Não era um pássaro

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Sobre a penumbra gélida do porão, a garota voltou a sentir seu corpo

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Sobre a penumbra gélida do porão, a garota voltou a sentir seu corpo.

Após recuperar a consciência, Mysie permaneceu de olhos fechados por mais alguns longos minutos.

A percepção das amarras em seus pulsos era ressaltada pela dor, mas não comparava-se ao formigamento que a água salgada trazia ao seu corpo. Tudo doía, porém a sensação de alívio ao sentir o silêncio do porão foi o que tomou conta do seu pequeno corpo.

Ela abriu os olhos, as pálpebras pesadas piscaram algumas vezes até acostumar com a escuridão do ambiente. Um suspiro aliviado escapou por seus lábios ao constatar que não havia ninguém ali, ela estava completamente sozinha. A água salgada que Dunk despejou sobre seu corpo não secou, permanecia grudada a sua pele — impedindo a cicatrização de seus machucados.

Aquele ponto, a dor era a última coisa que vinha à sua mente. Havia uma sensação discreta que crescia em seu peito, um conforto naquele silêncio gelado, a certeza de que naquele momento ninguém voltaria a machucá-la.

Há momentos infelizes em que a solidão e o silêncio se tornam meios de liberdade.

(...)

Algum tempo se passou, Mysie não sabia dizer se ainda era noite ou se o dia já havia amanhecido, suspeitava que apenas algumas horas haviam se passado desde o momento em que o capitão a deixou ali dentro. A falta de janelas dificultava aquela tarefa. O cansaço cobrava seu preço, sentindo o corpo pesado e dolorido, que pedia por descanso, ela voltou a fechar os olhos e acabou dormindo quase imediatamente.

Durante seu sono, Mysie teve a impressão de ouvir o som de passos escondo no corredor, eram leves e nada ameaçadores, em seguida o som da porta de ferro abrindo e fechando, porém despertou apenas ao sentir um toque gentil e suave em seu rosto.

— Pobre garota... — sussurrou a voz baixa e suave, familiar aos ouvidos dela.

— Emma? — murmurou a garota, quando finalmente reconheceu a voz.

Emma era a cozinheira do navio, uma senhora baixinha e muito magra, tinha os cabelos loiros curtíssimos e os olhos castanhos. A luz fraca revelou que ela estava usando seu tradicional uniforme, um vestido marrom e um avental branco. Enquanto uma de suas mãos estava no rosto marcado por hematomas da jovem, a outra segurava a lamparina que iluminava o ambiente.

Assim que seus olhos se acostumaram totalmente com a claridade, Mysie sentiu um misto de apreensão e felicidade ao ver a senhora ali. Era arriscado e o capitão poderia punir ela.

— O que você tá fazendo aqui? — sussurrou a jovem. — Se o capitão te ver...

— Não se preocupe criança, o capitão pediu para eu soltar você. — a senhora respondeu, gentilmente tirando uma mecha de cabelo escuro que havia caído sobre o rosto dela.

Os olhos gentis de Emma observavam o rosto da mais nova com atenção, o olho direito estava coberto por um hematoma escuro que destacava ainda mais a pupila clara.

MERAKI [Shanks "O Ruivo"]Onde histórias criam vida. Descubra agora