PURA ADRENALINA

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Sábado.

POV VALENTINA:

Isso é raridade por aqui, mas acordei primeiro que a Luiza em um sábado. A verdade é que ela está bem exausta já que eu estava viajando a trabalho. As gravações do filme que estou como diretora principal aconteceram em uma praia privada e passei 4 dias lá. O que significa que a Luiza lidou com as três crianças sozinha. Eu relutei muito pra ir, mas a Luiza me apoiou e disse que tava tudo bem. Mas eu estava lá com a minha mente e coração aqui.

Levanto com cuidado e deposito um beijo tranquilo no topo da sua cabeça. Vou ao banheiro fazer minha higiene pessoal e saio do quarto encostando a porta. Era muito cedo para as crianças acordarem, então desço e coloco uma cápsula de café na máquina. A brisa da manhã era gelada, mas o céu azul mostra que hoje teremos um dia lindo de sol. Pego o meu café e me sento na rede, apreciando a vista e por algum motivo ali, sentindo aquela brisa gelada em meu rosto. Meu pai vem em minha mente, seu sorriso largo e seu abraço apertado tomam conta dos meus pensamentos. E quando notei, as lágrimas rolavam pelo meu rosto. Se tem uma pessoa que estaria feliz por me ver vivendo, o melhor da vida ao lado da minha esposa e meus filhos, seria meu pai. Às vezes gosto de pensar na relação que ele teria com as crianças, principalmente com a Helena. Minha filha me lembra ele diariamente. O mesmo sorriso e o mesmo senso de humor. A mesma leveza e "serelepisse". Meu pai era extremamente brincalhão e me arrancava as melhores risadas. No fundo, ele era só um cara tentando aliviar a infância pesada da filha. Estava perdida em meus pensamentos, mas algo quente e melado no meu pé me traz de volta me fazendo rir.

— Bom dia, garotão! — Digo colocando minha xícara em uma mesinha que tinha ali. — Vem aqui! — Pego Doni que balançava seu rabinho sem parar e o abraçava. — Ei, não late. A varanda do quarto da sua avó está bem ali em cima.

Solto Doni e caminho até o espaço onde ficava sua comidinha e água e estava tudo certo por ali. Logo aquela coisinha peluda aparece atrás de mim com sua bolinha amarela na boca.

— Ah, então é isso? Você quer brincar? — Ele solta a bolinha e eu pego. — Vem vamos ali na grama.

Me sento na grama de pernas cruzadas e jogava a bolinha o mais longe que eu conseguia. Ele corria desesperado pra pegar a mesma e me entregar. Olho meu celular e ainda eram 08:37 da manhã. Estava de olho e ouvido na babá eletrônica, caso Laninha acordasse. Sigo ali brincando com o cachorro, quando sinto dois bracinhos pequenos envolverem meu pescoço e um peso nas minhas costas ser apoiado.

— Bom dia, minha vida. — Digo virando meu rosto e vendo Lelê. — O que aconteceu que as duas dorminhocas dessa casa acordaram primeiro hoje? — Pego ela colocando no meu colo e a garotinha se aconchega em mim.

— Bom dia, mamãe! — Diz seguido de um bocejo. — Eu tive um sonho ruim...

— Sério, filha? — Helena balança a cabeça pra cima e pra baixo. — Quer me contar?

— Sim... — Ela me abraça forte.

— Tá tudo bem agora, princesa — Retribui seu abraço.

— Eu sonhei que eu voltava a ser sua filha. — Faço uma careta.

— Mas você nunca deixou de ser minha filha, Helena. — Rio fraco sem entender.

— Não mamãe, eu voltava a ser SÓ sua filha. — Começo a entender. — Era só eu e você de novo... Não tinha a mamãe Luiza, nem o Leozinho cabeça de abacaxi e a Laninha. Também não tinha a titia Duda e nem a vovó Catarina. Nem o Doni tinha mais. Eu não quero isso mamãe, eu não quero que volte a ser só nós duas de novo. Eu te amo muito, mas amo nossa família assim, bem grandona. — Sua respiraçãozinha fica pesada.

SA COMFORTOnde histórias criam vida. Descubra agora