Capítulo II

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Não sei exatamente que horas eram, mas sabia que era madrugada, pois os bailes de comemoração do reino, nunca terminavam antes da meia noite e, da janela do meu quarto pude ver as carroajens se distanciando do palácio.

Acredito que o meu incidente não tenha sido forte o bastante para acabar com a festa, mas com certeza daria o que falar. Eu estava me sentindo envergonhada. Como eu perdi o controle desse jeito? Sempre fui mestre em ocultar minhas emoções, mas dessa vez deixei-as expostas para todo mundo. Era mais um motivo para duvidarem da minha capacidade como futura soberana.

Mesmo estando sozinha naquele quarto enorme, eu estava sufocada. Depois que acordei, pedi para que me deixassem sozinha, mas minha mãe só permitiu porque prometi tentar descansar. Eu também não queria que continuassem me perguntando o que havia acontecido, era constrangedor. Bastava o constrangimento antecedente.

Alguém abriu a porta do meu quarto lentamente, como se não quisesse ser notado. Somente o meu abajur estava aceso, mas nem precisei olhar para saber quem era.

- Você prometeu que iria descansar!

- Não! Eu prometi que tentaria, mãe. Mas não consigo desligar, mesmo estando completamente exausta. Parece que fui esmagada. - respondi.

Ela fechou a porta do quarto e sentou ao meu lado na outra poltrona próxima a janela em frente a minha. Colocou uma bandeja com duas xícaras em cima da mesinha que dividia o espaço entre nós. Pelo cheiro, eu sabia que era chá de camomila e que eu não era a única a não conseguir pregar os olhos.

Minha mãe colocou chá em ambas as xícaras e me entregou uma delas.

- Beba, mas com cuidado, pois está bem quente. - disse ela enquanto buscava entender o que meus olhos tanto buscava através da janela aberta, permitindo que uma leve brisa da madrugada entrasse. Ela bebeu um pouquinho do seu chá e continuou falando. - Eu te conheço o suficiente para ter certeza que entraria aqui e a senhorita não estaria em sua cama e também para saber que não quer falar sobre isso, mas você sabe que precisa. Não pode passar a vida a mercê do que os outros vão pensar, filha.

Respirei fundo:

- Eu não me importo com o que ...

- Se importa, sim. Você é minha filha, Safira. Eu sei que isso te atormenta e que o que aconteceu hoje, para você, é um sinal de fraqueza, principalmente por estar na frente de um completo estranho a quem foi lhe imposto ser seu noivo. - disse ela ao me interromper.

Meus olhos marejaram, por um instante. Ela queria que eu chorasse, não para me ver triste, mas porque sempre foi assim. A rainha Eliza, também conhecida por mim como mãe, sabia que chorar nunca foi algo que me permiti, mas que nos raro momentos em que isso acontecia, eu conseguia me tranquilizar. O problema não era só chorar na frente das pessoas, eu me recusava a chorar mesmo sozinha. Por mais que ninguém de fora do meu quarto fosse saber, eu saberia.

Segurei aquela lágrima teimosa com todas as forças que eu tinha. Ainda bem que obtive êxito e, como dizem por aí: "engoli o choro". Me mantive em silêncio, afinal nenhum dos meus argumentos saíram vencedores diante da minha mãe. Mesmo que tentasse, falharia miseravelmente e ainda iria colocar para fora a lágrima que aprisionei com muita dificuldade.

- Eu sei que tudo isso gera uma ansiedade gigantesca, mas acredite em mim, vai dar tudo certo. Eu e seu pai somos a prova viva de que o amor pode surgir de um casamento arranjado. Quem nos vê hoje, nem imagina que não suportávamos a ideia de casarmos. Até o dia que ele me disse que deveríamos fazer aquilo não só pensando no povo, mas também em nós. Se não tentássemos fazer dar certo, passaríamos a vida inteira vendo nossa união como um fardo e, como consequência, também faríamos nosso povo sofrer, mesmo tentado separar as coisas. Ele estava certo.

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⏰ Última atualização: Feb 18 ⏰

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