Makaria 》Taekook

Oblívio

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Boa Leitura ☘️

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Já faz muito, muito tempo
Desde que eu memorizei seu rosto
Já faz quatro horas agora
Desde que perambulei ao seu redor
E quando eu durmo no seu sofá
Eu me sinto muito seguro
E quando você trás os cobertores
Eu cubro o meu rosto
Eu realmente
Amo você

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Fazia alguns meses desde que Taehyung havia voltado para o lugar onde morava. Todos na cidade sabiam sobre o ocorrido, muitos consideraram o homem como um guerreiro por ter sido o único que sobreviveu ao desastre em alto mar.

Ninguém acreditou quando ele contou sobre a floresta, os animais exóticos e sobre Jungkook. No início o Kim ficou irritado por todos o acharem um louco, mas agora ele agradecia por ninguém tê-lo levado a sério. Jeon Jungkook e a floresta deveriam ficar em segredo, não era seguro fazer com que alguém criasse curiosidade de achar o lugar, ele jamais se perdoaria se machucassem a mãe natureza por sua culpa.

Taehyung começou a vender trabalhos artesanais feitos com madeira seca, ele realmente parou de caçar e pescar, suas viagens pelo mar eram apenas para negócios e passatempo, nunca mais tocou em um ser vivo com a intenção de matá-lo.

A tarde estava quente como de costume, o ex-pirata pisava na areia fofa enquanto encarava a água. Mesmo depois de tanto tempo, Taehyung ainda esperava ver Jungkook nadando no mar, ou até mesmo Atlas cavalgando feliz da vida por ali.

Ele sempre ia até a praia, todos os dias sem falta, para contar sobre seu dia. O Kim falava sobre sua família, sobre o trabalho e sobre as novas pessoas que conheceu, e ele tinha a sensação de que Jungkook estava mesmo o ouvindo.

Uma vez, enquanto ele molhava os pés na água e dizia como estava contente, uma maçã vermelha e suculenta apareceu do nada em meio a água e boiou até ele. Automaticamente Taehyung se lembrou de quando subiu em um árvore para pegar uma maçã bem parecida com aquela, se esforçou ao máximo para no fim entregar a fruta a Jeon. Depois daquilo, de ver aquela maçã quase que caminhar em sua direção, ele passou a acreditar ainda mais que Jungkook o ouvia.

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- Jeon, o doutor Byun está te chamando na sala dele.

- Valeu, Hana. - Jungkook escreveu algo na folha da prancheta que carregava para cima e para baixo e em seguida enfiou a caneta no pequeno bolso do jaleco.

Ele caminhou pelo extenso corredor branco até estar de frente para a porta da sala de seu chefe. Jeon não queria entrar porque ele sabia qual conversa teria com o homem do outro lado, mas mesmo assim ele girou a maçaneta.

- Boa tarde, Jeon. Muito ocupado?

- O dia está corrido hoje. O que foi? Precisa de alguma coisa?

- O hospital me enviou o diagnóstico, não tem mais o que fazer.

Jungkook sentiu seu coração afundar dentro do peito e ele se sentou na cadeira com dificuldade. Esperou todos aqueles anos se passarem, se esforçou ao máximo para no fim receber um "não tem mais o que fazer".

- Tem que ter alguma coisa, sempre tem.

- Jungkook, olha... - Byun cruzou as mãos em cima da mesa e olhou para Jeon com pena - Eu entendo sua relutância, sei que você queria outro resultado mas a realidade é essa. Taehyung chegou em um nível de transtorno mental onde não se há nada para fazer.

- Ele me reconhece ainda.

- Sim, ele te conhece como Jungkook, o fantasma da floresta encantada. - o homem falou e a realidade acertou em cheio o estômago de Jeon - Se você o ama mesmo, tire ele desse sofrimento.

Jungkook levantou da cadeira, abriu a porta e a bateu em seguida. Ele marchou furioso até o jardim e lá estava o Kim, pegando flores e as enrolando umas nas outras como sempre fazia.

Ele ficou ali parado apenas observando o sorriso bonito do outro, Jeon não conseguia acreditar que aquele homem não era mais quem ele havia conhecido a treze anos atrás.

Taehyung era saudável, comia bem, lia sempre e era um ótimo funcionário na livraria na qual trabalhava. Jungkook se apaixonou de cara e meses mais tarde ele e o Kim assumiram um relacionamento sério, anos depois veio o casamento. Tudo estava bem até que o mais velho começou a esquecer coisas, depois a ouvir coisas, e depois a ver coisas. A cada dia a situação piorava e Jungkook sabia o que estava acontecendo, só não queria acreditar. Então ele levou o marido para um psiquiatra, onde longos meses se arrastaram até que o diagnóstico definitivo viesse.

Esquizofrenia. Em estado avançado onde a pessoa distorcia tanto a realidade que não conseguia voltar para o mundo real. E depois Taehyung teve que ser internado, Jungkook já era enfermeiro então decidiu trabalhar no local onde o marido estava.

E no aniversário de sete anos de namoro deles, o Kim foi para o mundo das fantasias e não voltou nunca mais. Ele agora dizia ser um ex-pirata, sempre que via Jungkook ele achava que estava sonhando e dizia muitas coisas sem sentido. Realmente, Byun estava certo, não havia mais nada a ser feito.

- Fantasma, você outra vez? - Taehyung perguntou cutucando o ombro de Jeon que apenas sorriu.

- Estou sempre por aqui, de olho em você.

- Deveria parar de entrar nos meus sonhos e me encontrar na praia um dia desses. Poderíamos nadar de novo, e depois eu te levaria até a barraca para fazermos amor. - ele mexeu as sobrancelhas e Jungkook assentiu.

- Claro. - suspirou - Eu preciso ir agora, nos vemos daqui a pouco.

- Na praia?

- Sim, na praia.

- Até mais, meu amor.

Meu amor. Mesmo depois de tanto tempo naquele estado Taehyung chamava Jeon assim, porque mesmo com o cérebro se deteriorando ele ainda lembrava que amava Jungkook mais que tudo.

O Kim se esqueceu dos pais, dos irmãos, dos primos, dos tios e até mesmo do gato que tinha desde a infância. A única pessoa que ele se lembrava era Jungkook, seu marido.

- Você me parece pra baixo. - Hana falou abraçando Jeon pelo ombros - Sem notícias boas?

- É. - respondeu embargado - Vamos fazer, Hana.

- O que? - a mulher entrou na frente do amigo e arregalou os olhos - Não me diga qu-

- Vamos fazer a porra da lobotomia.

Taehyung nunca mais se lembraria de nada, nem mesmo da floresta encantada e do homem bonito que perambulava pelas árvores.

Tudo ficou escuro horas mais tarde.

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* Oblívio: Ação ou efeito de esquecer; perda de memória; esquecimento.