Câmeras de segurança

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"As pessoas são solitárias, porque constroem muros ao invés de pontes."

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30 de julho de 2023_07:00 Sanderville, EUA

Alguma coisa forçou-me a abrir os olhos. Claridade. Eu havia esquecido de fechar as malditas cortinas.

Meus olhos relutaram contra luz, mas foi inevitável abri-los, de forma cansada e lenta. Minha visão clareou-se conforme piscava. Olhei para o relógio de ponteiro do outro lado do quarto de frente pra cama, 07:00 da manhã, as mais perfeitas 2 horas e pouco de sono. Apesar desse curto tempo, eu sinto meu corpo cansado, pesado mais do que o normal, como se eu tivesse corrido uma maratona.

Talvez seja culpa do trabalho.

Tenho que aceitar essa minha nova realidade agora, mesmo sendo irresistível sentir o corpo lutar para permanecer ali enquanto a mente me obriga a levantar.

Depois de um certo tempo deitada, finalmente senti o peso ao meu lado na cama e assim que eu olhei, pude ver meu querido Sirius. Ele dormia tranquilamente, com a respiração calma e constante, suave, sua cabeça está em minha barriga, nitidamente confortável. Ele sempre faz isso quando dorme comigo, parece que gosta de me sentir respirar.
Com uma grande disputa entre mente e corpo, forçei-o a sair da cama, colocando as mãos no colchão macio acordando o cachorro no processo, que lambeu meu rosto e balançando seu rabo assim que completamente desperto.

Olhei os raios de sol vindos do lado de fora da janela. Poucas nuvens encobriam o céu levemente roxo e rosado, tornando aquele simples nascer do sol em uma verdadeira obra de arte digna de um museu, me fazendo caminhar até a pequena sacada e admirar aquela vista. E sentindo aquele ar fresco eu pensei, mas non nos casos em que estou trabalhando, ou nos meus deveres, e sim na minha vida no geral. Toda a minha trajetória, todas as minhas escolhas que me levaram estar aqui, contemplando essa vista, dessa sacada, nessa cidade.

Desde a morte dos meus pais biológicos, toda aquela vida que eu tinha na França simplesmente desapareceu. Eu non me lembrava mais tão explicitamente como tudo era antes da tragédia e isso me incomoda. Ver os corpos dos meus pais, sem vida, com aquele líquido tão vividamente vermelho molhando todo o tapete e pintando as palmas das minhas mãos me gerou um trauma de sangue que me persegue e me condena desde dos meus nove anos de idade.

Eram nove anos? Non sei, já non me lembro mais mesmo...

Simon era amigo deles e assim que soube o que aconteceu, ele me adotou e cuidou de mim como seu eu fosse do seu sangue. Ele e a Michelle tentaram trazer tudo aquilo que eu tinha perdido, e quando eu era criança achava que eu tinha reconquistado, porém agora, eu vejo que era apenas um sonho infantil. Eu Nunca esqueci daquele dia, e como uma rosa murcha, eu deixei minhas pétalas caírem, mas non meus espinhos. Por isso eu lutei, lutei mais do que todos os outros sempre ouvindo as palavras de Simon: "Se esforçe mais do que eles." , "Não cometa os mesmos erros que eles." , "Seja mais inteligente, formidável, esperta e ambiciosa que eles!" .
Muitos podem pensar que isso non são boas palavras que um pai deveria dizer a sua filha, mas para mim elas foram uma âncora que me fixaram no meu objetivo. Se non fosse por Simon Grayson, eu non estaria onde estou hoje. Ele foi um professor, um amigo, um pai pra mim quando eu precisei.

Ouvi algumas batidas na porta, então murmurei um: "Entre."

- Eu fiz o nosso café, Venha. - Aroon trajava um conjunto moletom cinza e seus dreads estavam soltos sobre seus ombros.

Antes de sair, coloquei uma roupa leve e simples e procurei pelo meu celular em cima da penteadeira e ele estava... carregando? Eu tinha colocado pra carregar? Non sei, eu estava com muito sono ontem, devo ter colocado.

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