── Isso, Fernanda... Tu é muito gostosa... Assim... Fernanda...
Os gemidos desconexos escapavam da boca de Pitel quando Giovanna jogou uma almofada em sua direção, a acordando de relance.
── CARALHO! ── Gritou caindo diretamente no chão, mais precisamente de cara.
── Meu Deus, a expressão "cair de cara no chão pra acordar" nunca foi tão real! ── Sua amiga, Giovanna, com quem dividia o apartamento, dizia enquanto soltava uma gargalhada que fez a cacheada emburrar totalmente e jogar a almofada em sua direção. ── Quem é Fernanda? ── Perguntou com visível interesse, tentando se recuperar das risadas.
── QUEM? Não sei! Não conheço Fernanda, foi um sonho muitcho bestcha! ── Disse ao caminhar em direção a cozinha, nervosa. Aquilo nem fazia sentido. Sonhar com uma pessoa que ela mal conhecia, quer dizer, deveria estar é sonhando com Leonardo DiCaprio ou algo do tipo.
── Ué não conhece? Engraçado que você tava toda derretida aí, "ai Fernanda, isso Fernanda, vai Fernanda". ── Ela disse fazendo uma imitação barata que fez Pitel dar um tapa em seu braço.
── Oh Giovanna, vá pro caralho de asa, vá! ── Lançou enquanto recebia uma careta de sua amiga, que agora se dispersava pra longe, sem deixar de zoar da sua cara vez ou outra. Se Pitel estivesse no lugar dela, faria o mesmo. Mas como não está, não apoiava esse posicionamento.
Passava a preparar um café reforçado. O dia seria longo, e trabalhando como assistente social, tinha coisas a resolver. No dia anterior Fernanda havia entregado o bolo de outra amiga, foi um encontro breve e certeiro demais. E foi tão breve que se perguntava o porquê de estar sonhando com ela. Não havia nexo, não quando se atraia por mulheres e mal se conheciam.
Sua minha mente parecia funcionar com uma engrenagem enferrujada, uma vez que se questionava como a mulher que a tratou com tanta gentileza naquela tarde, estava tomando conta de um sonho super indecente e cheio das libertinagens. Nem podia dizer que não gostou, porque a sua calcinha já dizia bem o contrário. Talvez fosse algo repentino? Nem ela mesma sabia explicar. Sempre tinha respostas na ponta da língua, mas agora não tinha. De certa forma, era estranho o fato de uma mulher que a recém havia conhecido ter mexido tanto consigo através de un sonho erótico.
── JÁ VAI! ── Gritou quando a campainha passou a tocar diversas vezes. O suficiente para que se estressasse e caminhasse até a porta, abrindo com uma carranca na cara. ── Mas que presepada é essa?! Não sabe... ── Se cortou assim que viu a mulher diante de si. Por que o destino tinha que ser tão filho da puta? Nem estava devidamente preparada, os cabelos desgrenhados e o pijama de ursinhos no corpo.
── Desculpa! É que... Eu fiquei muito mal pelo bolo, e acabei fazendo alguns cupcakes como pedido de desculpas... ── A morena dizia com um sorriso nos lábios, meio sem graça enquanto os mostrava. ── São de limão.
── Meus favoritos. Me desculpa, eu tava muitcho estressada porque... Porque a máquina de café parou de funcionar, Fernanda! ── Explicava o porque de ter checado xingando aos quatro ventos, pegando a caixinha de cupcakes.
── Então essa é a "Fernanda"? ── A voz de Giovanna soou pelo ambiente, segurando o riso enquanto observava a interação entre Pitel e a Bande. ── A do "Ai Fernanda, vai"?
── GIOVANNA, vá dar uma voltinha vá! ── E com o rosto vermelho, numa vergonha enorme, empurrou Giovanna pra fora do apartamento e puxou Fernanda pra dentro. Quando Fernanda estava distraída, ela viu Giovanna fazendo gestos obscenos para si, silenciosos, zoando com Pitel, que bateu a porta na cara dela a mandando dar uma voltinha.
── Que papo torto é esse de "Ai Fernanda, vai" e não sei o que? ── A morena ria enquanto desviava a atenção para Pitel, que agora deixava os cupcakes na mesa disposta ali.
── Ela é bestcha! Tem nada não! ── Sonsa como nunca, se explicava enquanto sentava sobre o sofá. Querendo ou não, mais do que nunca, observava detalhadamente Fernanda, de cima a baixo. E as únicas imagens que vinham em sua mente eram a dela dançando pra si, daquele jeito tão sexy. Ela era bonita, não podia negar, talvez fosse isso.
── Pitel?! ── A Bande estalou os dedos a frente do rosto da cacheada, que teve que sair dos devaneios, meio perdida na situação.
── O que? O que foi?
── Eu disse que cê tá no mundo da lua, cara.
── Hoje eu tô meio abobalhada e bestcha! Tu quer dividir um negocinho desses? ── Apontou para os cupcakes enquanto abria a caixa. Eram decorados e pareciam deliciosos. Fernanda tinha jeito pra esse tipo de coisa.
── Eu tô legal, provei um antes de vir... Mas você... ── A morena passou a se pronunciar enquanto pegava um dos cupcakes, se direcionando até Pitel. Devagar, usou o indicador para dedilhar a cobertura cremosa, recolhendo e então aproximando a pontinha do dedo dos lábios da cacheada, um gesto que a fez ficar inquieta. ── Pode provar e me dizer o que tá achando.
Ela tá flertando comigo? Ou eu tô muitcho doidia.
O pensamento se passou pela mente da morena, que agora sentia a proximidade de Fernanda, que mesmo que não fosse invasiva, se tornava maior.
── Pitel, eu esqueci de pegar a minha... Opa! ── Giovanna surgiu no apartamento num ato abrupto, vendo a cena de Pitel prestes a provar a cobertura que escorria pelo dedo de Fernanda. Foi inevitável para a morena segurar o riso, dando um passo pra trás, voltando a porta. ── Empatei?
── NÃO!
Pitel gritou jogando uma almofada em sua colega de apartamento, que sabia como falar o pior nas piores horas.
A Bande, por sua vez, levou o indicador aos lábios e lambeu devagar, chupando. O gosto era cítrico, mas havia doçura envolvida. Quase uma referência a ela mesma. ── Sim, ela ia provar algo delicioso. ── Dizia lançando uma piscadela para Pitel e então pegar o celular da mesma das mãos alheias para colocar seu número. ── Me manda mensagem, bonitinha. Posso chamar pelos desastres, mas chamo por outras coisas também. ── E num flerte sútil, ela riu antes de beijar a bochecha de Pitel e se distanciar, caminhando pra fora do apartamento. O suficiente para que Giovanna fechasse a porta e surtasse, boquiaberta.
── CARA, ELA TÁ TÃO NA SUA!
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Burlesque - Pitanda
FanfictionOnde Fernanda, no auge dos 32 anos, é dona da melhor confeitaria da cidade de Niterói. Mas também é uma a melhor dançarina burlesca do maior cabaré da cidade, conquistando olhares dos mais improváveis. • Também disponível como AU no twitter.