MERAKI [Shanks "O Ruivo"]

A palavra do capitão

Pouco tempo após o nascer do sol o silêncio foi quebrado pela voz conhecida de Yasopp.

O caçador tinha ouvidos treinados e, por coincidência, estava conferindo o lado leste da embarcação quando o som de água caindo ao chão chamou sua atenção. Olhando para os lados ele percebeu que aquilo vinha da pequena janela oval anexada no banheiro privativo do quarto do seu capitão. O homem de cabelos escuros sabia que seu chefe não estava utilizando aquele banheiro, mesmo que mantivesse a banheira sempre cheia e quente para o caso da hóspede acordar. Tudo indicava que ela estava acordada.

Ao ouvir as palavras do companheiro, o ruivo não se demorou em saltar da cadeira onde estava sentado e ir em direção ao quarto.

A bandeja de metal retangular era leve na mão do capitão. O ruivo passou na cozinha e pegou uma porção de comida, assim como teve o cuidado de passar na enfermaria e pegar alguns itens que ele sabia não ter mais em seu kit de primeiros socorros.

Conforme seus passos ecoavam pelo corredor e ele se via cada vez mais perto da porta de madeira, a presença dela o atingia. A densidade do ar era ainda maior do que a última vez em que ele a viu, deitada em um sono profundo sobre seus lençóis.

De frente com a porta, o homem encontrou um pequeno empecilho, sua mão estava habilmente segurando a bandeja e a maçaneta precisava ser aberta. Do lado de fora da porta existia um pequeno móvel, estrategicamente posto lá para situações como essas, deixando a bandeja sobre o aparador ele estendeu a mão, girou a esfera de madeira e entrou no quarto. Ele teve tempo de buscar a bandeja e deixar ela sobre sua escrivaninha antes da porta do banheiro abrir e ele perder o ar.

Shanks podia dizer que foi a onda potente de Haki emanando dela que o atingiu, mas não.

Foi a imagem daquela mulher de traços tão delicados e ao mesmo tempo tão exóticos que surgiu aos seus olhos.

O homem de cabelos vermelhos não pode evitar observar ela, a forma como os cabelos úmidos formavam pequenos cachos negros que emoldurava perfeitamente seu rosto delicado, os olhos profundamente azuis que o fitavam com tanta surpresa e, ele poderia jurar que viu um lampejo de confusão surgir antes de ser substituido por um olhar completamente determinado, mas que não escondia sua apreensão. O canto do lábio esquerdo dele subiu inevitavelmente com a cena, ela claramente estava intimidada com a presença dele — não que ele fosse uma ameaça — mas mesmo assim estava tentando manter a postura minimamente confiante. Shanks gostou muito daquela atitude em particular da morena.

Da mesma forma que ele a observava, Mysie o analisava. O cabelo vermelho vivo, as cicatrizes em seu rosto, o par de olhos verdes que brilhavam ao analisar a sua imagem — sem observar seu corpo exposto pela camisa aberta nenhuma vez.

— Quem é você? — ela gaguejou suas perguntas.

A voz suave saiu trêmula, em seu peito os batimentos estavam acelerados e ela não sabia dizer se era medo ou algo mais.