Um

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- Ocê tá falando do novo peão que chegou na roça? - Ritinha,nossa diarista, me pergunta-

- É, Ritinha... - Digo manhosa enquanto selecionava os morangos colhidos - Será que ele precisa de alguma ajuda? - perguntas enquanto vejo pela janela o homem forte descarregar seu caminhonete -

- Ajuda... - ela ri- Porque ocê não pergunta de vez se ela tá solteira?

- Ritinha! - Exclamo surpresa- Não era isso. E além do mais, eu não arriscaria ser humilhada dessa forma. Não aceito chacota, mas também não caço. - respondo seria, indo em direção à pia para lavar os frutos -

- Quando cê vai entender que isso não funciona assim, minha moça? - ela se aproxima, acariciando meu rosto com ternura-

- Acho que você se enganou, Ritinha. Sempre foi assim comigo. - continuo lavando os morangos com lentidão-

- Por enquanto. Oia, não ache que as muié magrinha tem o homem perfeito do lado só por nascerem assim! - Ele desliga a torneira, me virando em sua direção-

- Pode até ser que não. Mas tem a atenção deles.

- E isso é importante para você?

- E pra quem não importa? - Digo levemente exaltava, me soltando de seus toques- Me diga alguém que não se importa de nunca ter sido tocado ou amado? - meu olho ameaça lacrimejar, mas tento me recompor -

- Ocê sempre teve alguém de olho! - Ela respondeu de imediato- Não se lembra do chiquinho?

- O garoto bobo que me perseguiu na escola? Eu não queria ele, eu queria o José!

- Ah, sei bem... - ela ri baixinho-  Ocê só quer quem não quer ocê! Aí fica fácil dizer que ninguém te ama!

- Não é isso! - Antes que eu termine minha fala, a campainha toca - Quem será?

- Eu atenderia, mas já que não tô vendo o peão novo no jardim dele,acho que ele tá aí! Então ocê que se vira.

Ela vai até a lavanderia rapidamente, pegando lençóis novos e subindo para os quartos.

Ou seja, eu seria a única sobrando para receber quem for.

Respiro fundo, vendo a roupa que eu usava. Um vestido simples de florzinhas, mas que deixava parte das coxas e braços à mostra. Não gosto disso.

Envergonhada, caminho até a porta, puxando meu vestido para baixo levemente, tentando tampar minha perna.

Abro a porta devagar, vendo que quem estava ali era o meu mais novo vizinho.

E ele era muito mais bonito de perto.

- Oi, boa tarde! - Seu sorriso bonito, deixando à mostra seus destinhos de coelho, me deixava tímida -

- Oi... - respondo baixo -

- Eu... Sou seu novo vizinho, me chamo Jeon Jungkook! - Ele estende sua mão,me cumprimentando. Acabo precisando soltar minha roupa para cumprimenta-lo resultando em olhares curiosos do vizinho para o meu corpo -

- É... Me chamo S/n... - cada segundo a mais que nossas mãos se apertavam, minha bochecha esquentava mais . -

- Belo nome. Como você está, Senhorita S/n? - sua voz era tão boa... Recheada de uma sensualidade inexplicável-

- Ando bem... Estou lavando alguns morangos. E você, senhor Jeon?

- Ah,morangos? São minhas frutas preferidas. - ele sorri - Respondendo sua pergunta, também ando bem. Mudanças são complicadas....

Ele sorri, encarando meu corpo sem vergonha alguma. Ele olhava com atenção, alternando entre o meu rosto e minhas coxas. De forma sutil, mas que não passasse despercebido.

Toda a vergonha que faltava nele, tinha em mim. E olha que estamos falando do mesmo corpo: O meu.

Tentando contornar a situação,finalmente pergunto- Mas então,o que precisa,senhor Jeon?

- Ah, sim... - ele retoma seu foco- É que o seu carro está com a roda em cima da mangueira lá de casa, e eu preciso usa-la.

-Caramba,sério? - pego a chave no móvel ao lado da porta,pronta para tirar o veículo dali- 

Para evitar a minha timidez,vou ate o local,sem olhar o fazendeiro que eu sabia que estava logo atrás de mim. 

Entro na caminhonete do meu pai, dando ré até que a mangueira estivesse livre das rodas. Ao desligar o veículo e me retirar, vejo que o homem ainda me olhava, dessa vez, fixamente, sem falar nada.

- Algum problema, senhor Jeon? - pergunto tranquila. Não obtenho resposta alguma. - Bom, prontinho... Problema resolvido. - Sorrio tímida ao me aproximar, esperando a hora para sair correndo e entrar em casa.-

Ele sorri, olhando para o chão, e fecha os olhos com força enquanto balança sua cabeça, parecendo negar algum pensamento.

- Se me permite dizer, senhorita S/n... - Ele diz se aproximando lentamente- Você fica linda dirigindo.

- Ah, não diga bobagens, senhor Jeon! - Devido a timidez, essa foi a  única reação que tive, além dos meus dedos que levaram uma mecha do meu cabelo para trás da minha orelha -

- Bobagens? Acho que não sabe com quem está falando. - ele me olha sério e se aproxima mais ainda - Eu não digo "bobagem", apenas verdades. - O encaro, sem saber o que dizer - Além disso, o seu jeitinho de falar é uma fofura.

Rimos juntos, já que Jungkook claramente não vive na roça no dia a dia. Parece entender das coisas, mas com certeza,nos últimos tempos, morou na cidade.

Ele não usa nosso dialeto.

Já eu, aprendi português muito bem na escola, mas não estou livre do típico jeitinho de falar.

- Então... - Me distancio, apertando meus próprios dedos da mão pelo nervosismo- Eu já vou indo...

- É uma pena. - o olho surpresa -

- Os homens da cidade são bem diretos, né? - Questiono tímida-

- Não sei eles,mas eu, quando me interesso por alguém, sou bem direto, senhorita S/n.

Era perceptível a minha vergonha. Não tinha como escapar.

- Está falando de mim?

- Exatamente. Estou falando da vizinha linda, que vou colocar minha mangueira por baixo do pneu do carro dela todos os dias pra ter uma desculpa para vê-la.

- Você- Ele se retira, piscando para mim e indo até sua casa, não me dando a chance de continuar -

O que diabos aconteceu aqui?

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