1. Você?!

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ANAHÍ


Mergulhei nas águas azuis cristalinas do cenote, a luz do sol invadindo pela cratera formada no topo da gruta onde eu estava. Um moreno dos braços fortes vinha nadando atrás de mim, o olhar dele escuro de desejo assim como os meus. Senti aqueles braços envolverem minha cintura, me puxando para mais perto. Nossos lábios se encontraram num beijo quente e as mãos dele deslizaram pela minha pele, agarrando minha bunda e depois sorrateiramente deslizando para o meio das minhas pernas, onde eu já pulsava de desejo...

"MAMÃE!" Uma voz me chamou do outro lado da porta do quarto.

Dei um salto da cama, me despertando atordoada. Senti meu coração bater acelerado dentro do peito e levei uns segundos para registrar que estava em minha casa na capital e não naquele cenote paradisíaco com um jovem e sarado Orlando Bloom.

Meu quarto ainda estava escuro devido às cortinas de blackout e o ar-condicionado envolvia o cômodo num frio polar. Soltei um grunhido de desgosto—odiava ter que acordar cedo, no entanto, eu havia parido um filho que contrariava a natureza preguiçosa dos Puente e que além de acordar com as galinhas, tinha a pachorra de acordar bem-humorado.

Me enrolei num robe de seda japonês, prendi meus cabelos amassados num coque improvisado e abri a porta, a intensa luz do sol vindo da janela do corredor invadindo meu quarto, quase me cegando. Fiz uma nota mental para colocar meus óculos escuros da próxima vez.

"Bom dia, mamãe!" Lipe disse com uma carinha fofa, como se há segundos atrás não tivesse interrompido um sonho incrível e quase me matado do coração.

"Que horas são, garoto?" Perguntei, minha voz saindo rouca como em todas as manhãs.

"São oito! Hoje é a reunião na minha escola nova, lembra?"

Arregalei os olhos. A reunião estava marcada para às oito e meia! Lancei o olhar para o despertador na minha mesinha de cabeceira abarrotada de cremes, canetas, livros e demais cacarecos. Um lenço de seda e uma boina praticamente camuflavam meu abajur. Era oito em ponto!

"Lipe, vai se vestir meu filho, rápido! Mamãe vai se arrumar num segundo!"

Corri para dentro do meu banheiro, lamentando o fato de hoje não ter tempo para uma ducha matinal. Fiz minha higiene, escovei os dentes, passei uma maquiagem leve pra disfarçar minha cara de zumbi e conectei o babyliss na tomada. Fiz umas boas ondas no meu cabelo, valorizando minhas madeixas mais claras e por último passei um batom nude.

Quando emergi do banheiro Lipe estava pulando em cima da minha cama já vestido com uma bermuda cáqui e uma camiseta com listras azuis.

"Já calçou as meias, filho?" Perguntei, o puxando para mim e passando meus dedos por seus cabelos loiros para arrumá-los.

"Eu vou de crocs, mãe!"

"Então bora, pega um iogurte na cozinha e vamos correndo pro carro." Desliguei o ar-condicionado, abri minhas cortinas para o sol entrar e estiquei minhas cobertas rapidamente.

Descemos a escada às pressas, Lipe correndo na frente pra pegar um café da manhã no improviso.

"Escovou os dentes, meu filho?" eu gritei da porta, calçando meus saltos, pegando a bolsa e as chaves do carro da tigela onde sempre as deixava no aparador da entrada.

"Escovei!" Ele veio de lá com um iogurte e uma banana. Tranquei a porta atrás de nós e corremos para dentro do carro.

Quando finalmente dei a partida, o painel lia 8:23. Dei a ré, atenta ao retrovisor e seguimos o caminho até a escola Rouxinol. Liguei o som e pus um pouco de música para nos animar—nossa obsessão da vez eram os Backstreet Boys e se havia um legado que eu gostaria de deixar para o meu filho esse legado era o da música pop do final dos anos 90 e início dos anos 2000. Já não se faz músicas chiclete como antigamente e seria um pecado mortal não transmitir essas maravilhas para as novas gerações.

Quizás (AyA)Onde histórias criam vida. Descubra agora