"Vou examinar os quartos por ordem numérica. Até agora, a única coisa estranha que encontrei foi uma caixa com maçãs frescas na cozinha e um bilhete falando sobre essas maçãs. Ah, e a chave que você me disse. Realmente estava na roseira dos fundos. Só não sei qual quarto abre, vou precisar testar em todos. E quando os reforços chegam, Adam? Vou demorar muito se for procurar sozinha aqui." Foi isso que escutei ela dizendo para aquela caixinha esquisita na noite anterior. O nome da caixinha é Adam? E como a caixinha contou para ela onde Lore escondia a sua chave todas as vezes? Tenho muitas perguntas, mas sei que vou ser ignorado se tentar puxar assunto.Então, ela se levantou e voltou ao saguão do hotel, indo em direção ao primeiro quarto, o 111. A porta desse quarto sempre deu problema. Ela jogou o próprio corpo contra a porta, fazendo com que ela se abrisse com um barulho alto. Então ela entrou, e acho que se assustou um pouco ao ver os quadros nas paredes. Eram todos com o rosto de Lore. Quando ela era criança, gostava de brincar com terra e plantar muitas sementes, e retratei essa cena várias vezes. Mas, meu quadro preferido é o que ela está sentada na cozinha, comendo uma maçã. Lore adorava maçãs, então sempre mantinha uma caixa com meia dúzia de maçãs bem vermelhas na bancada, para quando ela sentisse vontade. Ela tinha cabelos ruivos longos, sardas e lindos olhos cor de mel. Achei estranho quando a hóspede pegou sua caixinha e apontou para os quadros de Lore, reconhecendo imediatamente seu rosto. "Essa deve ser a Lore Amberfield." Como ela conhecia a minha Lore? Não me lembro de tê-la visto uma vez sequer, então garanto que a Lore também não a conhece. E além do mais, Lore está no exterior; não tem como elas terem se encontrado. Continuou avaliando o quarto onde guardava as pinturas, passando os dedos meticulosamente pelas bordas de cada quadro. Pedi que não tocasse nos meus quadros, mas ela continua fingindo que não me escuta sempre que falo alguma coisa. E então, voltou a falar com a caixinha esquisita: "Oi, Adam? Fico feliz que esteja chegando. Vou te esperar no saguão. Cuidado com o portão, ele é barulhento." Guardou a caixa na bolsa de duas alças e foi até o saguão da mansão, ficando lá esperando. Mas, esperando o que exatamente? A pessoa que estava dentro da caixinha viria vê-la? Não esperava por mais visitantes, mas são sempre bem-vindos. Então escutei o barulho do portão se abrindo e de passos indo em direção à porta de carvalho do saguão, e em seguida, três batidas: toc, toc, toc. A hóspede abriu a porta, e um homem alto, de cabelos negros e cortados acima da orelha, de olhos tão escuros quanto a noite e de pele tão clara que quase era possível ver seus ossos, a cumprimentou: "Oi, Emy. Como você conseguiu passar a noite aqui? O cheiro é horrível. Tenho medo de andar e pisar em uma barata nesse lugar, ou até em algo muito pior." Que falta de cordialidade! Falar coisas desagradáveis bem na minha frente. E além do mais, é sem educação: também não me cumprimentou ao entrar. Saiu abrindo portas e agia tão estranho quanto Emy.Agora que descobri o nome dela, será mais fácil quando precisar chamá-la. O que eu espero que não precise acontecer, já que ela nunca me responde mesmo. E então, os dois começaram a andar pela mansão, entrando de quarto em quarto, avaliando atentamente toda a mobília. Resolvi então perguntar se eles queriam beber algo, pois desde que Emy chegara não a vi nem sequer molhar o bico. Como eles não deviam gostar muito de pessoas desconhecidas, peguei dois copos e os enchi com água e coloquei em cima da pia, e anotei um bilhete: "Estão com sede? Bebam isto." Eles andaram por todo o primeiro andar, até que chegaram até a cozinha. "Meu Deus, o que está acontecendo aqui?" Disse o Adam, que é o homem que saiu da caixinha quando viu os copos limpos e com água na bancada. "Emy, fala que foi você que colocou isso aqui pra gente, por favor." Eles se entreolharam e Emy soltou um suspiro e disse: "Adam, eu preciso que você se acalme. Não fui eu, mas não precisamos nos desesperar." E então eu vi aquele homem gigante apavorado, ficando mais transparente do que já era, e tentando sair correndo, mas Emy agarrou seu braço e disse: "Estamos sendo observados. Definitivamente correr não é uma boa ideia." Eu estava encostado no pilar da escada, no saguão, olhando eles terem essa conversa. Será que eles realmente são tão desatentos que não notam minha presença? Será que é porque sempre estou em silêncio? Vou tentar não assustá-los da próxima vez.A noite caiu lentamente, e vi os dois indo até o quarto onde Emy deixara sua bolsa, o qual decidiram que era o melhor para dormir em segurança. Quando o sol nasceu, vi Emy ir até o banheiro mais próximo e tomar um banho. Pensei em pedir desculpas pela poeira, mas para ela não parecia fazer diferença. A água ainda era quente, pois o sistema de aquecimento de água continuava como novo. Emy lavou os cabelos e saiu do banho. O azulejo do banheiro escorria gotículas de água, e não se via nada no espelho, de tão embaçado.Resolvi então perguntar o que eles tanto procuravam nos quartos, para caso pudesse ajudá-los. Deixei minha mensagem no espelho, dizendo "O que vocês estão procurando?" e voltei ao jardim, para regar algumas flores e cuidar da grama. Em menos de 10 minutos, escutei um grito alto, e logo percebi que era Adam pela sua voz. Ele chamava por Emy, que foi correndo até o banheiro ver o que havia acontecido com ele. Quando chegou, ela viu minha mensagem, e arregalou os olhos. "Tudo bem, Adam. Fica calmo. Deve ser só alguém brincando com a gente. Vamos, saia do banheiro." E então ele saiu, e ela ia saindo logo em seguida, quando se virou de volta pro banheiro e disse: "Quem quer que esteja fazendo isso, por favor, pare. Nós só viemos investigar a morte do Willie, em alguns dias iremos embora." Quando escutei isso, parei por um momento e pensei "Quem é Willie? Por que vieram investigar a morte dele na minha mansão?" Tem algo muito errado. Eles não falam comigo, e estão investigando algo aqui. Eu preciso saber o que está acontecendo.
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A Mansão Amberfield
Fiksi SejarahNuma mansão isolada, a chegada misteriosa de uma visitante intrigante desencadeia uma série de eventos peculiares. Ao dar-lhe as boas-vindas, o anfitrião observa a estranheza nos detalhes: olhos claros que investigam cada canto, roupas peculiares e...