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CAMILA BENTANCUR




— Camila, é hora de acordar!

Ouço a voz distante, que identifico ser a do meu irmão, me chamar. Seu tom possui um tom animado, quase divertido, que me faz bufar. Maravilha, é exatamente disso que preciso após uma longa noite de insônia. Um resmungo baixo escapa da minha garganta enquanto pressiono os olhos, na tentativa de ignorar a presença indesejável do garoto. Mas antes que eu possa ao menos tentar voltar a dormir, a claridade invade o meu quarto com força após o desgraçado abrir as cortinas. A medida em que pisco os olhos para tentar me acostumar o mais depressa possível com o clarão, deixo um grunhido ainda mais alto soar.

— Merda, seu maldito. – eu rosno. — Fora do meu quarto, agora.

Volto a deitar, virando-me para o lado contrário à janela. Fecho os olhos novamente, puxando o edredom até estar completamente coberta. Não me dei ao trabalho de checar se ele realmente havia saído ou não, por mim, ele poderia ficar parado próximo à cama durante todo o dia, se quisesse. Desde que me deixasse dormir em paz.

— Já são duas horas da tarde, levanta.

Sua voz insistente no meu campo auditivo me faz querer gritar, mas a sensação piora quando ele me descobre, agarrando o edredom e puxando-o, jogando no chão. Precisei respirar no mínimo três vezes antes de finalmente me levantar, com tanta pressa que senti a vista ficar turva, por alguns instantes. Raiva começou a borbulhar o meu sangue.

Eu odeio ser acordada.

Olho ao redor, procurando por qualquer objeto ameaçador o suficiente para obrigá-lo a me deixar em paz, entretanto, minha mente ainda parecia estar um tanto adormecida. O único objeto assustador o suficiente que pude encontrar em poucos instantes foi o meu abajur. Ele poderia ser um pouco ameaçador, sim, se não fosse um maldito abajur rosa felpudo. Não hesitei quando alcancei, e com os olhos semicerrados, ameaço jogar no meu irmão.

— Saia, eu estou falando sério.

Rodrigo me encara com desdém e, após descer o olhar para o objeto que eu carrego, não faz questão de disfarçar suas risadas. Não vejo graça nenhuma, diferente dele. Eu estou cansada e estressada, preciso de pelo menos mais cinco horas de sono para conseguir lidar com a sociedade sem correr o risco de perder o meu réu primário. Mas o meu irmão parece não se importar com aquilo, na verdade, está fazendo de tudo para piorar a situação.

É isso que irmãos mais velhos fazem, certo?

Pelo amor de Deus.

Apesar de ligeiramente surpresa, sinto um certo alívio quando vejo-o começar a caminhar. Realmente estava disposta a quebrar o pobre abajur na cabeça dele para ter ao menos um dia de paz. Aquela boa sensação não durou nem três segundos, porque tudo voltou a se tornar raiva quando um tapa me atinge bem no meio da testa.

Aquele maldito filho da minha mãe.

Rodrigo começa a correr para o lado de fora, tão rápido quanto um foguete. Vou atrás dele, suas risadas aumentam a minha ira e, apesar de ter consciência de que comparar a minha velocidade com a dele era estupidez, sigo empenhada em alcançá-lo.

— Agora você corre, não é? Idiota!

As palavras saem da minha boca com um grito, enquanto vejo-o saltar alguns degraus para chegar no térreo mais rápido. Ainda tentando alcançá-lo, começo a tentar calcular a distância exata para arremessar o abajur e atingi-lo em cheio, mas tudo desaparece quando ouço um vozerio.

Minhas pernas praticamente congelam quando ouço as vozes atrás de mim e, quando finalmente percebo do que se trata, quero me desmanchar como poça ali mesmo.

EL AMANTE | PAULO DYBALAOnde histórias criam vida. Descubra agora