam em membros fracos e desengonçados, sua cauda foi separada de seu corpo como se trocasse de pele, dando lugar a um par de pernas.

Cambaleando, o recém-transformado ser humano se arrastou para longe da costa, seguindo uma trilha na densa floresta. Cada passo parecia torturante, pois seu corpo ainda não estava acostumado com a forma humana.

Enquanto adentrava ainda mais a mata, os olhos do tritão se encheram com lágrimas de medo e pavor. Lutando contra a fadiga, ele desmaiou em meio às árvores, envolto em pesadelos de seu passado triste e tortuoso.

Longe dali, a escuridão da noite engolia qualquer indício do terrível massacre que havia acontecido. O silêncio pairava, enquanto a criatura misteriosa mergulhava em um sono profundo e restaurador.

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To the next.