João Neves

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João Neves

Uma das coisas que mais gostava na vida era da Leonor, sim! Uma das coisas que mais gostava na vida era a Leonor, e repito, porque era. 

Sempre questionei porque acabaria com a minha pessoa preferida, e sempre que penso nisso, não me vêm respostas a boca, porque não sei porque tomei tal decisão repentina, mas tomei e nestes últimos anos, arrependo-me. 

Era um facto, e não menti, ela é o meu passado, ela está no meu passado, mas continua a assombrar-me. 

Ontem reencontrei-a, ouvir aquela voz, ver aqueles olhos, fizeram ver que errei e que tomei uma decisão má, que na altura pareceu-me ser a única opção, não quero que me julguei por uma ação infantil feita no passado, mas não podia voltar atrás e admitir que estava errado, era muito orgulhoso para isso. 

Então encontrei uma namorada, uma ação infantil, mais uma para acrescentar no currículo. 

Quando vi a Leonor, eu ainda senti algo, mas eu sabia que ela já não, então para quê lutar mais?

Sou amaldiçoado pela minha ação, mas sofro com isso quando vejo a minha namorada a falar com a Leonor, tinha chegado bastante atrasado ao almoço, porque a foi buscar a Coimbra, a Mariana é uma amiga minha já de longa duração e aceitou ser a minha namorada para fazer ciúmes a Leonor, estúpida ação.

Fui até ao exterior da casa e apresento a Mariana ao pessoal, mas depois volto a entrar, mas fico a espreita, a voz de choro da Leonor era nítida e quem estava lá para a ajudar era o Bruno.

- Que bomba! - diz a comer umas batatas.

- O que foi? - Pergunta bruscamente.

- Não estava nada a espera. - diz.

- O que queres Bruno?

- Nada! Só quero saber se estás bem! Posso chamar o teu irmão, ou outra pessoa.

- Não. Por favor não. - Implora-lhe.

- Ainda gostas do Neves? - Pergunta devagar e eu fico com o coração nas mãos.

- Podia passar duzentos anos luz, e estaria a mentir se dissesse que não. - Admite e eu quase que caí.

- Porque acabaram?

- Queríamos coisas diferentes, na altura eu estava a expandir-me na música e ele no futebol, e não tínhamos tempo, eu tentava consolidar tudo, mas eu percebi que ele não, discutíamos muito e isso acabou por afetar o resto. - Baixo a cabeça, fui um idiota. 

- Gostava de vocês como casal. - admitiu a comer batatas, ela rouba-lhe também batatas, coisa dela, ela amava comer batatas. - Admito que eram um casal incrível, mas todos os casais passam por dificuldades e coisas.

- Pois, mas nós não vamos voltar. - Engolo a seco com a observação.

- Posso ser antiquado nisto, mas eu conheço o Neves ele é relativamente transparente quando se trata de demostrar emoções e quando ele está no mesmo espaço que tu, ele ganha luz, não sei se conheces a sensação, mas vejo-o isso em ti, quando estás com ele. Adoro-te não só porque és irmã dos Félix, adoro-te como pessoa e profissional, e ver-te a sofrer faz-me mal ao coração. Quero que voltes sorrir e não quero ver a mesma cara que vi agora.

- Como vou olhar para ele?

- Da mesma maneira, eu sei que é difícil, mas os teus amigos têm saudades tuas e tu não estás a  aproveitar. Estás a regredir. Vá vamos nos divertir, ser felizes. - Sorri e abraço-o.

- Obrigado. - digo e ele sorriu.

Regresso para a zona da piscina e sento-me perto da Mariana.

- O que foi? - Pergunta baixo. 

- Não acho que tenha sido uma boa ideia! - Comento no mesmo tom. 

- O que aconteceu para mudares de ideias? - O Bruno e a Leonor regressaram e eu fico por breves segundos a olhar para ela. A Mariana dá-me uma cotovelada e eu desvio o olhar, eu era ridículo, tinha "namorada" e estava a olhar para outra. - Pois já percebi porque, também mudava de ideias se gostasse dela. - Diz a morder os lábios. 

- Hey! - Ela riu-se. 

- Tenho namorada Neves, cresce! - diz baixo, foi um dos motivos pelos quais a escolhi, ela não ficaria mal quando decidisse "acabar".  Agora que penso nisto foi uma decisão egoísta. - Neves, porque não lhe dizes? 

- Ela não quer nada comigo, e ela está..

- No teu passado já sei, mas tu não sabes realmente se é isso que ela sente. 

- Não quero falar nisso Mariana, por favor. - Ela afirma e vira a cara, estamos nas espreguiçadeiras, ou seja um pouco longe dos outros, por isso ela levanta-se e estica-me a mão. 

- Vamos, vamos comer que tenho fome! - disse e eu sorri, agarro a sua mão para ser credível, mas sou apanhado. 

- Eu sou loira João Neves? - disse a Carolina baixa. 

- Não!

- Então porque estás a fingir... - Puxo-a para o interior da casa e puxo-a para o interior da casa de banho.  - Okay! - diz a rir. 

- Carolina não podes dizer a ninguém! - disse próximo dela.

- Estás mesmo a fingir um namoro? - Engolo a seco. - Porquê?

- Porquê Neves? - O António entra na casa de banho. 

- Porra! - Tranco a porta. - Não podem dizer a ninguém. 

- Por quem me tomas Neves? 

- Por favor, foi uma má decisão. 

- Quando vi a Mariana não consegui acreditar. Todos sabemos que ela é lésbica. 

- Eles não sabem e a Leonor também não, e vai continuar assim! 

- Porquê? Tu gostas da Leonor, não gostas?

- É difícil e eu não tenho hipóteses.

- Não digas isso João, tu não sabes o que ela sente.

- E vocês sabem? - Pergunto.

- Fala com ela. - diz o António.

- Não, seria arriscar tudo. 

- Arriscar o quê? 

- Se eu admitir que gosto dela, que a amo, o que ela vai pensar de mim? Nós acabamos por minha causa, iria arriscar pelo menos o que tínhamos. 

- Vocês nem amizade têm, irias arriscar uma história do passado? Ou irias arriscar um futuro feliz? Vocês gostam um do outro, para quê negar?

- Vocês não percebem, ela não gosta de mim, eu ouvi isso, ela não gosta, e é melhor assim. - Destranco a porta e saí. - Obrigado, mas não quero ajuda nisto, não quero, e não tentem arranjar forma de arranjar o que já está em pedaços. Fiz merda e estou a sofrer por isso, mas esqueçam entre eu e ela não vai haver mais nada.



Música do Coração | João NevesOnde histórias criam vida. Descubra agora