Capítulo 3

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Sabrina

Meus pés estavam me matando. Mentira, era o sapato de salto que fazia isso, então o tirei ainda no elevador enquanto subia para o apartamento.

A reunião com alguns diretores da multinacional para a qual eu prestava serviços de comunicação não era para ter demorado tanto, mas o fato de incluir um jantar justificava a conversa ter se estendido além dos tópicos profissionais e ultrapassado o horário que inicialmente estipulei para estar em casa.

Não podia negar que estava bem agradável e que, de certa forma, foi saudável para mim. Só assim para eu sair um pouco daquela bolha onde acabei enfiando-me ao optar por trabalhar em casa em vez de buscar um espaço para fazer meu escritório. Isso também explicava por que as poucas horas usando salto, ainda que boa parte delas sentada, fazia-me sentir quase excêntrica. Porque meu "uniforme de trabalho" se resumia a roupas confortáveis, de preferência aquelas bem usadas, talvez até com um furo ou uma mancha qualquer. E quase sempre sem nada nos pés.

Saí do elevador equilibrando bolsa, sapatos, chave e uma caixa contendo queijos e vinho, presente da equipe em agradecimento pelos meus serviços no último semestre. Era bom demais ter esse tipo de reconhecimento pelo meu trabalho. Além, é claro, do principal: o dinheiro que caía religiosamente em dia na minha conta, cumprindo o estipulado no contrato.

Relutei em me render a ser uma empreendedora, a trabalhar para mim, mas novamente a pandemia acabou me levando a isso. Hoje precisava agradecer a esse empurrãozinho do destino, que me permitia trabalhar com o que gostava e para o que estudei, fazendo o meu horário e definindo as empresas e pessoas para serem meus parceiros. Os quais, óbvio, não tinham conhecimento da minha outra ocupação. Duvido que qualquer um deles contrataria uma mulher que fala sobre as vantagens de se usar vibradores e afins em busca de prazer e conhecimento sexual. Daí a vantagem do pseudônimo e de eu me recusar a mostrar a cara.

Papai ainda insistia em que eu precisava profissionalizar-me, buscando um ponto para me instalar, talvez até contratando uma assistente. Bastava eu escolher e ele e mamãe iriam me ajudar com as despesas para aquisição de uma sala, assim como fizeram com o apartamento que hoje eu ocupo. Sabia que eles tinham razão, mas era tão bom ter essa facilidade de trabalhar em casa, preparar minhas refeições e ainda dar atenção para Mel, minha fiel companheira, que me recebeu entusiasmada após algumas horas sozinha.

— Oi, meu amor! Desculpa te deixar por tanto tempo — falei daquele habitual jeito dengoso que só os pais de pets entendem, enquanto largava tudo sobre o sofá e a pegava no colo, ganhando algumas lambidas e enchendo-a de beijos.

Matei a saudade apertando-a em meus braços, reparando em um pedaço de papel no chão, próximo à sua caminha.

Ela se desvencilhou do meu colo enquanto eu ia buscar os vestígios de alguma arte sua. Não era comum minha pequena fazer traquinagens, até porque eu evitava deixar algo à vista que chamasse sua atenção, principalmente papéis. Especialmente os que continham palavras grafadas em uma letra cursiva diferente da minha. Uma bem bonita, eu diria, mesmo que pouco pudesse ler delas em função do resultado dos dentes de Mel.

"... engano... lhe pertence... buscar..."

— Ótimo, senhorita Mel. Agora, de onde veio isso? E o que afinal quer dizer?

Olhei para ela, que já rolava no chão, colocando-se de barriga para cima, em uma clara demonstração de arrependimento.

Claro que eu não teria uma resposta sua ou de qualquer outra pessoa neste momento. Então larguei o papel mastigado sobre a minha mesa de trabalho e tratei de me livrar do vestido comprado especificamente para o evento de hoje, rendendo-me a uma ducha antes de me jogar na cama, não exatamente cansada, e sim entusiasmada pelos frutos colhidos com o meu trabalho.

Fechei os olhos e estabilizei minha respiração, indo em busca do relaxamento necessário para uma boa noite de sono. Só que, entre um inspirar e expirar, a figura de um dos diretores me veio à mente.

Eu já o conhecia, mas acho que me esqueci quão bonito e sexy era aquele homem. Casado, infelizmente, o que não me impediu de trazê-lo para as minhas fantasias, nas quais eu era deliciosamente esparramada sobre a mesa daquele restaurante chique enquanto ele se banqueteava com a minha boceta, lambuzando-se com o líquido que escorria e empapava seu queixo.

Meu corpo rapidamente se aqueceu com a imagem e desisti de buscar um brinquedo na gaveta ao lado, usando meus dedos para me masturbar, encontrando-me molhada o bastante para tornar o sonho ainda mais real.

Gemi baixinho e fechei os olhos, brincando com a minha lubrificação, besuntando os pequenos lábios antes de chegar ao clitóris inchado e durinho de excitação. Outro gemido me escapou. Meus quadris movendo-se, arqueando, como se ele estivesse ali, entre as minhas pernas, usando sua língua enquanto disparava palavras sujas que só aumentavam o meu grau de euforia.

Deslizei o dedo médio, preenchendo-me enquanto o polegar cumpria seu papel circulando o clitóris. Então sua imagem foi substituída por outra. A mesma que insistia em se infiltrar em minhas fantasias, mesmo que eu lutasse para esquecê-la. O único homem – ou deveria dizer rapaz, já que eu seguia com a recordação de dez anos atrás – que teve o meu coração. Aquele que despertou a paixão em mim, que nutriu mais do que uma simples admiração, que me fez sonhar antes de eu cair na real e confirmar que um cara como ele jamais ficaria com uma garota como eu.

Bufei, maldizendo-o e trazendo de volta a imagem do diretor gostoso, de seu sorriso confiante e olhar sedutor, de seu corpo esguio em um terno de alfaiataria, que permanecia sobre sua pele enquanto ele me devorava com sua boca e me levava ao limite.

Foi assim que terminei a noite, gozando sozinha mais uma vez. 

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⏰ Última atualização: Feb 28 ⏰

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Um Antigo Amor de VizinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora