The Next Morning

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Theo's POV

Eu sinto tudo, até parecer que não sinto o suficiente.

Depois que perdi a minha família para o acidente, há exatos quatro anos, convivo com a ansiedade a frustração e a culpa todos os dias da minha vida. Ok, estou aprendendo a lidar com elas fazendo escolhas tentando me proteger.... mas em alguns dias, nada que eu faça, ou que os outros tentem fazer por mim, vai funcionar.

Então eu venho para cá. Venho para a praia. O mar me acalma na mesma proporção que me apavora.

Me sentei nas pedras da praia e enfim consegui respirar. Acendi um cigarro e dei algumas tragadas.

O sol começava a despontar de leve no horizonte, meus cabelos ainda estavam molhados pela água salgada do mar. O ar estava gelado e as ondas aceleradas, assim como as batidas do meu coração. Senti uma pontada no peito. Eu precisava parar de fumar.

Até que eu comecei a chorar. Não por estresse, frustração ou medo, embora sentisse tudo isso. Estava chorando de saudade. Sentia falta do perfume da minha mãe, das piadas da minha irmã, das nossas festas do pijama juntos, de pegar onda com Tara antes do dia começar.
Lamentei pelas coisas que nunca mais aconteceriam. Lamentei por não poder contar a elas sobre Liam.

Apaguei o cigarro e estava pronto para me levantar e voltar para o bangalô antes que o sol surgisse por completo, quando ouvi um murmúrio atrás de mim.

"Theo." Era Liam, que já estava se sentando ao meu lado. "Tudo bem? Sem sono de novo?"

"É." Respondi, encarando as ondas que quebraram e fizeram espuma. "Eu gosto se vir à praia bem cedinho e observar as famílias de golfinhos cruzarem o oceano." Disse, ainda sem conseguir olhar para Liam.

"E alguma família já passou por aqui hoje?" Liam perguntou.

"Não. Só uma tartaruga" meu olhar estava perdido na imensidão azul do mar. Minha voz estava entalada na garganta e algumas lágrimas escorriam em meu rosto.

"Theo..?" Ele se sentou mais perto de mim "Pode me contar se quiser."

Silêncio.

Liam quebrou o nosso espaço pessoal me abraçando forte. Era um abraço desajeitado. Nós dois sentados, eu virado para o horizonte e Liam virado para mim. Seus braços entrelaçaram o meu pescoço e eu consegui sentir o cheiro doce de seus cabelos. Depois de alguns segundos ele se mexeu, deduzi que fosse para se afastar, então juntei toda a coragem que tinha dentro de mim e o segurei pela mão. "Continua me abraçando, Li" pedi. "Por favor".

Com nossos corpos colados e as mãos unidas eu enterrei meu rosto em seu peito e desabei em lágrimas. Eu não queria mais carregar esse meu coração partido.

"Descobri que eu tenho um problema no coração." falei aquilo que estava me consumindo por dentro. "As dores no peito me afetam de tempos em tempos. Sinto um aperto, sabe? E só acontece quando a adrenalina é muita ou quando o esforço que eu faço passa dos limites."

"Então... quando você surfa..." Liam concluiu, com os olhos arregalados.

"Quando eu surfo". Disse por fim.

Liam depositou um beijo no topo da minha cabeça e eu ouvi seu coração palpitar. "Eu não vou sair do seu lado. Você vai encontrar outra coisa que goste de fazer tanto quanto surfar. Não se preocupe. "

E, pela primeira vez...naquela manhã, naquela praia, quando Liam fez a minha doença parecer um obstáculo fácil de superar; soube que conseguiria seguir em frente.

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Estávamos sentados na minha picape, prontos para irmos tomar café da manhã, quando minha mente me atingiu com um um pensamento que eu precisava esclarecer.

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