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CAMILA BENTANCUR




A música está alta o suficiente para incomodar a Itália inteira.

Minhas janelas balançam pela vibração porque meu irmão achou que o isolamento acústico era um gasto desnecessário.

Rico, mão de vaca e barulhento.

Deslocando um pouco a cortina, posso vê-los. Estão gritando para serem ouvidos, gesticulando e fazendo desenhos no ar, balançando garrafas de cerveja de um lado para o outro.

Me questiono o que estão comemorando. Talvez um título, mas ainda estão na metade do campeonato. Talvez uma vitória, mas só irão jogar no fim de semana. Então, me recordo de que estava falando sobre eles, e eles não precisam de motivo para encher a cara.

Na verdade, podiam criar até mesmo o Dia Internacional do Poste, só para terem o quê comemorar. 

Balanço a cabeça de um lado para o outro antes de me afastar, caminhando em direção ao espelho. Eu não havia dormido bem e isso estava nítido na no meu rosto, pela leve mancha arroxeada debaixo dos olhos. Cogitei usar um pouco de corretivo para disfarçar, mas desisti, aceitando o fato de que não sou a maior fã de maquiagem. Não quer dizer que odeio, acho as super produções, delineados dificílimos e sombras coloridas maravilhosas, mas nos outros.

Toda vez que tento me maquiar ou fazer algo minimamente aceitável, torna-se a porra de uma tragédia.

Ou as bochechas ficam tão vermelhas e parece que acabei de tomar dois tapas ou os olhos ficam tão escuros que pareço um urso panda que acaba de fugir de um zoológico clandestino.

De qualquer forma, prefiro deixar para quem entende do assunto.

Volto minha atenção ao canto do quarto ao ouvir uma batida na janela. Em seguida outra, depois outra e outra. Imediatamente, corro para ver o que estava acontecendo.

Afasto as cortinas, abro a janela e antes que pudesse dizer algo, sou atingida por um pedregulho.

— Porra! – esbravejo irritada, abaixando o olhar.

Aliso o local onde a pedra havia me atingido – bem na bochecha, encarando o meu irmão. Arqueio as sobrancelhas, vendo que o bêbado segurava um punhado de pedras e agora gargalhava diante da minha reação.

— O que é que você quer, Rodrigo?

— Aquela sua amiga chegou!

Ele precisa gritar para que eu o escute.

— E você não podia avisar como um ser humano normal, merda?

Resmungo e, conhecendo-o como conheço, me afasto e fecho as janelas antes que ele possa atirar outra pedra.

Dito e feito.

No instante em que as janelas se fecham, um novo pedregulho bate contra o vidro.

Estou quase abrindo-a de volta e arremessando todos os meus livros nele, mas minha atenção é voltada para a porta do meu quarto, quando Alexa atravessa como um furacão.

Aquela garota tem o dom de sempre parecer ter ingerido quarenta energéticos de uma só vez. Nunca conheci alguém tão animada e alto astral como ela.

É como se não existisse nenhuma situação ruim quando ela está por perto, porque Alexa é o tipo de pessoa capaz de arrancar risada de pessoas enlutadas em velórios, sem ter a mínima intenção de fazer isso.

— Me conte todas as novidades, piranha!

Ela me toma em seus braços, me abraçando enquanto sorri.

EL AMANTE | PAULO DYBALAOnde histórias criam vida. Descubra agora