João Neves

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Depois de ver o concerto eu fui-me embora, o pessoal convidou-me, mas eu não quis ir, claro que me arrependi e tive que ir ao último minuto. O concerto acabou cedo, por isso fui comer qualquer coisa, como não queria ficar em casa fui até a um bar não muito movimentado, não bebi nada alcoólico, apenas uma limonada com gelo, não sei quanto tempo fiquei com a limonada no copo, mas quando me apercebo das horas já era hora de ir. Regresso a casa em passos de corrida, devia estar mais atento. 

Mas o tempo parou e foi a pensar nela, naquela maldita morena, que rouba anos de renda no meu cérebro sem pagar. 

- Aquela irmã do Félix é uma brasa, tem um corpo lindo! - diz um rapaz bêbedo, pensei que estariam a pensar noutra pessoa, mas o fumo daquela noite, fez-me perder a cabeça, seria manhoca ou ganza?

- Seria uma bela puta de estimação! - Paro metros a frente dos 3 rapazes podres de bêbedos. 

- O quanto fodo a pensar nela... - Viro-me para trás e o grupo olha para mim. 

- Deviam respeita-la! - digo a encher os pulmões de ar e a ganhar coragem. Era um erro, mas ninguém ofendida a Leonor, não quando eu estivesse vivo. 

- Perdeste uma bela mulher, em Neves! Onde tinhas a cabeça? - Lá isso tinha razão, não pensara muito nisso na altura. 

- Não quero confusões! - Digo. Porque te meteste então? Tinha a voz da Leonor marcada no cérebro, como se fosse o meu subconsciente. 

- Devias ter pensado nisso antes! - Um deles agarra-me, a minha visão ficou destorcida e por alguns segundos tive forças para defender-me e defender a minha honra como homem, mas 3 contra um, não era um bom número. 

- Ela está solteira, e tem cara de uma puta, não podes negar isso. - Dou-lhe um pontapé nos tomates, mas sou agressivamente puxado para o chão pelos outros dois, levo murros e pontapés, e fico ali sem alternativa de reagir, um carro aproxima-se e eles fogem, eu deito a cabeça na calçada e tento manter-me acordado, bati demasiadas vezes com a cabeça no chão. 

 Quando estava prestes a adormecer, sinto o telemóvel no bolso e ligo a primeira pessoa da Lista. A foto da Leonor apareceu, ela era mantida no topo, assim como a minha mãe e o meu pai. Não sei porque o mantinha ali, mas talvez precisasse de ouvir a voz dela naquele momento.

- Neves? Ficaste maluco? - Ela atende raivosa.

- Preciso de ajuda! - Digo a perder a consciência aos poucos.

- Neves? Onde estás? - A voz dela alterou-se para um tom preocupado.

- Não sei. - Admito.

- Estás bêbedo?

- Não! Apanhei porrada. Por defender-te. - Admito novamente a verdade. 

- Onde estás

- Vou adormecer.

- Não Neves. Precisas mandar-me a tua localização.

- Não sei fazer isso.

- Sabes sim, acorda Neves! - Tento mandar-lhe aquilo.

- Mandei.... - Digo num sussurro pesado.

- Neves... Fala comigo.

- Tu és a Culpada. - Lágrimas caíram dos meus olhos. 

- O que aconteceu? - Ela muda de assunto. 

- Estavam a falar do teu corpo. A dizer o quanto eras boa numa casa de prostituição. Não admito.

- Porque Neves?  O que estás a ver João Pedro?

- Luzes, muitas luzes.

- Mais.

- Um carro vermelho.

- Mais o quê?

- O meu anjo da guarda.

- Deixa o anjo e diz-me o que vês.

- Um prédio grande.

- Estou a chegar João.

- Tenho sono. 

- Não João Pedro Gonçalves Neves, estás a ouvir-me!

Apago por alguns segundos. Sinto-a chegar, o perfume dela chegou ao meu nariz.

- Porquê Neves? Porquê?  - Ouço a voz dela a pedir socorro para eu reagir. 

- Porque eu ainda te amo.  - Admito com lágrimas nos olhos. Apago

Vou despertando e acordando, não sabendo onde estava ou com quem. 

- Neves por favor não me deixes. - Ouço a voz dela de longe e apago novamente. 

(...)

Leonor Félix 

Sentada naquela cadeira de hospital fez-me pensar, ao frio, a pensar em mil coisas. Porque ele iria arranjar problemas para defender-me? Porque ainda me amava? Ou porque era maluco? Pensei em mil assuntos, em outros milhares de cenas que justificaram o seu comportamento, mas realmente não encontrava nada. 

- Familiares de João Neves? - Levanto-me, disse por acaso que era namorada dele e os pais dele morarem no Algarve, o que não era mentira a segunda parte. - Ele encontra-se bem, e terá alta a tarde, devia avisar o seu namorado que não devia meter-se em brigas noturnas.

- Eu aviso! - Sinto o meu telemóvel tocar, e vejo o número do meu irmão mais velho, recuso a chamada, já eram 09 horas e eu não tinha avisado ninguém. 

O número da minha mãe apareceu no ecrã e eu atendo após pedir ao médico para esperar.

- Onde estás? 

- Estou no hospital! Eu estou bem, estou com o Neves, 

- O que aconteceu? Levas o carro, e não avisas? 

- Eu explico depois!

- Mas o João está bem?

- Depois de apanhar de mim, não sei! 

- Leonor!

- Ele está bem! Levou uma bela porrada, eu vou vê-lo agora, falámos depois! 

Desligo a chamada.

- Ele está a dormir, mas deve acordar a qualquer momento! - disse e abre a porta de um quarto, vejo o Neves deitado a soro. Respiro fundo ao ver o seus olhos negros, e com alguns pontos na testa, na barriga, e nos braços. Ele deixa-me sozinha com ele. 

Aproximo-me dele e passo os dedos pela sua face, ligeiramente para não o acordar, mas missão falhada, os olhos dele castanhos, abrem-se e cruzam-se com os meus. 

- Desculpa!

Beijo-o.

Música do Coração | João NevesOnde histórias criam vida. Descubra agora