Capítulo 1

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"Sonhos são delírios em mentes desesperadas", uma escritora me disse uma vez nos anos 40 enquanto a Guerra corroía o mundo acima de nossas cabeças. Jamais esqueci tais palavras, pois foram as únicas, em quase mil anos, capazes de definir quem eu sou – eu sou um delírio que surgiu do desespero de minha mãe torturada nas mãos de uma bruxa à quem ela confiou a vida.

Fui construída para ser uma arma, uma maldição ou feitiço a ser lançado, mas a minha mãe – uma das poucas bruxas que podiam canalizar os sonhos –, construiu um receptáculo para guardar a maldição longe das mãos de Dahlia.

Para este receptáculo, ela sonhou uma criança e para esta criança, ela sonhou um nome. "Aisling" é uma palavra para "sonho" e, com o tempo, me tornei "Aslin" – eu sou a bruxa destinada a matar os antigos ou os vampiros originais, chame como quiser.

Serei eu, a restituir o equilíbrio da natureza. Os Ancestrais me permitiram viver todos esses anos nas sombras, o seu poder manteve a minha existência desconhecida, onde eu aguardo o momento certo para prestar o meu papel nessa batalha que já perdura há mais de mil anos, pelo menos, era o que eu achava.

No princípio, eu sentia medo. Desenfreado como um trem descarrilhado guiando a minha vida, se é que posso chamar isso de vida, mas nas últimas décadas eu parei de me importar – se os Ancestrais, Dahlia ou quem quer esteja segurando as cordinhas por trás da cortina, querem os originais mortos, eles que venham matá-los, eu cansei de esperar, cansei de ter medo e se, após essa guerra, o mundo acabar em chamas, que assim seja.

Pisei fundo no acelerador, Mavie rangeu e estremeceu, o rádio assumiu uma estação da Virgínia e só então eu percebi que o meu pesadelo estava só começando.

A brisa quente me recebeu com entusiasmo, o suor pegajoso colando as roupas no meu corpo, meu cabelo estava um nojo e eu nem vou comentar dos mosquitos infernais que pareciam devorar o meu rosto – gemi em frustração.

Eu odeio essa cidade.

Inspirei profundamente, o céu límpido me dando as boas-vindas à cidade que eu odiava. A última vez em que estive ali foi em 1981, quando ele foi trazido para ser sepultado na propriedade da família – afastei as ervas daninhas e depositei rosas amarelas ao lado do seu nome gravado friamente no túmulo, onde lia-se apenas "William Lockwood – amado filho".

– Olá, querido – sussurrei –, me desculpe o atraso.

    Beijei dois dedos e levei-os até o seu nome.

    Me veio uma lembrança de William, os óculos pendiam dos olhos escuros, ele jogou a cabeça para trás em uma risada alta e estendeu a mão me puxando para dançarmos – o som de sua risada, os cabelos escuros, céus, eu ainda me lembro como se fosse ontem. Aquele foi o dia em que ele conseguiu uma promoção no jornal em que trabalhava.

    Ele foi a primeira pessoa que não me odiou pela minha maldição.

– Feliz aniversário.

    Um mês após a promoção, William foi morto cobrindo uma matéria em um protesto.

– Essas vão durar mais tempo – acariciei as rosas –, pelo menos, até a minha próxima visita.

No ano seguinte após a sua morte eu voltei a cidade, mas fui proibida de vê-lo. Como uma família fundadora, era um ultraje saber que o seu filho perfeito havia se envolvido com alguém como eu. Naquele dia, o seu irmão mais novo, Richard, me deixou entrar.

Sorri com a lembrança.

Meu celular vibrou e eu ignorei a ligação, certamente era o Gray, mas eu retornaria mais tarde.

Ouvi um barulho e então, um galho se partiu. Meu corpo enrijeceu, eu sentia sua presença me rodear e seus olhos cravados em minhas costas – fui derrubada por trás, a familiaridade daquela cena fazia o meu sangue ferver, sua gargalhada preencheu o ar e ela se jogou no chão ao meu lado:

A Bruxa ✦ The OriginalsOnde histórias criam vida. Descubra agora