Capítulo 1

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Mais um primeiro dia de aula para se somar a todos os outros de anos anteriores, mas esse era diferente, afinal não é sempre que é seu primeiro dia no segundo ano do ensino médio.

Me levantei da cama movido pela raiva do barulho do despertador e o desliguei. Bocejei de forma preguiçosa e olhei para o relógio: 6 da manhã.
Eu tinha 50 minutos para ficar pronto e ir para escola. Troquei de roupa, vesti o uniforme da escola e desci as escadas em direção á cozinha. Peguei qualquer coisa na geladeira e depois escovei os dentes.

Às 7:04 eu estava descendo do carro "espero que os portões ainda estejam abertos" e por um milagre estavam.

Adentrei os corredores com o passo apertado por já ter passado do horário de entrada e, para variar, confundi minha sala, entrei na minha sala antiga. Pedi desculpas pra professora e saí, fui olhar o mapa das salas no mural de entrada.

Segundo ano A sala 1

Bati na porta e pedi licença. Droga não havia lugar pra sentar, é isso que dá tomar café vendo tiktok. Tive que me sentar na primeira carteira da segunda fileira na sala. Minhas antigas amigas todas juntas no meio da sala, como uma muralha da china só que mil vezes pior.

Não falo mais com elas há meses, desde que elas me trocaram pela cobra da minha ex melhor amiga. Dês de então nos afastamos, e agora elas nem olham na minha cara.

Meus únicos amigos naquela escola são o Victor  e a Ana Laura, o Victor sendo meu amigo desde o sexto ano, e a Ana Laura sendo uma colega que veio de brinde com ele, mas que no ano anterior tinha se saído uma ótima amiga, de certa forma.

Acabei me sentando na carteira na frente da Ana Laura, Victor na carteira ao lado da dela, a carteira ao meu lado vazia.

Victor: mal cheguei e já quero ir embora, não aguento mais essa escola.

Respondi algo como "nem eu" só pra não ignorar o coitado.

Ana Laura: não acredito q saí daquela escola pra vir pra esse muquifo que nem ar condicionado tem, quem aguenta esse calor dos infernos numa sala com 40 pessoas e 3 ventiladores capengas?

Ana Laura era ex-aluna de uma das melhores escolas da cidade, cujo toda a família (bem de vida) mantinha laços estreitos, sempre fazendo alguma doação ou financiando eventos de caridade. Porém, o pai resolveu tirá-la de lá após ela sair no soco com outra garota por conta de fofocas e um já conhecido desdém de uma com a outra. Segundo ele, ela estava sendo muito arrogante e precisava ser mais humilde, daí decidiu colocá-la em uma escola pública.

Eu: pelo menos vocês não vão todos seus ex amigos e inimigos por perto 6 horas por dia, já eu...

Aliás, me chamo Leonardo, sou gay e tenho 15 anos, já fingi por muito tempo ser hétero mas hoje em dia não faço mais questão de m esconder e todo mundo que me conhece sabe q eu não gosto de mulher.
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As primeiras 4 aulas passaram bem rápido, considerando o fato de que eu estava sem internet tendo que conversar coisas aleatórias com o Victor e a Ana Laura.

Às dez horas o sinal do recreio bateu e eu saí imediatamente da sala e fui esperar meu outro grupinho de amigas ao pé da escada, pq quando eu disse que o Victor e a Ana eram meus únicos amigos na escola eu quiz dizer naquela sala.

Depois de 3 intermináveis minutos me segurando no corrimão para não ser arrastado pela multidão q descia as escadas finalmente os 3 apareceram.
Esse grupinho era formado por 4 integrantes: eu, a Denise, a Vitória e o Caio.
A Vitória é uma sapatona, mas não parece, pq apesar disso ela é super feminina, mas oq tem de feminina tem de respondona e atrevida. A Denise já é o contrário, fala q é hétero mas se veste igual uma caminhoneira, anda com a cara fechada e vc acha q ela é brava, mas na verdade é um amor de pessoa, e o Caio é só um viado tirão mesmo.

Em tempos melhores, o nosso grupo já foi composto por 5 pessoas, pois o Lucas, o nosso quinto integrante e meu melhor amigo se mudou pra são Paulo no final do ano passado, e a nossa cidade fica há mais de 8 horas de carro de lá. Mas apesar disso eu e ele ainda mantemos um constante contato via whatsapp.

Eu: finalmente em, que demora é essa lá em cima? Tavão se comendo?

Vitória: se mata filho eu em, viado tirão.

Eu: vou te denunciar pro CAPS em, não xinga não se não daqui a pouco eles tão aqui pra te buscar.

Vitória abriu a boca pra me responder mas Denise a cortou falando pra gente ir logo se não ia acabar o recreio.

Após ficarmos com a bunda doendo por termos ficado 20 minutos sentados num banco de pedra duro, o sinal de entrada finalmente tocou, um apito alto e agudo que eu sempre fazia questão de cobrir um dos ouvidos pra não ficar surdo.

Ao entrar na sala, ela estava uma completa zona, carteira virada, gente sentada em grupo fofocando, os meninos do fundão fazendo baderna como sempre e a professora sentada mechendo no celular (não a julgo).

Apesar de eu não estar mais tão próximo das minhas antigas amigas, eu ainda me humilhava em tentar conversar com elas de vez em quando, numa dessas vezes sentei no lugar do Victor pra ficar perto delas, pois elas sentavam bem atrás dele.

O grupo delas era formado por 5 pessoas, 4 meninas e um viado. Eram elas a Camile, a Rafaela, a Larissa, a Eduarda (minha ex melhor amiga) e o Ícaro, o viado espalhafatoso q anda com elas.
Eu e o Ícaro não nos bicamos muito, coisa de viado sabe, conversamos algumas vezes e decidimos que não nos damos bem, mas ninguém destrata ninguém de forma descarada, é tudo pelas costas.

Surpreendentemente a Eduarda estava me respondendo quando fazia alguma pergunta e tentando puxar assunto comigo de vês em quando, comecei a considerar perdoa-la depois de 2 anos brigados.

Eu sempre gostei que me chamassem pelo meu nome, afinal o único apelido q já tive foi no máximo o meu sobrenome, q usam com bastante frequência, mas aparentemente alguns meninos da minha sala preferem me chamar de Moranguinho por sabe-se lá qual motivo, nunca gostei, porque pra mim parece um daqueles casos de apelidos q usam pra te fazer de chacota, mas nesse dia, um garoto em específico me chamou daquele jeito, o Pedro.

Pedro era novo na escola, aparentemente tinha vindo de outra cidade. Ele era o típico menino hétero bagunceiro que toda sala tem que ter, ele e os amigos dele.

Eu achava ele razoavelmente bonito, ele não era o tipo de garoto para quem eu costumo olhar, mas também não era nada feio.
Apesar de eu não ter gostado dessa brincadeirinha besta, fiquei quieto no meu lugar, afinal, oq eu poderia fazer? Ir até lá e acabar com eles como se fosse a Angelina Jolie num filme de ação? Infelizmente isso é a vida real, e ela é má com pessoas boas.

Saí da escola com a cabeça pesada por essa manhã cansativa e torturante, chegando em casa caí na cama sem nem trocar de roupa, adormeci até às 3 da tarde.

verdes como a florestaOnde histórias criam vida. Descubra agora