Capítulo I

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Assim que fui anunciada, parei por alguns instantes no topo da escadaria e pude ver o salão principal lotado de pessoas que vieram nos prestigiar. Nobres de toda parte do reino e de reinos vizinhos aliados. Enquanto descia, olhava para os detalhes do castelo, as escadarias de mármore, as colunas esculpidas, os arranjos preparados para o baile.

Eu estava tentando conter as minhas mãos e minhas pernas que se recusavam a me obedecer, senti meus estômago embrulhar, mas tentei manter um sorriso no rosto que aparentemente esteja a sendo bem convincente. Segui até onde estava minha família e os comprimentei com uma breve reverência.

Minhas irmãs estavam lindas. Não seria para menos, herdaram a beleza da nossa mãe, com seus olhos tão azuis quanto o mais profundo dos oceanos. Suzana era o exato clone, pois herdou até os seus cabelos castanhos que frequentemente eram ditos como pretos por quem a conhecia. Selina, mesmo tendo os olhos e as feições mais parecidas com as da nossa mãe, nasceu com os cabelos loiros, assim como os meus, traços da genética de nosso pai. Seus vestidos brilhavam e só as evidenciavam ainda. Eu queria muito poder conversar com elas, mas as formalidades daquele momento não nos permitia.

Nosso pai, o Rei Nereus, iniciou seu momento de fala para dar início ao baile oficialmente:

- Boa noite a todos! Desde já, em nome de minha esposa, filhas e todo o reino de quero Zenfir, agradecer por estarem aqui comemorando os 500 anos de um reino que não existiria sem vocês, familiares, súditos e amigos. A festa de hoje não homenageia a um território, mas a um povo, o nosso povo, a nossa história.

O som dos aplausos ecoava pelo castelo, assim que diminuiram, minha mãe assumiu a fala:

- Eu, como rainha e esposa de vosso rei, faço de duas palavras as minhas e acrescento dizendo que esse dia marca nossas vidas de várias maneiras diferentes. Hoje apresentamos a princesa Safira oficialmente como princesa herdeira.

- Seu futuro aqui não será mais um boato. Sei que nossas leis estabelecem os filhos como principais herdeiros do trono, independente de serem mais novos ou mais velhos que as filhas, mas fui abençoado com três lindas filhas e não deixarei que ninguém coloque as mãos no que deve ser deles, já que não possuem irmãos. Sei o quão competente Samira é e o quanto sempre se esforçou para tal posto.

Nesse momento meu pai olhou para mim e sorriu, tirando um peso enorme de cima de meus ombros, mas só por um breve momento. O medo tomou conta de mim quando ele apresentou a família real de Sparks e, consequentemente, meu futuro marido. Eu sempre soube que os casamentos na corte eram em sua maioria arranjados, tudo por uma questão diplomática. Era tudo pelo reino e eu sempre soube disso. Não poderia me dar ao luxo de amar alguém que não fosse me apresentado por meio de um acordo. Eu não poderia dizer não. Tinha que seguir, como dizem: "Com a cara e com a coragem", no meu caso, só a cara, pois a coragem não ousou se apresentar para mim desde o momento em que eu havia me levantado da cama naquele dia.

O rei Otávio de Sparks teve seu momento de fala, mas não consegui me concentrar em nenhuma de suas palavras. Meus olhos miraram em seu filho mais novo, Aaron. No quesito beleza, eu não poderia reclamar, ele era um rapaz bonito, muito mais do que eu imaginei, até. Seus cabelos castanhos claros, olhos âmbar, os traços de seu rosto eram bem definidos. Fiquei pensando em como seria o futuro que nossas famílias haviam escolhido para nós dois e se eu seria capaz de um dia ama-lo.

Meus devaneios devem ter durado mais do que imaginei, pois quando dei por mim, o príncipe já está vindo em minha direção e estendo a mão direita após um comprimento me perguntou:

- Me concede a honra desta dança, princesa?

Olhei em volta e então me dei conta que o baile não começaria sem que eu abrisse a dança. Respirei fundo e estendi minha mão em sinal de aceitação. Ele a segurou com delicadeza, deu um beijo suave nela, como um verdadeiro cavalheiro e me conduziu até o centro do salão, deu o sinal para os músicos e assim iniciamos a primeira dança da noite e logo que a segunda parte da música tocou, fomos acompanhados pelos demais convidados da noite.

Ele ficou o primeiro ato da valsa em silêncio, o que de certa forma me agradou. Eu não estava confortável o bastante para iniciar uma conversa com ninguém, inclusive me esforcei para não ficar em seu rosto novamente e ser flagrada.

- Está nervosa, princesa?

Sua pergunta me deu um pequeno susto, eu esperava manter o silêncio sepulcral que se faziam presente entre eu e Aaron.

- Por que acha que eu estaria? Sou uma princesa, como você mesmo me chamou. Estou acostumada com ocasiões como está. - respondi.

Ele deu um riso um tanto quanto sarcástico, mostrando que claramente não se convenceu do meu argumento.

- É mesmo, princesa?! Deve ser por isso que suas mãos estão tão geladas quanto os rios durante o inverno. Suponho que seja autoconfiança.

Não acreditei no que havia acabado de ouvir. Se até então eu estava evitando olhar para ele, sua resposta me fez olha-lo com extrema indignação. Eu detestava ser tratada com ironia.

- Nossa! Esse olhar é diferente daquele que a princesa lançou sobre mim antes da dança. Confesso que o olhar anterior era mais convidativo. - disse Aaron.

Droga! Então ele percebeu. Eu não estava acostumada a ter alguém que soubesse me ler além da minha mãe, minhas irmãs e Rarima.

- Não vai me falar nada? Vai continuar tentando fingir que não estou aqui, princesa?

Minha intenção não era ignorá-lo, por mais que eu quisesse fugir dalí. Ser indelicada não era algo que eu havia pensado em ser, mas algo não estava me deixando ser a princesa que fui educada para ser. A presença dele me desestabilizou de uma forma estranha. Eu vi que sua pergunta não soou em tom de provocação como suas palavras anteriores. Dessa vez, foi num tom de frustração. Não consegui responder, não consegui fazer mas nada. Parei onde estava, dei um passo para trás e olhei ao redor.

De repente todos pararam de dançar, a música parou, mesmo sem tem chegado ao fim. Senti os olhos do salão inteiro em nós. Os olhos de Aaron me fitar, mas a dúvida em seu olhar era tanta, que tive certeza que, dessa vez, ele não conseguiu me decifrar. Acho que nem eu mesma seria capaz de me entender, mesmo que estivesse me olhando no espelho.

As minhas mãos que já relutavam em parar de tremer, agora estavam agarradas a saia do meu vestido. Parecia ficar cada vez mais difícil de respirar, meu coração estava tão acelerado como se eu tivesse corrido por todas as montanhas de Zenfir. Parecia que eu estava sob um perigo eminente, ao ponto de que decidi correr de onde eu estava, mas minhas pernas não me obedeceram. Na verdade, nenhuma parte do meu corpo me ajudou naquele momento. Tudo o que lembro é de ter dado alguns passos, não sei para qual direção e sentir alguém me segurar.

Entre a Coroa e o CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora